Curta Paranagua 2024

Crítica: Heleno
O filme venceu na categoria de Melhor Fotografia no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2013. 


Ficha Técnica
Direção: José Henrique Fonseca
Roteiro: José Henrique Fonseca, Felipe Bragança, Fernando Castets
Elenco: Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Othon Bastos, Herson Capri, Angie Cepeda, Erom Cordeiro, Orã Figueiredo, Henrique Juliano, Duda Ribeiro
Fotografia: Walter Carvalho
Música : Berna Ceppas
Direção de Arte: Marlise Storchi
Edição: Sergio Mekler
Produção: José Henrique Fonseca, Eduardo Pop, Rodrigo Teixeira, Rodrigo Santoro
Distribuidora: Downtown Filmes
Estúdio: Goritzia Filmes
Duração: 116 minutos
País: Brasil
Ano: 2011
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM
A opinião
Grandiosidade. Não se poderia pensar diferente ao retratar a biografia de Heleno de Freitas, ídolo do time de futebol carioca, Botafogo, na década de 1940. O “Príncipe maldito”, como era constantemente chamado, viveu numa época em que o futebol significava sonho, promessa, futuro, e acima de tudo, paixão pelo time de coração. O diretor de cinema José Henrique Fonseca, de “O Homem do Ano”, filho do escritor “maldito” Rubem Fonseca e casado com a atriz Cláudia Abreu, assume a responsabilidade de transpassar às telas, no filme “Heleno”, adjetivos humanizados do primeiro “craque problema”. Gênio intempestivo, boêmio, mulherengo, boa pinta, irritadiço, advogado, mineiro de Barbacena, galã, irretratável e arrogante na vida pessoal e na profissional, porque ele próprio sabia que era um excelente jogador, gerando constantes expulsões de campo. Quando digo que o longa-metragem ganhou status de grandioso, é por causa da escalação de competentes e renomados profissionais em sua ficha técnica. O ator Rodrigo Santoro, encabeça a lista que inclui Alinne Moraes, Erom Cordeiro, Othon Bastos, Herson Capri, Tizumba, entre tantos outros. O protagonista prova a excelente atuação, não só por ter perdido doze quilos, e sim por entregar-se completamente ao papel, sendo preparado por Sergio Penna e tendo aulas de fundamentos do futebol com Claudio Adão.
A forma como busca elementos interpretativos, e o próprio tema em si, relembra o seu personagem em “Bicho de Sete Cabeças”, mas é só uma referência longínqua. Ele vivencia tanto a adrenalina do set que quando armário cai em cima dele, a cena continua até a exaustão sensorial. A narrativa deixa acontecer, permitindo improvisos e fornecendo dinamismo, leveza e certa aura de pureza ingênua, característica daquela época. Rodrigo embarcou no desafio de também produzir. Correu atrás e conseguiu ajuda financeira com o empresário Eike Batista. Quanto à parte técnica, só mesmo Walter Carvalho (que recentemente assinou a direção do documentário “Raul – O Início, O Fim e O Meio”, sobre Raul Seixas) poderia criar a fotografia de forma tão estilizada, utilizando-se do recurso do preto-e-branco, necessário para que se fosse transpassado a nostalgia e fidelidade ao momento abordado. É incrível, porque capta a poesia na imagem, ora esfumaçada, ora percebida pelos pingos de chuva, e ora, perdoe-me Zé, por manipulações de efeitos especiais. A narrativa conduz por lembranças, epifanias, alucinações e sonhos. Heleno foi apelidado de “Gilda” por seus amigos do Clube dos Cafajestes e pela torcida do Fluminense, por seu temperamento e por este ser o nome de uma personagem da atriz estadunidense Rita Hayworth em filme de mesmo nome, foi o símbolo de um Botafogo guerreiro, que nunca se dava por vencido.
Baseado no livro “Nunca Houve um Homem como Heleno”, de Marcos Eduardo Novaes, a roteiro aborda os tempos áureos, as trocas de times (por dinheiro, passou pelo América, pelo Boca Juniors da Argentina, pelo Junior de Barranquilla, pelo Santos e pelo Vasco, conquistando seu único título por um clube, o de campeão carioca de 1949), as drogas, a sífilis, a internação na clinica em Barbacena, o Copacabana Palace Hotel como moradia. “Heleno 2 x 1 Flamengo. Até a imprensa já percebeu que eu jogo sozinho”, diz-se com arrogância. Há uma atmosfera superficial utilizada de propósito, por ter a narrativa de lembranças de alguém que possivelmente delira por causa dos remédios e da doença adquirida, indicando tom teatral e novelesco a fim de que a história seja contada pela casca e não pelo recheio. “Desfrute de tudo que pode”, diz-se traduzindo a ideia de que ele não era de ninguém, entre baforadas de fumaça de cigarro, instaurando o ambiente elegante, detalhista, charmoso e digressional. “Eu era mais feliz com raiva”, expressa lucidez. A parte do sanatório pode parecer amadora e ingênua, mas consta de uma necessidade do roteiro. Só que há a cena da troca de cigarro que é fantástica. Heleno sempre acendia dois cigarros, um ofertava e o outro fumava. Sentia-se invejado, roubado, perseguido. A mente conservava a altivez até o final. Ele era o que era. Concluindo, um filme com excelente fotografia de Walter e a entrega sem espera da volta de Rodrigo, que recebeu o prêmio de melhor ator na 33ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de Havana, em Cuba, obrigam o espectador a assistir. Recomendo. O orçamento estimado de Heleno foi R$ 8.5 milhões, sendo que R$ 4 milhões foram bancados pelo empresário Eike Batista.
Trailer
Coletiva de Imprensa
O Diretor
José Henrique Fonseca é um cineasta e diretor brasileiro. Dirige comerciais e videoclipes da Conspiração Filmes, produtora que fundou junto com Lula Buarque de Hollanda, Cláudio Torres e Arthur Fontes. É filho do escritor Rubem Fonseca e casado com a atriz Cláudia Abreu desde 1997, com quem tem três filhos, Maria, Felipa e José Joaquim. Formou-se em direito na Faculdade Cândido Mendes, mas escolheu o cinema e o audiovisual como seu meio de trabalho. Dirigiu uma série para televisão, Agosto (co-dirigida com Paulo José), antes de estrear no cinema, com o episódio Cachorro!, do longa-metragem Traição (1998). Estreou em longa-metragem em O homem do ano (2003), que tem como protagonista um policial inspirado em romance de Patrícia Melo, com roteiro escrito em parceria com Rubem Fonseca e Patricia Melo, uma co-produção da Conspiração Filmes com a Warner. Participou do Festival de Berlim de 2003 e recebeu o prêmio de melhor primeiro filme no Festival de São Francisco de 2003. Em 2005, dirigiu e produziu em parceria com a HBO a série Mandrake, baseada nos contos escritos por seu pai nos quais o advogado criminalista Mandrake era o protagonista. Seu próximo projeto é o longa Heleno – o homem que chutava com a cabeça, baseado na vida do jogador de futebol Heleno de Freitas. Após se desligar da Conspiração, fundou a GORITZIA FILMES, uma empresa produtora de conteúdo para cinema e TV, com a qual José Henrique realizou “Heleno”, seu segundo longa-metragem.
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