Pássaros de Verão
Intenso e grandioso
Por Pedro Guedes
Durante o Festival do Rio 2018
“Pássaros de Verão” é um filme bem-sucedido de maneiras distintas: por um lado, o filme serve como um retrato bastante eficaz de como uma cultura específica conta com seus costumes particulares, mantém sua visão a respeito do casamento e procede quando duas famílias resolvem brigar; por outro, o longa também funciona ao estabelecer a atmosfera da história, que é narrada pelos diretores Ciro Guerra e Cristina Gallego como uma narrativa longa e grandiosa que se torna mais agressiva à medida que se desenvolve.
Separando a trama em cinco capítulos bem definidos, a dupla de cineastas leva o espectador a sentir na pele o drama dos conflitos travados pelos protagonistas, que envolvem intrigas, mortes e apreensões cada vez maiores. O roteiro, escrito por Maria Camila Arias e Jacques Toulemonde Vidal, se passa na Colômbia dos anos 1970 e acompanha a vida de uma família de Wayuu (um grupo de nativos localizados na Península de La Guajira) que está prestes a casar uma de suas integrantes. Mas é claro que o contexto daquele momento – que envolve o ascendente tráfico de drogas na Colômbia – acaba impactando o cotidiano dos personagens, que entram de uma forma ou de outra no crime organizado e levam à inevitável guerra entre os diferentes clãs daquela região.
Retratando com naturalidade os costumes que indicam as tradições que os Wayuu carregam há tantos anos, “Pássaros de Verão” conta com um design de produção rico e admirável que ilustra com precisão a cultura dos protagonistas, fazendo isso através de figurinos e cenários que convencem como itens pertencentes àquele grupo étnico. Ao mesmo tempo, a direção de Ciro Guerra e Cristina Gallego constrói brilhantemente a atmosfera sufocante que envolve a narrativa, mantendo o espectador sempre apreensivo quanto ao que ocorrerá a seguir.
Esta é uma obra que traz um personagem reagindo arrogantemente a uma ameaça de morte e sofrendo consequências reais em função disso, contrariando qualquer expectativa de que este possa ser um filme suave ou previsível. E é por isso que, mesmo perdendo ocasionalmente o ritmo e tornando-se mais cansativo que o ideal, o projeto ainda assim revela-se digno de elogios.