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Operação Natal

Uma fábula-parábola que explica o ter e o ser dos Estados Unidos

Por Fabricio Duque

Operação Natal

No mesmo dia de anúncio da vitória em mais uma eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos da América, aconteceu para a imprensa a exibição do filme “Operação Natal”, que estreia amanhã nos cinemas. Talvez isso seja a melhor metáfora sócio-política para explicar os porquês de desse “o aprendiz” ter vencido de novo. Sim, todas as respostas são bem simples e vêm por simbolismos já internalizados desse imaginário popular, especialmente aos imigrantes trabalhadores (de “devoção” de outro mundo). Mas a principal questão mesmo é a estrutura da tradição, da figura da família e de seus valores conservadores, que existem para corroborar toda essa construção de fantasia social. Papai Noel, a representação da bondade, do altruísmo e da gratidão, sentimentos que permeiam a celebração do Natal, é mais um desses artifícios mágicos que os Estados Unidos precisam recorrer para manter o equilíbrio da crença no tão rachado “Sonho Americano”. Ainda que “Operação Natal” busque brincar, em tom de “zoação” dos elementos derivativos da aura construída no dia 24 para 25 de dezembro, mesmo assim esta obra não poderia ser mais que genérica, especialmente pela condução de padrão narrativo mais pré-fabricado. 

Aqui em “Operação Natal” temos uma ode à família e a característica genuína de todo e qualquer norteamericano, patriota ou não, traz em seu mais aprofundado âmago: o de não ser “perfeito” e sim “excepcional”. Isso faz com que os erros cometidos tenham força subjetiva, de “fins que justificam os meios” e de “espera” do perdão. A tradição do Natal, as ideias dos super-heróis e outros simbolismos, como Coelhinho da Páscoa, acabam por ser  uma extensão da crença de estarem protegidos. Um argumento concreto que se pauta na fantasia do abstrato para embasar essa “excepcionalidade” toda. É permitido então ir além de tudo para “salvar a humanidade”. Por exemplo, o início de “Operação Natal” conta as trapaças de uma criança. A missão do ser do polo norte é tentar até o fim a redenção e o retorno do virtuosismo. Essa criança, que leva esse caráter para a fase adulta, pode ser perdoada pela empatia e de forma humanizada. Sim, é aí que a narrativa de “Operação Natal” se desenvolve: mostrar a vulnerabilidade, imperfeição e o lado lado excepcional desse pequeno enquanto indivíduo social. 

“Operação Natal” pode inclusive ser visto como uma “lavagem cerebral” e como uma maneira de perpetuar valores familiares passados pela naturalização da identificação. De que esse “novo politicamente correto” não se aplica quando se está humanizando um ser humano (como roubar pirulito de uma criança). Foi aí, por isso, que Trump ganhou. Quando o filme referencia o sonho de se ter um Hot Wheel e de se materializar uma “Mulher Maravilha”, é incutido que o carro é questão de homem e que ter um mulher como propriedade é normal, com um que de “Mulher Nota Mil”. “Operação Natal” pode parecer inofensivo, mas é uma artimanha tóxica que manterá Trump no poder. Papai Noel também é uma mentira. Talvez a primeira mentira que os pais, “legalizados” pela sociedade contam a seus filhos. É a projeção da ilusão que torna adultos pragmáticos, descrentes de tudo, na defensiva o tempo todo contra possíveis verdades particulares e na “missão” (em tom de “007″) de sempre antever planos mirabolantes para se conseguir seguir esse modelo imposto de sucesso, entre músicas famosas de Natal na voz de Mariah Carey, entre a neve e entre limitadas lógicas. O Natal “conserta” um ano inteiro de agressividade, surtos por futilidades, maldades e crueldades que uns lidam com outros. É um respiro. Uma trégua. É, por esse lado, talvez seja bom ter essa “data-fantasia”. Uma versão “The Purge” ao contrário. É o espírito de Natal. Até para um “mercenário sísmico” (cético e “sem escrúpulos”) que “entra” no processo para transformar suas falhas em benesses (ele precisa “acreditar”). E “espalhar bons sentimentos” e “ofertar sacrifício”. 

“Operação Natal”, de Jake Kasdan (“Uma Professora sem Classe”, “Sex Tape”, “Jumanji: Bem-Vindo à Selva”), imprime em sua narrativa o realismo fantástico do “mundo mitológico” em portais e em tom de auto-ajuda. Essa parábola mágica faz as renas voarem na velocidade da luz, Trolls, anãos e o “Das Neves” estar em em todos os lugares do mundo na mesma hora, com direito a uma orquestra digna de John Williams. E mais uma vez, a vilã é muito mais interessante que o mocinho (ainda que desconstruído e modernizado dentro da moralidade e ética atuais). Sim, “Operação Natal” é bem genérico, mas é divertido. Cumpre seu propósito de ser “Red One”. De ser uma obra “fast food” para se assistir em família. De “desligar o cérebro”. Ainda que faça seu trabalho de realizar uma “lobotomia” por mensagens sublimares. Assim, entre possessão de corpos, acontecimentos bizarros, ordem estranha, entre a “bruxa do natal” (que pune os “levados” – olha, gostei dela!), entre bonecos de neve malvados e outros seres mutantes, “Operação Natal” ainda constrói seus diálogos de forma expositiva, didática e excessivamente explicada. E assim na redenção máxima da vida dá plenos poderes a Trump para continuar governando como sempre governou, incluindo com as inúmeras rachaduras na neve que mais lembram uma ação “Fracking”. Pois é, Jingle Bells “acabou o papel”! 

2 Nota do Crítico 5 1

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