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Mulheres em Cena: Debate com Lucrecia Martel

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Por Marise Carpenter

Bio-filmografia

Lucrecia Martel é uma cineasta argentina da província de Salta, nascida em 1966. É diretora e roteirista dos longas-metragens O pântano (La ciénaga, 2001, ganhador do prêmio Alfred Bauer no Festival de Berlim), A menina santa (La niña santa, 2004) e A mulher sem cabeça (La mujer sin cabeza, 2008) ambos indicados à Palma de Ouro no Festival de Cannes. Atualmente, finaliza seu quarto longa-metragem, Zama, inspirado no livro homônimo de Antonio Di Benedetto.

Debate com Lucrecia Martel

Ouvir Lucrecia Martel é como estar em uma sala de aula. Sua propriedade em falar sobre diversos temas é carregada de total domínio com uma estrutura de pensamento de quem sabe o que está falando, buscando recursos até teatrais, engraçados por vezes, para se fazer entender. Quando fala sobre seus filmes mostra que tem plena consciência de sua linguagem pessoal.

Seus filmes contém um realismo e uma naturalidade que beiram o livre dirigir como se encontrassem as imagens de maneira espontânea ou roubadas do real e é interessante quando estamos diante da construtora dessas imagens e ela diz “é tudo falso”. Nas filmagens de O pântano, por exemplo, fazia muito frio e, no entanto, o tempo todo os personagens reclamam de um calor terrível, se abanam, suam e é passada uma forte sensação de calor. Ela diz que há uma busca pelo naturalismo, mas todos os meios para buscar isso são artificiais. Em seus filmes o realismo é resultado de uma construção prévia, nada foi pensado para ser natural porque para ela o cinema é um grande artifício. Todos os seus filmes são planejados no roteiro e filmados com precisão.
Um tema bastante comentado por ela foi a questão do som, a qual é primordial em seus filmes. Mas, ela não trabalha com trilha sonora. O som está inserido na cena. É um rádio tocando uma música, é uma televisão ligada apresentando uma reportagem, é o som de trovoada que dá a sensação nítida de calor no filme O pântano, assim como, o som do arrastar da cadeira na última cena desse mesmo filme. Inclusive, ela conta que para fazer essa cena tiveram que colocar um piso com ranhuras na borda da piscina para que a cena saísse como planejado por ela, pois o chão era de terra. O que ela pretende transmitir é uma percepção de mundo. Para ela a permanência do filme nas pessoas é fundamental, que não se encerre no filme, mas que se desdobre no cotidiano.

Para Lucrecia Martel cinema é imagem e som.

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