HISTÓRIAS DO CINEMA EM QUESTÃO: AS INDÚSTRIAS DE SONHOS, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, é uma série de oito palestras que traçam um breve panorama dos cinemas brasileiro e americano, especialmente em algumas de suas manifestações mais representativas.
O evento quinzenal, toda terça-feira, de 23 de fevereiro e 01 de junho de 2010, que tem entrada gratuita, com a retirada de senhas uma hora antes, estimula a memória do cinema brasileiro e internacional pelos olhos de convidados que fizeram fama no meio cinematográfico.
OS MUSICAIS DO CINEMA: 90 ANOS DE CANTO E DANÇA, com João Máximo – Breve história dos musicais, o gênero que ajudou o cinema a falar.
Saroldi apresenta o último encontro como “Uma temporada sujeita a chuvas e resfriados. Um público atento que aprendeu muita coisa. O palestrante da vez é homem da Radio JB até o vento levar. São 15 livros editados. Estudante e amante da música popular brasileira. João Máximo não descansa. Lançando o livro “Para sempre Noel”, junto contém um disco de 14 músicas. Ele é o curador desta mostra e fecha o ciclo. João máximo, agora é com você, espero que dance.
João Máximo
Não vou nem cantar, nem dançar. Eu Poderia colocar “Gigi” cantando a canção título, poderia colocar o balé de “Americano em Paris”, que dura dezoito minutos. Não quero frustrar aqueles que tem seus filmes favoritos. Quero mostrar a transformação da evolução dos musicais. Nem sempre o cinema mudou para melhor. Um dos gêneros mais americano, junto ao Western (criado por Hollywoody. Os musicais foram importados da Broadway para Los Angeles. De origem européia. Os americanos transformaram em uma linguagem própria.
Foto “Cantor de Jazz”
A estreia aconteceu em Nova Iorque, em 6 de outubro de 1927, com Al Jolson (o maior astro da Broadway). “Cantor de Jazz” (The Jazz Singer, 1927). Ele foi o ator principal do filme e o primeiro a falar e cantar num filme, com sua voz gravada em banda sonora sincronizada. É um filme histórico. Foi um dos primeiros filmes a ganhar o Oscar, dividindo a premiação especial com O Circo, de Charlie Chaplin. É parcialmente falado. Processo que utiliza (o som já está no filme) ‘vitafone’ (toca disco acoplado ao projetor – sincronizado), diferente do ‘movietone’ (totalmente falado, cantado e dançado). “A última música” (Singing Fool) foi o segundo, que perdeu o posto para “Branca de Neve” com quatro milhões de dólares.
O objetivo era trazer todos os astros da Broadway, mas havia o medo e ou aventura do cinema falado. Havia ‘beldades’ californianas e ‘dançarinas’ não tão dançarinas assim. “A melodia da Broadway” (Broadway melody), precisa-se reparar no cantor, o camera, tão extasiado com o cenário, resolve o privilegiar e corta a perna das dançarinas. Olha o gracioso movimento dos braços, diz com ironia. Entra para a história de 1929 por usar cor e score (trilha sonora) original, totalmente falado. Havia permissão para cantar, no palco era mais natural. Mocinho canta para a mocinha. Pior filme a ganhar o Oscar de melhor filme.
Foto: O Balé de Busby Berkeley.
Em 1932, o cinema aprendeu a linguagem dos musicais. 17 de agosto é lançado “Ama-me esta noite” (Love me tonight), dirigido por Rouben Mamoulian. Musical sobre um alfaiate francês pobre que, confundido com um aristocrata, é recebido na casa de campo de um duque e se apaixona pela filha dele. Com Maurice Chevalier, Jeanette MacDonald, Myrna Loy, Charlie Ruggles, Charles Butterworth, C. Aubrey Smith, Elizabeth Patterson, Ethel Griffies, Blanche Friderici, Joseph Cawthorn. Ator centrado no sotaque inglês afrancesado. A cena, um pouco longa, foi a proposta do cinema de ter uma linguagem própria.
