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O Roubo do Século

Mais um roubo

Por Laisa Lima

O Roubo do Século

Se Al Pacino em “Um Dia de Cão” (1975), de Sidney Lumet, conseguiu a façanha de tornar um roubo teoricamente rápido em sua execução, em mais de 12 horas pautadas em negociações e reviravoltas, os demais assaltos, bem feitos ou não, possuem uma certa margem para se considerarem “atribulados”. Um previsível policial esperto ou um refém fujão, por exemplo, passam batidos na caracterização do que seria realmente um desenvolvimento complicado para uma ação tão corajosa quanto criminosa, mas confeccionar uma maneira de mostrar tal feito só que revestido em tela de cinema, é outro desafio. Ainda mais quando se lida com o peso do título de “O Roubo do Século” (2020), de Ariel Winograd.

O ano era 2006. O local, Banco Rio, Buenos Aires. Os componentes do ato, seis. O estrategista, apenas um. Os policiais, mais de 300. O objetivo: constituir o roubo tido como o maior da Argentina. Para isto, Fernando Araujo (Diego Peretti) reúne um time de homens, como Luis Mario Vetette (Guillermo Francela), e se estabelece como mandante do futuro evento, arquitetando cada pedaço e dividindo entre os colegas as funções braçais (e psicológicas), dando um pontapé para o início do que se intitularia como “O Roubo do Século”. E, como em qualquer convivência próxima, o papel derivado a cada pessoa interfere diretamente no resultado das decisões, o que é padrão para toda equipe. A equipe formada no filme, no entanto, apenas é afetada por alguns participantes. Os outros, aliás, pouco participam.

Sem uma evolutiva vontade e motivação de Fernando para a realização do assalto, é a partir da visão dele que o longa-metragem começa. Em uma situação pouco convincente, o personagem deixa cair um objeto que, levado pela água da chuva, cai em um poço de esgoto. Sem explicação prévia ou tentativa de manter uma conexão com o ocorrido ou com o protagonista por parte do público, o homem subitamente tem a ideia de roubar o Banco Rio. Coletada aos poucos, as informações iniciais sobre Fernando incluem sua presença em uma sessão de terapia e um reconhecido (por sua parte) fracasso na carreira de artista plástico. As consultas terapêuticas, aliás, revelam-se em forma de flashback, e distinguir o atual do passado é árduo, levando em consideração a mesma estética dos dois modos temporais. Apesar disso, a engenhosidade de Fernando, embora atirada no público juntamente com o começo apressado de “O Roubo do Século”, é exposta quando o mesmo se une a sua consequente “trupe” e conhece Mario, indivíduo com uma personalidade mais específica: já ladrão experiente, o sujeito com estilo “canastrão” toma as rédeas das atitudes concretas.

Além da intimidade da dupla interpretada por Francela e Peretti, o resto do sexteto se manifesta minimamente, não sendo clara nem a informação de onde tais pessoas vieram. Com o intuito de apenas compor o elenco, a falta de desenrolo nas particularidades dos ofuscados por Mario e Fernando, se agregam à correspondente falta de elaboração para atingir o principal da premissa, que oferece ao público dados superficiais (e por vezes irreais, como a maneira com que Mario entra no andar superior do banco) intencionalmente emitidos para fazer com que os futuros ocorridos se encaixem, tal qual o estabelecimento de uma vibração a favor dos personagens. Até chegar ao roubo no banco, o roteiro não se prorroga para dar maior interioridade nem aos que estarão envolvidos nem para os motivos que os levaram até ali. Sucintamente e após um plano com sensação de planejado às pressas, eis que chega o grande dia.

A genérica trilha sonora, que procura instigar uma ação maior do que está havendo na tela, acompanha o lendário assalto, que se volta mais para a negociação de Mario com o investigador Sileo (Luis Luque) do que para a propensão de boas cenas no banco (retirando a cômica passagem do aniversário de uma idosa). Tudo parece ser de fácil resolução, incluindo o rompimento dos cofres, e até a relação com os aprisionados poderia seguir por um outro rumo: o rumo que o tom de “O Roubo do Século” quisesse se guiar. As tensões ali geradas são de fácil antecipação, mais rebuscadas em filmes de temática parecida como “O Plano Perfeito” (2006) de Spike Lee, e todas as atitudes tomadas dentro do local, soam inferiores ao que poderiam ser se fossem conduzidas por meio de uma edição mais estilizada, e não enquadradas em uma zona de conforto mediante o calculável revezamento de imagens óbvias e convencionais, como as do que aconteciam no banco, e só. A direção de Ariel Winograd, portanto, avança por um meio mais seguro, não buscando inovações nem na história nem na forma de contá-la, e se atendo (ou tentando) aos fatos em si, mas os fazendo mais leves do que provavelmente foram.

Em seu terceiro ato, “O Roubo do Século” revela uma faceta mais interessante visto a chegada de sua conclusão e a chegada da expectativa por parte do público, de um desejado “inesperado”. Ao alongar as consequências do assalto em todos os seus feitores, o longa-metragem ganha mais força, ainda mais por adicionar sequências mais trabalhadas e uma trilha sonora concordante com a trama ali passada. Apesar disso, devido a alguns personagens vagos e um igualmente vago aprimoramento vindo de um material potente como foi o roubo na realidade, a obra pode divertir, mas é bem capaz que os espectadores se perguntem o que se passava ali para seis homens de classe média, resolverem cometer tal ilegalidade. Para isto, disse um jornalista: “Os ladrões, com seu saque, agiram como profissionais, ou simplesmente realizaram um sonho adolescente?”.

2 Nota do Crítico 5 1

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