Direção: Lee Daniels
Roteiro: Geoffrey Fletcher
Elenco: Gabourey Sidibe, Mo’Nique, Paula Patton, Mariah Carey, Lenny Kravitz
Fotografia: Andrew Dunn
Trilha Sonora: Mario Grigorov
Produção: Lisa Cortes, Tom Heller, Lee Daniels
Estúdio: Lee Daniels Entertainment
Distribuidora: PlayArte
Duração: 110 minutos
Ano: 2009
País: Estados Unidos
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
A opinião
Baseado no livro “Push” da escritora e ativista negra Sapphire, aborda a vida, no Harlem de 1987, da jovem Claireece “Precious” Jones (Gabourey Sidibe) que sofre as mais diversas privações. Abusada pela mãe (Mo’Nique), violentada pelo pai e grávida de seu segundo filho, é convidada a frequentar uma escola alternativa, na qual vê a esperança de conseguir dar um novo rumo à sua vida.
“Tudo é um presente do universo”, com essa frase inicia-se o segundo longa do diretor Lee Daniels (que possui a sua própria produtora).
Apresenta a sordidez da alma humana pela narração resignada e esperançosa das reflexões existencialistas da personagem principal que dá nome ao filme. A dialética da palavra lê o significado como uma contradição. Entre tantas desgraças, o título é a fantasia, a utopia de um futuro promissor e famoso. A idealização do que há de vir impulsiona a aceitação do agora.
Os quereres de um adolescente ‘normal’, mesmo sendo acima do peso, negra, grávida do pai, espancada pela mãe e massificada pela mídia. O básico comporta-se no desejo de ser magra, branca, bela, rica, poderosa e muito famosa, estando em um tapete vermelho lotado de fotografos. Esse ‘sonho’, que a tira da crua realidade, é a catarse para suportar a vida que leva e para sobreviver nas injustiças.
A frustração do impedimento do pós-presente complica-se com cada reviravolta que a empurra em um precipício sem fim. Mas sempre como proteger-se. E a determinação faz com que consiga subir. O universo joga a todo instante com sua vida, como se ela fosse uma marionete do sofrimento. O agravamento das situações permanece até o fim. “Vou ficar bem, porque eu sempre ergo a cabeça”, projeta-se. Até quando ela irá aguentar?
A camera realiza o trabalho de um documentário ficcional de observação. As rápidas e nervosas aproximações das imagens pretender ser propositais e amadoras, para uma inclusão do espectador no instrospecto dos personagens. O objetivo é ser técnico sem demonstrar isso. A manipulação da trama ‘brinca’ com cameras lentas fantasiosas ou em forma de videoclipes, porém os sons são referenciados em cenas próximos. A falta de simetria deste casamento com a imagem conduz quem assiste do outro lado da tela a um nível de experimentação e vivência extrema do que se está vendo, sem utilizar o enbarque total. Há um limite entre o sensacionalismo e o realismo, fazendo com que a percepção seja subliminar, quando mostra em poucos segundos o resumo das desgraças da família de Precious. Os sonhos e os desmaios atrelam-se a outro mundo que distorce o que está realmente acontecendo.
A fotografia escura, sombria e constrastada capta o enclausuramento das suas vontades, aprisionadas pela espera da liberdade. A crueldade dos outros a testa. “Estes testes parecem que não tenho cérebro”, diz sobre a prova para uma escola altenativa. A desconfiança do novo e do bom a afeta. Mas aos poucos acredita que pode mudar tudo. Uma nova família é apresentada, motivando a realizar os seus objetivos. Há um desespero em ‘subir’ e modificar rapidamente o caminho do agora.
A explosão acontece. Inevitável. “Estou cansada. O amor não fez nada por mim. Me bate, me estupra, me faz ficar doente, me chama de animal. Faz sentir-me inútil”. A analogia musical é destinada a todas as garotas “preciosas”.
