In the Absence
Coréia Urgente
Por Jorge Cruz
No curta-metragem indicado ao Oscar 2020 “In The Absence” (ainda sem título oficial no Brasil) o realizador Seung-jun Yi nos transporta para as aflitivas horas de resgate da embarcação MV Sewol, que naufragou na Coréia do Sul no dia 16 de abril de 2014. O navio tinha 476 tripulantes e apenas 164 foram salvos. A maioria das vítimas eram estudantes e professores da escola secundarista Danwon. Até hoje não há certeza sobre a real causa da tragédia.
Toda a base do documentário são imagens de transmissões midiáticas, com algumas produzidas pelos aparelhos de celular de quem estava na embarcação. Trata-se de mais uma obra que traz uma visão mais crítica de uma nação tida no Ocidente como modelo. Os áudios obtidos pelos rádios comunicadores denotam não apenas a urgência do que estava ocorrendo, mas cerca negligência de parte das autoridades. Essa visão é corroborada com alguns depoimentos obtidos a posteriori.
“In the Absence” critica em parte a espetacularização da tragédia, opção do próprio governo coreano. Quando as informações sobre a quantidade de pessoas presentes no MV Sewol ainda eram desencontradas, boa parte dos esforços eram no sentido de enviar equipes de filmagens para registros. Todavia, a montagem do filme não deixa de se valer dessa construção imagética, tornando o documentário algo próximo a uma reportagem de programas de televisão sensacionalistas e exploradores de violências e tragédias – com um mero verniz de testemunhos pincelados vez ou outra.
O desprepara e a omissão do país para lidar com aquela situação é flagrante. Tanto que representantes do alto escalão da política foram duramente questionados, inclusive a Presidente Park Geun-hye, que sofreria um processo de impeachment três anos depois. No meio de toda essa narrativa há ali algumas cenas das apurações dos engravatados, lembrando muito as CPIs – também espetacularizantes – que volta e meia ocupam os jornais brasileiros. Contudo, como curta-metragem “In The Abscence” é mais como um apanhado de arquivos, que não possuem unidade capaz de convencer que encontrou seu caminho como obra audiovisual.