A cultura de massas contribui para enfraquecer todas as instituições intermediarias – desde a família até a classe social – para constituir um aglomerado de indivíduos – a massa ao serviço da supermáquina social, ameaçando às culturas tradicionais. Morin analisa o mundo moderno, bipolar, e escreve em plena Guerra Fria de um país que sente sua hegemonia econômica e cultural ameaçada pela ascensão dos Estados Unidos. Uma das soluções, futuras e esperadas, era a humanização da informação. “O jornalismo ajuda ou atrapalha a atividade literária no Brasil?”, perguntou o jornalista, aos principais intelectuais da época, João do Rio, em 1904. Boa parte dos escritores buscou o ganha-pão nas redações de jornais e revistas. Ao alugarem sua pena, que tanto pode ser o instrumento de trabalho quanto à “peça” enraizada do próprio ser, levaram técnicas, práticas e idéias de um campo a outro, modernizando o texto da imprensa e injetando elementos da linguagem jornalística na ficção e poesia. As notícias tornaram-se histórias, roteiros, contos. A nova era incluía Nelson Rodrigues, que dizia “O problema é que o repórter hoje mente muito pouco, cada vez menos”, reclamando do fim da velha imprensa. Contraditório? Não, extremamente crítico. A adaptação veio de uma hora para outra, assim como as grandes mudanças. Foi apresentado o protagonista paranóico, com suas características fronteiriças: minúcia, pensamento em círculos, visão fragmentada, incapacidade de traçar um sentido, opção aleatória por uma verdade, obsessão, capacidade de construir ficções, de encontrar lógica no ilógico. Esse simbolismo personificou a estrutura da notícia, definindo o leitor como resultado do protagonista definido por um grupo de formadores de opinião. Os indivíduos começaram a se comportar como personagens paranóicos. Os problemas tenderam-se ao universo de violências, dramas existenciais, futilidades, banalidades e alienações. A ambição de Edgar Morin encontra-se mais distante do querer máximo de contribuir positivamente à notícia. O público (médio) busca o que é massificado, busca o comum, o comodismo, a preguiça literária, que vive com menos em um mundo com mais. A possibilidade de viver de escrever, a esses jornalistas, foi considerada o principal ponto a favor da imprensa. Hoje, a criatividade, profissionalismo, inteligência e rebuscamento informativo forneceram, a contra gosto, um consumo rápido, fast food, de absorção incrivelmente exagerada, despertando o desespero de se acompanhar tudo e todos e a sensação de vazio repetente. Não se vive só de escrever, não mais. Sobrevive-se. Luta-se para que seja possível a interposição de idéias em um mundo internetesco, que frases de 140 caracteres são tidas como regras. Este artigo foi realizado absorvendo ideias de livros e artigos já publicados de Fernanda Dutra, Nilson Lage, Ricardo Ferreira Freitas, José Guillerme Cantor Magnani, Cristiane Costa e Edgar Morin.