A atmosfera do filme é diferente. Interna, sofrega, resignada. As interpretações viscerais e violentas complementam a vontade de assistir. Em contrapartida, Mariah Carey e Lenny Kravitz estão contidos, mas não ruins. O filete de esperança é o que move todo o conteúdo. Vale a pena ser visto, até porque é o primeiro papel principal de Gabourey Sidibe e ela dá conta sem clichês, sem momentos óbvios. Incomoda tudo. Quando acaba, não se sabe o que se viveu. Só sabe que viveu alguma coisa que despertou um visão de que não se deve reclamar das banalidades da própria vida de cada um. Pode ser auto-ajuda, faz a emoção acontecer, há julgamento de ações e preconceitos, pode ser tudo, pode ser nada ou pode ser mais um filme. Recomendo.
Recebeu quatro indicações ao Oscar: Melhor Diretor, Melhor Atriz (Gabourey Sidibe), Melhor Atriz Coadjuvante (Mo’Nique), Melhor Montagem. Vencedor do Prêmio do Grande Júri, Júri Especial e Audiência no Festival de Sundance e Toronto International Film Festival – People’s Choice Award.
Lee Louis Daniels, nascido em 24 de dezembro de 1959, é diretor, ator e produtor americano de filmes. Produziu “A última ceia (Monster´s ball)” com Halle Berry, “Tennessee”, com Mariah Carey e “O Lenhador (The woodsman), com Kevin Bacon. A sua primeira incursão na direção foi com “Matadores de Aluguel (Shadowboxer)”, com Macy Gray e Mo’nique. Já é costume utilizar astros da música em seus filmes. Preciosa é o seu segundo longa e não poderia ser diferente: tem Mariah Carey e Lenny Kravitz. Bill Clinton persuadiu Lee a realizar um filme a fim de encorajar as pessoas negras a votar. A campanha de 2004 teve LL Cool J e Alicia Keys.
Gabourey Sidibe tem 26 anos e interpreta Claireece ‘Precious” Jones. Fez sua estreia há pouco mais de um ano e já está indicada ao Oscar 2010 de Melhor Atriz.
“Infelizmente, a Precious era uma personagem familiar para mim. Eu reconhecia esta garota entre minhas amigas, familiares e pessoas com as quais eu não queria manter amizade. Eu também a reconhecia em mim mesma, mais jovem, quando tinha uns 16 anos”, disse Sidibe. “Acho importante que vítimas de abuso assistam ao filme para perceberem que não estão sozinhas. Elas têm o poder de mudar o seu destino. Espero que o filme passe esperança a estas pessoas.”
“Não tinha ideia de como era fazer um filme ou estar em cada cena. Nunca havia estado em um set de filmagens. Eu estava muito ansiosa e preocupada se eu saberia fazer o que o diretor me pedisse. Mas tivemos muitas reuniões para desenvolver uma confiança mútua. No primeiro dia de filmagens, eu estava apavorada, não havia dormido quase nada, e tinha que estar lá às 5 horas da manhã. Quando cheguei ao estúdio, olhei ao meu redor e vi toda a equipe, que eram quase umas 200 pessoas, e nesse momento senti a responsabilidade. O salário delas dependia do filme ser realizado. Sabia que não tinha mais volta, que teria que assumir o desafio. A ansiedade se foi no segundo dia, e a partir daí não via a hora de chegar às filmagens.
“É muito interessante dar vida às palavras de um roteiro e transformá-las em uma personagem. É fascinante. Gostaria muito de continuar atuando, de fazer uma comédia, ou comédia romântica. Talvez um filme de época. São vários estilos diferentes e eu gostaria de atuar em todos (risos). Eu terminei recentemente o meu segundo filme, “Yelling to the sky”, e foi uma experiência totalmente diferente de “Precious”. Meu próximo projeto será o piloto de uma série para a Showtime. Espero continuar sendo atriz por um bom tempo!”