Direção: Geraldo Motta / Co-Direção:Gisella de Mello
Roteiro: Geraldo Motta , Luciana Hidalgo, José Joffily
Elenco: Flávio Bauraqui, Irandhir Santos, Maria Flor
Fotografia: Kátia Coelho
Montagem: Karen Akerman
Música: Egberto Gismonti
País: Brasil
Ano: 2010
Duração: 80 minutos
A opinião
“O Senhor do Labirinto” aborda um momento na vida de Arthur Bispo do Rosário, que nasceu em Japaratuba, 1909 ou 1911 e faleceu no Rio de Janeiro em 1989). Ele, “herói brasileiro”, dito pelo próprio ator, foi artista plástico considerado louco por alguns e gênio por outros, a sua figura insere-se no debate sobre o pensamento eugênico, o preconceito e os limites entre a insanidade e a arte, no Brasil. O longa inicia-se com narração, de Marcelo Serrado, explicativa e definitiva do período que se deseja transpassar. A fotografia saturada ao brilho, usando cores fortes). A trama acontece a partir dos “misticismos e alucinações” do personagem principal. Com sentimentos de perseguição (por causa da culpa religiosa), entra Flávio Bauraqui, o protagonista, que vive a “loucura” do Bispo totalmente entregue e visceral. É compreensível que derrape um pouco com o clichê e a afetação, mas não é isso que incomoda, e sim a maquiagem que de tão amadora chega a ser tosca e extremamente mal constituída. O diretor disse que não houve preparação de elenco “Nós não buscamos o Flávio, mas o Bispo, o inesperado”. Há a imagem simétrica em movimento, fornecendo ao espectador uma sensação cinematográfica satisfatória. Arthur foi diagnosticado com esquizofrenia. A sua história liga-se a da Colônia Juliano Moreira, instituição criada no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX, destinada a abrigar aqueles classificados como anormais ou indesejáveis (doentes psiquiátricos, alcóolatras e desviantes das mais diversas espécies).
Lá, a medicina psiquiátrica acreditava que choques elétricos e gritos curavam os internados. Vive-se um ambiente violento, sujo, degradado e com regras que não respeitam a dignidade humana. Isso é transmitido ao que está do outro lado da tela de forma realista. Capta-se a sensibilidade e os detalhes ingênuos do personagem em questão. A doença faz com que ele acredite incondicionalmente em ser um santo e que assim salvará o mundo (dele). Alguns, um guarda por exemplo, vivido por Irandhir Santos, aposta na habilidade artística de Arthur, que o humaniza. Intercala-se épocas, ambientando a atemporalidade. “No meu mundo não vai ter ruínas”, diz-se. Maria Flor, a psicóloga, convive com ele e sofre por não conseguir entendê-lo, já que se comporta como excêntrico de um universo místico. Há a inclusão de um trecho do documentário do real Bispo, pela filmagem de um pesquisador no próprio filme. “Não sou artista, faço para Deus, porque sou obrigado”, diz-se. Referencia-se Romeu e Julieta e o teatro poético. “A fantasia é um modo de entender a realidade”, finaliza-se. Concluindo, é um filme com entrega de toda a equipe. Mas há elementos que não se equilibram na narrativa. As interpretações ora convencem, ora não, ora são contidas e belas, ora são exageradas e caricatas. A maquiagem é ruim. Portanto, é um longa bom, que atende ao resultado, com muitos percalços, mas atende.
A Sinopse
O Senhor do Labirinto conta a história de Arthur Bispo do Rosário, sergipano de origem simples, vítima de esquizofrenia, que viveu assombrado por misticismos e alucinações nas instituições psiquiátricas pelas quais passou entre 1938 e 1989, ano de sua morte. Durante seus períodos de clausura na Colônia Juliano Moreira (Rio de Janeiro), onde viveu por 50 anos, Bispo do Rosário produziu um acervo de bordados, estandartes e assemblages que postumamente ganharam o Brasil e o mundo com seus insuspeitos traços de arte pop contemporânea e a pungência de sua trajetória.
Geraldo Motta nasceu em Pernambuco, em 1964. Mestre em Filosofia, dirigiu e co-produziu o premiado longa documental O Risco, que participou de festivais nacionais e internacionais e da agenda cultural do Ano do Brasil na França. Desde 2002, atua no mercado de filmes publicitários. Gisella de Mello nasceu no Rio de Janeiro, em 1963. Há 25 anos no mercado cinematográfico, dirigiu e produziu os premiados curtas Celia & Rosita e Tempo de Ira.