Ernst Lubitsch (Berlim, 28 de janeiro de 1892 — Hollywood, 30 de novembro de 1947), foi um ator e diretor de cinema alemão. Os seus filmes eram engenhosos e sofisticados, com uma maliciosa sexualidade. Em todos eles há o famoso “Toque Lubitsch”. Homem de teatro e operetas, ele cria o clima para o musical. Comédias românticas com muito charme, com muitas molecagens.
Foto “A alegre divorciada”.
Com o seu primeiro filme falado, The Love Parade (1929), com Maurice Chevalier e Jeanette MacDonald, Lubitsch afirmou-se mundialmente como produtor de comédias musicais (e foi indicado para o Oscar). The Love Parade (1929), Monte Carlo (1930) e The Smiling Lieutenant (1931) foram saudados pelos críticos como obras-primas do mais novo gênero emergente de musical.
A censura implicou com ele. Ele dá contribuição para o cinema. “Casa, comida e carinho” (Summer stock), com Gene Kelly. “Escuta: por que tem cantar? Por que não diz só ‘eu te amo’?”, pergunta a Lubitsch, ele responde “Eu não sei, só sei que é bonito”.
William Berkeley Enos, mais conhecido como Busby Berkeley (Los Angeles, Califórnia, EUA, 29 de novembro de 1895 – Palm Springs, Califórnia, EUA, 14 de março de 1976) foi um coreógrafo e cineasta norte-americano. Notável pelas coreografias elaboradas e extravagantes que criou no cinema, revolucionou o gênero musical nos anos que se seguiram a depressão. Em sua fase mais criativa trabalhou para a Warner Brothers, em musicais que se tornaram célebres (“Gold diggers of 1935”, “42nd. St.”). Nos anos 40 realizou vários filmes da Metro (Idílio em dó-ré-mi, 1942; Entre a loura e a morena, com Carmem Miranda, 1943; A bela ditadora, 1949), conseguindo efeitos espetaculares nas fitas de Esther Williams.
Foto “Cantando na Chuva”.
Com um currículo interessante, Busby organiza paradas militares. Como diretor de dança, utiliza dançarinas mais bonitas. A camera apresenta-se mais moderna. Ele adora muita gente dançando. “Mordedoras” (Gold Diggers of 1935), com Dick Powell, Adolphe Menjou, Gloria Stuart, Alice Brady, Hugh Herbert, Glenda Farrell, Frank McHugh, Joseph Cawthorn, Grant Mitchell, Dorothy Dare, Wini Shaw. Com simetria e inovação, experimenta o interessante. A coluna de Arnaldo Jabour o referencia como esquecido. Com a ajuda de Herculano, o técnico daqui do CCBB RJ, editamos imagens de sete filmes dele. Berkeley realiza um caleidoscópio com suas dançarinas, com violinos iluminados em um incrível jogo de luz e sombras. Com engenhosa habilidade, a censura achava que ele despia demais as atrizes.
Foto “West Side Story”.
“A alegre divorciada” (The Gay Divorcee, 1934). Dirigido por Mark Sandrich. Com Fred Astaire, Ginger Rogers, Alice Brady, Edward Everett Horton, Eric Blore, Betty Grable, William Austin, Erik Rhodes, Lillian Miles, Charles Coleman. Mimi Glossop quer se divorciar, por isso a tia dela contrata um profissional para fingir que tem um caso com a sobrinha. Durante uma viagem a Brighton, Mimi conhece o dançarino Guy Holden e pensa que ele é o seu falso amante. Musical de Cole Porter.
Hollywood reve os conceitos. Há uma lenda que um homem que viu o teste de Fred Astaire disse ‘Magro, feio, careca, não canta e dança um pouquinho’. Antes o nome era ‘Alegre divórcio’, porque o divórcio não pode ser feliz, mas a divorciada sim. Fred (que fazia sua própria coreografia) fez dois filmes em 1933 “Amor de dançarina” e “Voando para o Rio”, com parceria de Ginger Rogers (a melhor atriz de todas). Há a metáfora da dança. Quanto dança, conquista. Só trazer para a dança, a personagem muda de ideia.
