O Processo dos Curadores da Mostra Sesc de Cinema 2019

O Processo dos Curadores da Mostra Sesc de Cinema 2019

Mesa especial debateu, discutiu e analisou a escolha dos filmes

Por Fabricio Duque

Unânime e inquestionavelmente, todo e qualquer festival de cinema estimula o afeto. pela possibilidade dos reencontros. Estreita-se geografias, permitindo a união física e da alma. Saudade é um sentimento humano e nomenclatura vernacular só existe no Brasil. Por isso entendemos tão bem nossas necessidades.

É com esse pensamento que a Mostra Sesc de Cinema 2019, que chega a sua terceira edição, busca transpassar e transcender.  São representantes diretos das cinco regiões do país. Um mar de sotaques na cidade colonial-histórica de Paraty.

O segundo dia começou cedo, 10h da manhã, sobre O Processo dos Curadores da Mostra Sesc de Cinema 2019, com a Mesa especial: Processo Curadoria da 3ª Mostra Sesc de Cinema, apresentado pelo ator David Maurity e mediado por Marcos Fialho e Fabio Belotte, o encontro contou com 27 profissionais-técnicos do Sesc para explicar a engrenagem, curiosidades, dificuldades, prazeres e especialidades de escolha dos filmes.

“A característica própria de nossa Mostra foi desenhar o Brasil inteiro. Uma curadoria longa, com no mínimo de três pessoas para compor os júris locais. Foi um desenho muito incomum. Cada estado escolheu seis filmes. O objetivo principal: abraçar essa diversidade e a estabilidade entre estados”, disseram Marco e Fabio, que acompanharam todas as estaduais.

Anderson Muller, de Porto Alegre, representou a Região Sul. “Nós pensamos em uma metodologia organizada por cores, pontuação quantitativa e apontamentos em cada filme. Curadoria é importante, porque muda a vida de pessoas. É um processo de vivência, de troca. Um Olhar diverso. Não existe certo ou errado. Escolher o filme dialoga com seu repertório de vida”, disse.

Larissa Lisboa, de Alagoas, representou a Região Nordeste. “O diferencial desta edição é não ter mais a limitação de duração de filmes de curta, média e longa-metragem. É a visibilidade dos filmes. Nós optamos no processo trabalhar com mulheres de perfis diferentes. Falamos sobre o máximo de filmes possível. E alinhamos olhares. Um consenso formado, buscando essa representação da diversidade”, disse.

Leonardo Almenara, do Espírito Santo, representou a Região Sudeste. “Um curador precisa estar antenado em seu contexto histórico. É um papel severo, duro e importante para entender o que os realizadores estão dizendo e traduzir dentro de um recorte de filmes essas urgências; que pautas são essas; que assuntos são esses que saltam aos olhos. O Sudeste tem um desafio intenso. Não é julgamento de pior e melhor, mas uma questão de síntese e tradição mais precisa dos temas importantes para o estado.  O Espírito Santo é o primo pobre e foi registrado com o decreto imperial da Barreira Verde. São questões que traduzem o espírito do tema, questões calcadas que ainda estão sendo resolvidas. É o espírito do tempo”, disse.

Ana Carolina Abreu, do Pará, representou a Região Norte. “O panorama da região norte é um acontecimento, incluindo disparidades como a do Tocantins que só teve uma inscrição. É um processo rico de troca. Um exercício na curadoria que faz o diálogo. Pautamos nossas escolhas em três palavrinhas chaves encontradas no próprio processo”, disse.

Fernanda Solon, do Mato Grosso, representou a Região Centro-Oeste. “Mato Grosso é geograficamente imensa e basicamente a maioria da produção é pautada em documentários etnográficos. A Mostra Sesc serve para mostrar as possibilidades e mostrar a potência de que há outras questões além de abordar terras. Produzir ficção é mais difícil, porque precisa de mais produção. Buscamos a diversidade do estado como ponto principal. Mostrar a diversidade da produção do estado e entender o panorama nacional. Descobrir o porque dos filmes não terem sido selecionados. Questionar qual o problema e descobrir essas lacunas para ajudar a programar a grade”, disse.

“Nós optamos por colocar os profissionais do Sesc como protagonistas do processo. Os modelos antigos foram discutidos no coletivo. São territórios amplos e muito diversos. Cada região tem uma maneira própria de produção. Pensamos a mostra como diversidade de narrativas e temas, mas não somos nós que escolhemos os filmes e sim os filmes que escolhem a gente. As temáticas aparecem. As que estão em voga no momento. É obrigação da curadoria discutir esses temas e as angústias de nossa sociedade. Um olhar aberto ao mundo e não só pelo ego”, disse Marco Fialho.

“Na primeira edição, o Rio de Janeiro ficou de fora, e analisamos esses conflitos para conseguir a progressão. E para dar maior visibilidade, optamos por não aceitar inscrições  à mostra competitiva de filmes que já tivessem estreado nos cinemas. É uma Mostra com olhar expandido para o mundo”, complementou Fabio Belotte.

E a plateia, majoritariamente de profissionais do Sesc não se acanhou em pegar o microfone, dar o testemunho e provocar mudanças futuras. “O que a gente faz é sofrer as consequências das coisas”, “fortalecer a rede do Sesc”, “transitoriedade – tudo em trânsito, o Sesc transita há 73 anos com relevâncias e (des)relevâncias”, algumas de suas pontuações mais inflamadas. 

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