Pó
Uma experiência sensorial
Por Fabricio Duque
Durante o Festival do Rio 2010
“Pó”, exibido no Festival do Rio 2010, proporciona uma experiência sensorial ao espectador. Partindo da premissa de ser um filme catástrofe existencialista, já que não há mais ninguém no mundo, apenas um casal de irmãos gêmeos, não se espera nada. Sabe-se que esses personagens podem realizar o que quiserem e a qualquer hora, não necessitando respeitar convenções e regras sociais, tudo porque não há a figura do outro como olhar julgador. Gêmeos costumam vivenciar os mesmos sentimentos. E é assim que se apresenta a genialidade do roteiro, extremamente metafórico. Os dois vivem um mundo próprio, sem a necessidade de ninguém ao lado deles. Eles ditam as suas liberdades, não vendo outras pessoas e vivendo ações naturalistas. Seguem o caminho com iluminação à luz de velas, proporcionando uma excelente fotografia, tomando banho no rio, buscando lenha.
Um retorno ao bucolismo não evoluído tecnologicamente. Na verdade, em “Pó”, eles utilizam a máxima do psicanalista francês Jacques Lacan, que vê o Eu como instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho. Eles “exterminam” os outros de suas mentes, conservando apenas lembranças, para a sobrevivência do eu sozinho, neste caso gêmeos. Inferimos que o outro não morreu literalmente, mas que o que se apresenta no filme é o aprisionamento de um mundo. A câmera transporta quem está do outro lado da tela a compartilhar essas ideias e sentimentos interiorizados.
Quando um outro ser aparece na vida deles, o inicio do amadurecimento acontece. A crueldade, sofrimento, egoísmo, culpa e raiva são experimentadas. A figura de linguagem descrita acima torna-se cada vez mais presente. O estranho mata a vaca que fornece o leite. O sexo sobrepuja-se à pureza. A maldade introduz-se pela figura do certo e ou errado. A câmera de “Pó” participa de todo esse processo quando desfoca e ou mantém o foco na sutileza de não se precisar utilizar palavras. O silêncio busca a elipse-verborragia.
A inteligência e perspicácia estão em cada fotograma. A vida simples e o novo necessitam ser vividos. “Ele era idosa”, sobre a morte da mãe do estranho, que se culpa pela omissão de sua presença física. Quando a novidade passa, o retorno é visionado. Mata-se o elemento novo. Concluindo, é um filme fantástico, sóbrio, com poesia realista. A filosofia, sutil, explora a espera das ações e a naturalidade dos sentimentos, de que do pó viemos para o pó iremos. Vale muito a pena ser visto. Excelente.
o realizador Max Jacoby nasceu em 1977, em Luxemburgo. Formou-se na Escola Internacional de Cinema de Londres em 2000, com o curta Babysitting. Realizou mais dois curtas-metragens, “The Lodge” (2004) e “Butterflies”, vencedor do prêmio UIP de Melhor Curta-metragem Europeu no Festival de Veneza de 2005. “Pó” é seu primeiro longa.