Curta Paranagua 2024

Encontros

Entre cigarros, esperas e conversas

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Berlim 2021

Encontros

Em seu mais recente filme, Hong Sang-soo (de “A Mulher Que Fugiu“) está em fase rebelde. Depois de anos considerado uma misto de Woody Allen com Eric Rohmer da Coreia do Sul e depois de ficar mais parecido com Anton Chekhov, agora, em “Introduction”, integrante da mostra competitiva do Festival de Berlim 2021, o tom encontra Jim Jarmusch e seu “Sobre Café e Cigarros” com a câmera de Jia Zhangke e seu “Plataforma”. Ainda que neste HSS conduza sua narrativa pelos momentos de espera (o tempo de fumar um cigarro e/ou esperar em um consultório), “Introduction”, em fotografia preto-e-branco, revela exatamente o que seu título propõe: uma introdução. De instantes fragmentados que adentram na estética da quarentena contra a pandemia do Coronavírus. Mas talvez essa urgência-necessidade de realizar um filme por ano, que seu diretor se obriga, não encontre o devido aprofundamento, fazendo deste longa-metragem um filme perdido demais.

O sul-coreano conquistou seu público pelo desenvolvimento das situações ao acaso de suas personagens. E é mais que permitido que um diretor queira se reinventar. Experimentar novas linguagens. Contudo, cada ação imediatamente gera uma reação, que por sua vez desencadeia um recomeço iniciante do ciclo. Expande o nível. Dessa forma, a cada novo período, a dificuldade de se adaptar será maior. Traduzindo então, HSS entra na rebeldia da criação, tornando-se uma estudante. “Introduction” é o debut dessa fase. A impressão que o espectador tem é a de que este é o seu TCC de Conclusão de Curso de Cinema. Por se apresentar afoito, imaturo e ingênuo. Um dos exemplos disso é seu roteiro, dividido por capítulos (números-cartelas em tela).

As personagens ficam sem saber o que fazer nas cena. Parece que estão sem instruções. Um dorme e esquece seu paciente, um ator famoso, na acupuntura. Outro olha sem objetivo. No almoço, o filho ator (“sensível e “não prático” – uma crítica à juventude contemporânea?), que aparece com seu amigo, se queixa de se sentir desconfortável em beijar alguém no ato da filmagem e recebe um “esporro” catártico (“porque abraçar uma mulher é o amor”), em acesso de raiva e da “perda do temperamento”). Até o som do filme “estoura”. “Por menor que seja, não há nada além do bom!”, grita-se.

“Introduction” é um filme de desvios e de atalhos visuais. O zoom que aproxima em uma cena remete a Nouvelle Vague. HSS, não se sabe se proposital, quer o distanciamento. As cervejas e cafés dão lugar a cigarros e chás. O nada neste é apenas um nada. Disperso e banal. Mas nós apreciadores das obras de Hong Sang-soo não desistimos esperamos uma surpresa. De ser um sonho. De ser uma viagem da própria mente. Algo como um novo take de um filme com roteiro mudado. Personagens em outros lugares, em outras situações e em outros propósitos. Nós percebemos também que há uma limitação interpretativa. De não haver toques e beijos. O contato se dá por um abraço e por conversas. Talvez esse seja a falta que sentimos. De que esses procedimentos sanitários teatralizam e fazem com que tudo seja robótico demais. Técnico demais. Em seus sessenta e seis minutos de de duração, “Introduction” comporta-se como um ensaio. Uma prévia de algo que ainda está em processo de pensamento. Um brainstorming reverso de uma criação que minimiza o resultado e só lança o material bruto. Uma pena!

2 Nota do Crítico 5 1

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