A opinião
Convidada Especial: Marise Carpenter
Aos mistérios que rondam a alma humana e que são insondáveis a nós mesmos só resta tratá-los com poesia e melancolia. É uma forma de complacência e de humildade diante da grandeza da incompetência do ser humano de se libertar de sua mais crua natureza: a barbárie. Não fomos feitos para o amor. Isso vem depois e agora, vem bem depois. Tentamos e tentamos mas no fim não dá certo. A aproximação entre humanos só exige ser (anti)social. Ser humano é estar só em seu próprio mundo e enfrentar o medo de que em algum momento a suposta harmonia do universo se rompa, os planetas se desalinhem, o sol se apague, a gravidade não se agrave mais e tudo se desequilibre e suba. E suma.
A poesia salva porque aplaca a feiúra mas a melancolia surge porque vê que não há solução. Não resolve ser grosseiro assim como também não resolve ser sorridente. Não resolve desagradar assim como também não resolve agradar. Enganamo-nos que seja suficiente raciocinar, inventar e produzir coisas. Nisso é que somos bons. Coisar, para a vida passar rápida e não percebermos o ruído crescentemente aterrador de nosso mundo interior. Um ruído que nos diz como somos pequenos, frágeis, fracos, impotentes e nos defendemos utilizando a única arma que temos: a imaginação.
Melancolia causa a falta de interesse do homem pelo mundo e por tudo que o cerca. Perde-se a capacidade de amar e de se amar. No filme de Lars Von Trier a melancolia é simbolizada por um Planeta. E muito mais…
Melancolia vai muito além do que é “dito” na tela e na maioria das opiniões particulares aqui expostas, tanto por parte da crítica quanto por parte dos não críticos. Na primeira parte o filme pretende mostrar, através da personagem Justine, no que se transformou o ser humano, vivendo na contemporaneidade uma vida fútil e vazia e quem a isso observar estará sujeito a pagar um preço: o da melancolia (e não da depressão). Na segunda parte vem mostrar através das personagens de Claire e seu marido o outro lado, o das pessoas que fogem dessa realidade e vivem da ilusão que ofusca. Com a aproximação de Melancolia, um planeta na rota da Terra, o filme liga as duas partes mostrando o significado da melancolia no ser humano: a sua destruição por falta de interesse pelas coisas do Mundo provocando uma ruptura com o mesmo. E muito significativamente o diretor dá nome ao planeta que se aproxima de Melancolia.