Percepções sobre o livro Até o Último Filme, de Ricardo Cota
Cotas literárias de memórias e fantasias
Por Fabricio Duque
Há uma famosa teoria subjetiva, cunhada por este que vos fala, de que para qualquer autor, escrever qualquer obra, é preciso que, antes de tudo, morra. Que encerre lacanianamente sua existência. Tornando-se espectro e invisível aos olhos ávidos e julgadores dos outros. E assim, desprovido de todas as demandas sociais, esse autor consegue encontrar a mais genuína e essencial das verdades, mesmo que tudo seja de forma contraditória por meio de mentiras acreditadas, ora exageradas, ora apropriadas de vidas alheias, ora até mesmo de autoproteção, como é o caso de Machado de Assis e sua “Obras póstumas de Brás Cubas” e/ou “Descobri que Estava Morto”, de João Paulo Cuenca. Seguindo todo esse caminho, o jornalista Ricardo Cota lança seu livro “Até o Último Filme”, uma “novela” metalinguagem, em que brinca com o real e a fantasia autobiográfica. Até que ponto tudo não é verdade? Provavelmente nunca saberemos, porque assim como o escritor personagem falecido do romance citado anteriormente, neste Cota também mata seu interlocutor. Para salvá-lo da vergonha ou para contraculturar? Ali, o ser ficcional pode ser o que quiser. Pode ter toda e qualquer memória que desejar, e ainda ser embasado e explicado por dois “depoentes”, Fabiano Cardozo e Ricardo Largman, visto que nos capítulos não há referências sobre filmes, lugares e pessoas. Pois é, este livro é uma grande brincadeira com seus leitores. Uma pegadinha. Um “quiz” cinéfilo que testa conhecimentos. Será que estamos aptos para tanta bagagem intelectual?
Outra maestria de “Até o Último Filme” é a profusão de frases, de humor sarcástico ao ingênuo. Quem conhece Ricardo Cota sabe que pelo menos isso ele não delegou a sua personagem. Aqui estão de forma ficcional seus amores, seus amigos, suas dores, seus anseios, suas conquistas, suas decepções e seu “covarde suicídio”, este por colocar na conta do outro o querer de se desconectar completamente deste mundo terreno. É, virar fantasma é fácil né Sr. Cota? Com humor perspicaz, linguagem mental de fluxo contínuo e uma pseudoingenuidade para juntar tudo, o livro curto de apenas cem páginas nos coloca na cabeça de Ricardo Cota, perpassando tudo, logicamente, pelo Cinema em suas predileções e guity pleasures. E sendo uma novela, mais popular, mais orgânica, mais caseira e mais orgânica que os romances. E um livro de estreia, que, entre “cinéfilos medíocres e presunçosos”, “liturgia comportamental”, “vertentes da escadaria”, “elementos da gramática cinematográfica”, “trivialidades domésticas”, “doses de negligência compartilhada”, “tremendos beijos de lentes”, “expansividade em alta pelo álcool”, “divisionismo”, “dimensão épica”, “iconografias”, “elegias barrocas”, “feijoada antropofágica”, “cinismos indisfarçáveis”, “heróis sem memórias”, “elogios hiperbólicos”, “submissão colonizada”, “conversas atravessadas”, “inópias”, “gongóricas idiotices”, “risos esgarçados”, “gargalhadas desinibidas”, “bagunças generalizadas”, “desafio ao sadismo do espectador”, “tragédias de um homem ridículo”, “melancolias habituais”, “ilações”, “enredos fellinianos“, “enxadrismo existencial”, “cinemas despedaçados”, “doses parcimoniosas”, “desmesuradas expectativas”, “ideias de desenraizamento” e “verve felina”, consegue chegar a seu objetivo: o de gerar no leitor a estranheza, por um lirismo coloquial. E assim, ao ler “Até o Último Filme” nós reencontramos nossas essências perdidas de seres enquanto humanos, re-acessando nossas felicidades desmedidas mitigadas de “se” e “nãos”.
“Este é um livro escrito com a delicadeza do amor. Ricardo Cota nos apresenta uma história carregada de lirismo, uma reverência à sétima arte comparável a Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore,. É uma obra preciosa, como são as cenas, ambientes e personagens que se fundem na sequência dos parágrafos do livro. O autor nos guia por um roteiro fantástico, com cortes suaves, balizando-nos com imagens que despertam uma profusão de sentimentos e nos lembra, a cada página, que, assim como nos sonhos, tudo faz sentido na tela e que o cinema pode ser até maior do que a própria vida. Livro de estreia de Ricardo Cota, um afiado e experimentado crítico, Até o último filme é sobretudo uma declaração de amor ao cinema em que as palavras celebram imagens e vice-versa. Portanto, com o perdão do trocadilho: veja o livro, leia o filme”, escreveu Bruno Thys, jornalista e editor. Compre o livro AQUI!