Ficha Técnica
Direção: Troy Nixey
Roteiro: Matthew Robbins, Guillermo del Toro
Elenco: Guy Pearce, Katie Holmes, Bailee Madison, Alan Dale, Edwina Ritchard, Lisa N Edwards, Bruce Gleeson, Garry McDonald, Carolyn Shakespeare-Allen, Jack Thompson
Fotografia: Oliver Stapleton
Música: Marco Beltrami
Direção de arte: Lucinda Thomson
Figurino: Wendy Chuck
Edição: Jill Bilcock
Produção: Mark Johnson, Guillermo del Toro
Distribuidora: Vinny Filmes
Estúdio: Miramax Films
Duração: 101 minutos
País: Estados Unidos / Austrália
Ano: 2011
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
A opinião
“Não Tenha Medo do Escuro” é a nova produção do cineasta mexicano Guillermo del Toro, de “A Espinha do Diabo” e “O Labirinto do Fauno”. O diretor Troy Nixey (escalado por Guilhermo) incorpora o cinema de Guilhermo, que imprime em suas obras uma atmosfera de horror psicológico, utilizando realismo fantástico para contar histórias mórbidas e cruéis, dotadas de imaginação humanizada, principalmente por direcionar o foco em detalhes cenográficos, como dente e moeda. O roteiro do seu mais recente trabalho, que além de Guilhermo – que também deu voz a uma das assustadoras criaturas que assombram a protagonista, tem Matthew Robbins, baseia-se no telefilme de mesmo título original, escrito por Nigel McKeand em 1973. A trama aborda a vida de Sally Hurst (Bailee Madison), uma criança solitária, introvertida e extremamente curiosa, aparentemente sem nenhum medo, acaba de chegar a Rhode Island para morar com o pai, Alex (Guy Pearce) e a nova namorada dele, Kim (Katie Holmes), na mansão do século 19 que eles estão reformando. Enquanto explora a ampla propriedade, a menina descobre um porão oculto, intocado desde o estranho desaparecimento do construtor da mansão um século antes.
Quando Sally, inadvertidamente, liberta uma raça antiga e obscura de criaturas que conspiram para dragá-la às profundezas da misteriosa casa, ela precisa convencer seu pai que não se trata de uma fantasia. Logo no início pode ser observado a personificação da parte técnica, tendo a camera tornando-se personagem ao usar e abusar da grua, passeando pelo lugar, a fim de retratá-lo. É inerente o susto e o tom de terror lúdico. Elementos narrativos vão sendo adicionados como uma montagem clássica de um quebra-cabeça. Os sons e ruídos são exacerbados para que assim aconteça a criação do universo pretendido e objetivado pelo diretor. A morbidez característica – e visceral – de Guilhermo apresenta criaturas, perversas, assassinas e sanguinárias, que levam crianças, usando o desespero dos adultos. Como de praxe em todo filme do gênero, todos os personagens parecem culpados, sempre escondendo algum segredo. A fotografia complementa a atmosfera. É sombria, escura, com luzes incidentais, desejando mostrar pouco a fim de criar a sensação de surpresa e curiosidade.
“Minha mãe deu-me ao meu pai”, diz a filha, ponto não tão explicado na história. O espectador é apenas informado que Sally está em um estágio depressivo e que foi morar com pai por causa do clima do campo.
Outro elemento, recorrente na obra do cineasta, é a utilização de jardins secretos, labirintos, buscando o sensorial de mistério de quem assiste. O desejo da personagem principal – persistente e corajosa – de desbravar novidades é maior do que as consequências que podem ser perigosas. Pelo estado melancólico, Sally desperta a metáfora da escuridão, que é encontrada pelos seres maléficos. O filme causa aflição do começo ao fim, ponto positivo à forma de abordagem e tratamento da trama. Porém, ao explicitar as criaturas, meio morcegos, meio ratos, meio demônios, o roteiro apela ao comercial, crescente ao final, destoando o tom, ritmo e credibilidade dramática, porque injeta uma carga adrenalizada para que as reviravoltas sejam resolvidas dentro do tempo hábil de duração. Ao tentar fornecer um fechamento surpreendente, o longa-metragem não consegue, razão que pode ser entendida pela alteração do equilíbrio, ora demorando em um determinado momento, ora inserindo informações demais, como é o caso do final geral, que não gera tempo a fim de que o espectador construa mentalmente a percepção sobre o que está sendo apresentado. Concluindo, um filme que merece ser visto por causa do ambiente (aflitivo e de suspense psicológico) cinematográfico de morbidez, característica, humanizada e realista, de Guilhermo. Recomendo. O longa foi inteiramente rodado na Austrália, com orçamento estimado em US$ 12.5 milhões de dólares.
O Produtor
Guillermo del Toro (9 de outubro de 1964, Guadalajara, Jalisco) é um cineasta e escritor mexicano. Criado pela sua avó católica, Del Toro desenvolveu interesse por cinema quando adolescente. Mais tarde, aprendeu sobre efeitos e maquiagem com Dick Smith (que trabalhara em O Exorcista e em várias curtas metragens). Aos 21 anos, Del Toro foi produtor executivo de seu primeiro filme, Dona Herlinda e seu Filho, em 1986. Por dez anos, trabalhou como supervisor de maquiagem, até formar a sua própria companhia, Necropia, no começo dos anos 80. Dirigiu ainda programas para a TV Mexicana, foi onde aprendeu a fazer filmes. Seu primeiro sucesso foi Cronos, em 1992, filme que ganhou nove prêmios no México e se tornou um sucesso em Cannes. Seguindo o sucesso de Cronos, dirigiu um filme de Hollywood, Mimic (1997) com Mira Sorvino. Decepcionado com o resultado pobre do filme, retornou ao México, formou a sua produtora, The Tequila Gang, e conquistou a crítica com o filme de horror atmosférico A Espinha do Diabo, uma história de fantasma passada na época da Guerra Civil Espanhola. Del Toro voltou a Hollywood em 2002, para dirigir Blade 2 e, mais tarde, Hellboy, em 2004. Conquistou o estrelato com O Labirinto do Fauno, filme de horror semelhante a A Espinha do Diabo. Foi indicado ao Oscar de Melhor Filme estrangeiro, em 2007. Del Toro mora em Los Angeles e é casado, com filhos. Dirigiu Hellboy 2, lançado em 2009; e iria dirigir O Hobbit, juntamente com Peter Jackson, com lançamento previsto para 2011, mas desistiu do projeto devido ao atraso da produtora em dar andamento. Guillermo também escreve A Trilogia da Escuridão em parceria com Chuck Hogan.