Foto: Elvis Presley.
Musicais da Metro. Mais bem sucedidos. Melhor produção, melhor público. 1939 foi o ano “O Mágico de Oz”. Arthur Freed, nome artístico de Arthur Grossman (Charleston, 9 de setembro de 1894 — Los Angeles, 12 de abril de 1973) foi compositor e produtor cinematográfico americano. Foi um dos mais importantes produtores de cinema dos Estados Unidos, produzindo preferencialmente filmes musicais, gênero que ajudou a popularizar nos anos 1930 até os anos 1950.
Começou sua carreira no cinema compondo músicas para os primeiros musicais da Metro-Goldwyn-Mayer, estúdio para o qual trabalhou até o final de sua carreira, e depois foi promovido a produtor. Entre seus maiores sucessos, estão os filmes O Mágico de Oz (1939, como produtor associado não creditado), Uma Cabana no Céu (1943), Agora Seremos Felizes (1944), Ziegfeld Follies (1946), O Pirata (1948), Desfile de Páscoa (1948), Um Dia em Nova York (1949), Núpcias Reais (1951), Cantando na Chuva (1952), Gigi (1958), e muitos outros filmes musicais de grande sucesso.
Foto “Embalos de sábado à noite”.
A Metro não poupava um centavo. Cada setor do filme tinha um estúdio dentro do estúdio. Produz 43 filmes (quase 3 por ano). Vou partir para o óbvio. Poderia passar “Um americano em Paris”, mas apresento “Cantando na chuva” (Singin’ in the Rain, 1952). Dirigido por Stanley Donen, Gene Kelly. Com Gene Kelly, Donald O’Connor, Debbie Reynolds, Cyd Charisse, Jean Hagen, Douglas Fowley, Millard Mitchell, Rita Moreno, John Dodsworth. O filme retrata justamente a mudança do cinema mudo para o falado, que data de 1927. Dois famosos bailarinos precisam fazer a mesma transição em suas carreiras. Um se sai muito bem, enquanto o outro se aproveita da amizade com uma jovem que sonha em ser atriz, mas tem que trabalhar como dubladora de sua voz. Quando os dois bailarinos se vêem apaixonados por ela, no entanto, começa uma disputa pela sua atenção. Considerado o melhor musical. Um chuveiro gigante com uma quantidade oceânica, que chegou a faltar água na cidade. Junto à água, jogam-se litros de leite, para não fazer fazê-la brilhar. É uma brincadeira e paródia com o cinema falado.
Foto “O Rei Leão”.
Gene usou oito ternos para fazer a cena. “É a própria vida, a maior explosão de alegria”, diz Leonard Bernstein (25 de Agosto de 1918 – Nova Iorque, 14 de Outubro de 1990) foi maestro, compositor, e pianista americano. Ganhou vários Emmys. Bernstein foi o primeiro compositor nascido nos Estados Unidos a receber reconhecimento mundial, ficando famoso na direção da Filarmônica de Nova York, Os Célebres Concertos para Jovens na Tv Young People’s Concerts entre 1954 e 1989, e suas composições, West Side Story, Candide, e On the Town (musical). Uma das figuras mais influentes na história da música clássica americana, patrocinou obras de compositores americanos e inspirador das carreiras de uma geração de novos músicos.
Decadência. Os estúdios (Metro / Fox) não tinham mais como produzir. Não havia dinheiro. Começa a cair. Não havia mais músicos, mas sintetizadores. O gênero mudara. Havia o rock and roll. Restavam três caminhos. O primeiro era a cinebiografia. O outro: adaptar o sucesso da Broadway (igualzinho, com ligeiras modificações – o melhor exemplo “West Side Story”, utiliza os recursos do cinema para valorizar as danças do filme).
