Ficha Técnica
Direção: Grant Heslov
Roteiro: Peter Straughan, baseado no livro de Jon Ronson
Elenco: George Clooney, Ewan McGregor, Kevin Spacey, Jeff Bridges, Stephen Lang, J. K. Simmons, Robert Patrick, Stephen Root.
Fotografia: Robert Elswit
Trilha Sonora: Rolfe Kent
Produção: George Clooney, Grant Heslov, Paul Lister
Distribuidora: Sony Pictures
Estúdio: BBC Films / Smoke House
Duração: 90 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2009
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
A opinião
“Há mais verdade nisso do que você acreditaria”, com essa frase inicia-se a mais nova produção de George Clooney, que também integra o elenco de grandes nomes como Kevin Spacey, Jeff Bridges e Ewan McGregor, e do mesmo roteirista de “Boa Noite, Boa Sorte”. A atmosfera estranha e surreal explicativa remete a característica principal da filmografia dos Irmãos Coen.
A narração explica os fatos e os diálogos surreais. O que se vê é uma tentativa irônica de apresentar o tema em questão: uma critica afiada sobre o objetivo da guerra. “Eu matava animais com o poder da mente”, diz-se a um jornalista, o mesmo que narra a trama e que tenta compreender no que está se envolvendo. Ele investiga uma historia de homens que encaravam animais e os levavam a morte.
Aborda a vida do jornalista Bob Wilton (Ewan McGregor) que está procurando uma boa história para contar, quando conhece Lyn Cassady (George Clooney), uma figura misteriosa que afirma fazer parte de uma unidade experimental do exército norte-americano. Segundo Cassady, o Exército da Nova Era está mudando a maneira como se lutam as guerras. Uma legião de “Monges Guerreiros” com incríveis poderes paranormais consegue ler a mente do inimigo, atravessar paredes e até mesmo matar uma cabra com um simples olhar. Como o criador do programa, Bill Django (Jeff Bridges), desapareceu, a missão de Cassady é encontrá-lo.
O roteiro utiliza o acaso para modificar o percurso do caminho que está exibindo ao espectador. O jornalista em questão (Ewan McGregor) surpreende-se com o final de seu casamento, que é tratado de forma quase igual ao do último filme dos Irmãos Coen “Um Homem Sério”. Há o politicamente correto da educação hipócrita de uma sociedade, porém no filme do diretor Grant Heslov, o personagem principal busca a visceralmente a libertação. E como conseqüência deste desespero, ele assiste a um discurso do Presidente Bush e decide ir a guerra para mostrar a sua ex-mulher que existe um sentido na vida dele. O motivo pessoal impulsiona o real. Outro elemento de referencia aos filmes dos Irmãos judeus é a escolha de uma desta família para coordenar a seleção das músicas de artistas “The Small Faces”, “Generation X”, o rock clássico de “Boston”, “Dusty Springfield” e outros.
A abertura não julga. Coloca as imagens de guerra, da vida da guerra e o pós guerra, como a destruição da estatua de Sadan Hussein, sendo acompanhada por uma música alegrinha do grupo Supergrass. O deboche está nos diálogos alienados de entendimento.
É uma grande brincadeira, despretensiosa, inspirado no livro de Jon Ronson. Os americanos vivem a guerra a fim de externalizar a própria luta recorrente e constante. “Cuidado com os seus desejos”. Aos poucos, novos elementos são introduzidos no roteiro que permite que quem esteja do outro lado da tela do cinema possa fortalecer o entendimento da estranheza apresentada logo no início. “A visão remota” conduz a acreditar no absurdo não tão absurdo assim do que se transmite: Jedis (Guerra nas Estrelas), super poderes, invisibilidade. “Quando entender a ligação entre observação e realidade, você pensa em visibilidade. É um vazio”, diz-se explicitando a metáfora dos que não se questionam, preferindo viver como ovelhas seguindo os seus pastores.
“Sou jornalista, vou onde a historia está”, diz. Enquanto a trama acontece, há, para cada história paralela, uma digressão explicativa do porquê. O que ocasionou as consequências dos atos e daquelas excentricidades. “Sua sensibilidade é força”, divaga-se em um tom radical.
Um combatente procura o sentido de toda a batalha. Ele busca comunidades hippies e liberta-se de imposições massificadas por conhecidos e ou sociedade. Os banhos coletivos, as provas de forças do braço mais forte, o envolvimento com a new age e outras ações que exacerbam a vontade são experimentadas para a renovação, ao saber da verdadeira importância do que esta fazendo e descobrir técnicas novas a fim de dominar o inimigo sem violência. “Se livrar dos clichês estúpidos”, diz-se.
O jornalista cruza a linha da loucura. A critica de quem é o louco em questão. Se forem os alienados fantasiosos ou se são os realistas alienados. A ironia dilacera e impõe uma nova percepção sobre o que isto tudo representa. Tudo está sem sentido e em um circulo vicioso. O vazio gera a guerra que gera o vazio do ser humano que gera a guerra vazia. O individuo procura algo que não sabe. A superficialidade mitiga a vivência, limitando o pensamento.
Objetiva-se criar monges guerreiros da paz, que saúdam o sol, que não se preocupam com a sexualidade, que acreditam que podem aumentar os poderes da natureza. Que eles possam ressuscitar os princípios dos índios americanos. É um retorno a simplicidade e a batalha justa. Tornar-se armas psíquicas. “Descubra qual o seu destino e o rio te guiará”, cria a inferência da auto-ajuda, mas o que se deseja realmente transpassar é a mesma cartilha que o povo mais antigo da América usava.
O longa apresenta-se como um misto de ações e expressões xiitas com imagens psicodélicas que salvam pela catarse a realidade do nada. “Qual a frase francesa mais famosa: eu desisto”, diz-se com picardia de humor negro. “Há sempre maças podres em todos os lugares”, rebate-se como uma redenção.
Entende-se a estranheza quando visualizamos o quão deficitário o ser humano é. Falta-lhe o livre arbítrio sem culpas e sem massificações passadas. Os indivíduos projetam a utopia da invencibilidade na cultura pop, absorvendo os conceitos construídos e sem ressalvas. O estagio de se encontrar perdido, sem objetivos reais faz com que outros possam domina-los por mensagens subliminares e por lavagens cerebrais do que se que deseja ouvir.
A câmera interage e explica visualmente o roteiro. “Ele acreditava tanto em uma coisa que podia morrer por ela”, revelam-se as rachaduras das certezas dos humanos em uma referencia a prisão de Guantanamo. “Nada é muito real”, diz-se como um efeito da droga LSD, que ora salva da realidade e que ora aliena a alienação da guerra e de cabras libertadas. “Mais do que nunca precisamos dos Jedis”, finaliza-se.
Vale a pena ser visto. A critica ao sentido da guerra utilizando a cultura pop utópica de Guerra das Estrelas diverti e faz pensar. Recomendo. Foi exibido no Festival de Veneza 2009.
Grant Heslov nasceu, em Los Angeles, Califórnia, em 15 de maio de 1963. É um ator, produtor, roteirista e agora diretor americano. Atuou em “True Lies”, “Inimigo do Estado”, “O escorpião rei” e “Boa noite, boa sorte”, que também foi roteirista e que foi indicado ao Oscar. “Homens que encaravam cabras” é a sua estréia na direção.