Curta Paranagua 2024

Crítica: Kinatay

Ficha Técnica

Direção: Brillante Mendoza
Roteiro: Armando Lao
Elenco: Coco Martin, Maria Isabel Lopez e Julio Diaz
Duração: 105 minutos
País: França / Filipinas
Ano: 2009
COTAÇÃO: EXCELENTE

A opinião

“Kinatay”, com complemento de sub título “A Execução de P.”, ganhou a Palma de Ouro do número 62 do Festival de Cannes em 2009. O diretor Brillante Mendoza imprime todas as suas características marcantes de seus filmes anteriores e inclui novidades: como a manipulação aflitiva do desconhecimento do que poderá acontecer. O roteiro, como de costume, descreve o ambiente cotidiano, retratando seus moradores, com seus costumes e ações comuns, como pegar um caminhão van. Com isso, acostuma o espectador para que possa enfim aprofundar e especificar a trama, chegando na história especifica de uma família. A camera observa e acompanha, distanciando algumas vezes, a fim de mostrar o todo, o universo em que se encontram. Neste ponto, quem assiste já está integrado à vida apresentada e espera pelos próximos acontecimentos. Percebemos que um casal prepara-se ao casamento. E que vão de um lugar (longe) ao cartório. Os diálogos perspicazes e naturais, insinuam um humor irônico e ao mesmo tempo ingênuo. “Não fazemos trocas ou devoluções”, diz o responsável pela realização do matrimônio. A avó e os outros parentes chegam. O casamento civil começa. O almoço comemorativo em um restaurante. O nubente tem aula.
Estuda para que possa ter um vida melhor, porque já possui um filho e deseja fornecer uma vida melhor ao pequeno. Mais uma vez, a naturalidade é tanta, que convence com uma facilidade atroz, dando o ar de documentário sem a presença da camera. O personagem Peping, interpretado pelo ator Coco Martin, de “O Massagista” (o primeiro filme de Mendoza), estuda criminologia, mas quer ganhar dinheiro rápido por causa de seu recente enlace matrimonial. Ele embarca em ações ilícitas com seu amigo no submundo. “Não fodo com preta”, diz-se a fim de criar um choque sem limites do politicamente incorreto. O protagonista ouve isso, já dentro do carro do “chefe” (para quem irá servir), presencia a agressão a uma prostituta que não pagou as drogas que consumiu, silencia-se, sente medo e a sensação de não saber o que acontecerá, questionando-se, mentalmente, transmitindo pelo seu olhar, o porquê de aceitar aquele convite. Ele é espectador, assim como nós, que participamos como cúmplices de algo que não temos conhecimento. O filme torna-se road movie. Em Cubão, garotos de rua são tratados como “anormais”. Ele observa impávido. Espancam a mulher. Os gritos o assustam, mas não pode transpassar isso. Precisa ficar calmo. O espectador sente a sua aflição, seu desespero. É tenso tanto para ele, quanto quem está do outro lado da tela. É sinestésico.
A camera experimenta ângulos e iluminação, como a luz do farol do carro que reflete até cegar na captação da lente, interagindo modularmente. Peping aceita o convite de seu amigo, sem se dar conta do quão perigoso é. A tensão permanece, principalmente nos momentos de espera. A visceralidade mescla com amadorismo proposital, editando a tortura e a execução, a fim de fornecer aura densa, suja, violenta, de psicopatia, de naturalidade cruel e sádica. “A primeira vez também fiquei assustado. Agora, é natural”, diz-se. Ele conversa enquanto passa o tempo. “Uma vez perdida a integridade, é para sempre”, define-se. Os planos longos e a imagem longe, apenas nas brechas, favorecem o asco e o sentimento de pena ao personagem principal, que “ganha” um revolver para as próximas ações. Quando tudo acaba, ele tem uma opção. Continuar ou não? Assim, como todo longa-metragem do diretor, a saída de um problema é sempre uma possibilidade válida. Mas a facilidade do mundo transforma o ser humano. O que é ilícito no inicio muda-se para a normalidade da repetição de algo, mesmo errado. A cena final transpassa isso. A escolha naquele momento modificará seu futuro. ônibus ou taxi? Concluindo, um filme que busca a ética do individuo, o colocando em pressão por causa da facilidade monetária. Vale muito a pena assistir. Recomendo.





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(Matéria Especial)

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