“Amor, Sublime Amor” (West Side Story, 1961), dirigido por Robert Wise, Jerome Robbins. Com Natalie Wood, Richard Beymer, Russ Tamblyn, Rita Moreno, George Chakiris, Simon Oakland, Ned Glass, William Bramley, Tucker Smith, Tony Mordente. Adaptação musical de “Romeu e Julieta”, passada nas ruas de Nova York, onde gangues rivais (os Jets e os Sharks) batalham por território e respeito. Em meio à guerra cotidiana, o ex-líder dos Jets, Tony, e a irmã do líder dos Sharks, Maria, se apaixonam. O musical é de 1957. O baile no Ginásio começa com uma ciranda. Há conflitos de melodias: manbo e jazz. Como um Romeu tão ruim e uma julieta sem carisma, consegue o filme ganhar tantos Oscar? A dança é fundamental e eficaz para contar a história. A curiosidade é que Elvis Presley seria o protagonista Tony (Romeu).
O terceiro caminho é o pop. Os de Elvis Presley, os inspirados na dança do momento (John Travolta em “Embalos de Sábado à noite”, os de Rock mesmo (sexo, drogas e liberação sexual em “The Rock Horror Picture Show”, os da Disney “O Rei Leão” (que depois fizeram o caminho oposto – primeiro filme, depois Broadway). Há “Hair”, “Grease”, Mama Mia”. Há Michael Jackson.
Século XXI. Há “Moulin Rouge”, muito bonito não só pela Nicole Kidman. “Chicago”, “Nine”. Bob Fosse morreu com 67 anos. Um coreografo genial. Reiventou a dança americana usando o pop e o tradicional. O que dá pra dançar. Era um cineasta também. Sabia dirigir atores e conduzir uma camera. Foi o único a ganhar os três principais prêmios: Tony, Emmy e o Oscar, não que os prêmios sejam atestados de excelência. Em “All That Jazz” (1979), com Roy Scheider, Jessica Lange, Leland Palmer, Ann Reinking, Cliff Gorman, Ben Vereen, Erzsebet Foldi, Michael Tolan, Max Wright, William LeMassena. O diretor e coreógrafo, de televisão, teatro e cinema, conta sua própria história ao filmar a sórdida vida de Joe Gideon, uma dançarino viciado em drogas e misógino. A autobiografia possui uma simetria harmoniosa, ele prevê o que acontecerá com ele, a relação com a morte. Com trilha de George Benson, é a minha homenagem a ele. O show deve continuar. Pronto, é isso.
A plateia pergunta e faz observações. “Sete noivas para sete irmãos” (Seven Brides for Seven Brothers, 1954), de Stanley Donen. Com Howard Keel, Jane Powell, Jeff Richards, Tommy Rall, Russ Tamblyn, Marc Platt, Matt Mattox, Jacques d’Amboise, Julie Newmar, Virginia Gibson.
Andrew Lloyd Webber (Londres, 22 de março de 1948) é um compositor e produtor musical britânico, oriundo de uma família de músicos, e por muitos considerado um dos compositores teatrais de maior renome do fim do século XX. É autor de obras que mantiveram com grande êxito tanto na Broadway com em West End. Durante a sua carreira, produziu quinze musicais, dois filmes, entre outras obras, tendo acumulado ainda um número de honras e prêmios, incluindo sete Tony Awards, três Grammy Awards, um Oscar, um International Emmy, seis Olivier Awards, e um Golden Globe Award. Várias das suas músicas, notavelmente “I Don’t Know How to Love Him” de Jesus Christ Superstar, “Don’t Cry for Me, Argentina”, de Evita, “Memory” de Cats, e “The Music of the Night” de O Fantasma da Ópera tomaram grande amplitude e reconhecimento mundial. O que mais ganhou dinheiro com musicais.
Gene Kelly. Mais atlético, ele era contra o Macartismo (descreve um período de intensa patrulha anticomunista, perseguição política). Gostava de espaços. Considerava-se um proletário. Diferente de Fred Astraire que era um pouco mais leve.