Gaspar Noé e seu “Clímax” no Rio de Janeiro

O clímax de Gaspar Noé no Rio de Janeiro

Por Fabricio Duque


A passagem do diretor lisérgico-psicotrópico-psicodélico Gaspar Noé pelo Rio de Janeiro atiça o ânimo dos cariocas, vindo de São Paulo. O argentino apresentou seu novo filme “Clímax”, que foi exibido em maio na Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes 2019. E mexeu em questões delicadas e exponencialmente polêmicas, como a rixa dos paulistanos com a Cidade Maravilhosa. Apesar da presença em terras praianas, Gaspar Noé estava cansado demais para conversar com os jornalistas daqui. Foram entrevistas exaustivas por lá. E ao questionar este ponto, ouvi que a imprensa, sim, A IMPRENSA, está toda em São Paulo. Trocando em miúdos, aqui e ou em qualquer outra cidade brasileira não há IMPRENSA. Pois é, isso vem acontecendo constantemente com cabines e coletivas de famosos e esperados filmes que só acontecem na terra da garoa.

Mesmo assim, o cineasta que desperta a opinião de ame ou odeie sobre suas obras foi o mais simpático e fofo, ainda que não falasse com a imprensa daqui, na pré-estreia no Reserva Cultural em Niterói, e, na sessão ultra extra conseguida pela Imovision no Estação Net Rio na noite de ontem. Gaspar, um cinéfilo inveterado e apaixonado por filmes catástrofes de terror, conseguiu colocar em sua agenda uma visita à locadora Cavideo, na Cobal do Humaitá, procurando obras que abordassem violência e sexo explícito. E lá comprou dez filmes (e gastou duzentos reais) e ganhou mais outros. Dados esses fornecidos por Cavi e Marcelo da mais completa locadora do Rio de Janeiro.

A lista inclui seis filmes de José Mojica Marins, o nosso Zé do Caixão (que dirigiu 41 filmes e atuou em 64):

“Delírios de Um Anormal”
“Inferno Carnal”
“À Meia Noite Levarei Sua Alma”
“Encarnação do Demônio”
“Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver”
“Finis Hominis”

Dois filmes de Cláudio Assis: “Amarelo Manga” e “Baixio das Bestas”. Dois de Carlo Mossy: “Ódio” e “O Sequestro”.

Além de ganhar presentes: “Mamilos em Chamas”, de Gurcius Gewdner; “Cidade de Deus – 10 Anos Depois”, de Cavi Borges e Luciano Vidigal; e “Mangue Negro”, de Rodrigo Aragão.

A chegada de Gaspar Noé às sessões que apresentaria atrasou, devido a um gigantesco engarrafamento na Voluntários da Pátria em Botafogo. Mas o público não se importou em esperar. O diretor conversou com o público, majoritariamente de cinéfilos e apaixonados por suas obras. E forneceu muitas curiosidades e informações sobre “Clímax”. E a cada resposta, seu humor tipicamente argentino gerava risadas na plateia.

O realizador disse que o filme “tinha um roteiro de três páginas, deixando assim que os atores pudessem improvisar”. “O filme fala por si mesmo. Filmamos muito rápido, mais ou menos em um mês, de maneira cronológica. Cada ator decidia o que queria dizer e com quem conversar. E qual conflito abordar. Eu escrevi somente um diálogo o filme inteiro”, complementa.

Quanto a uma pergunta sobre as cores, ele disse: “Neste eu me copio de meus outros filmes”. Risos. “Filmamos à tarde e terminamos uma ou duas horas da manhã”. Sobre a política em suas obras, fala sobre a “euforia popular dos protestos em Paris de um mundo capitalista”. E sobre a pergunta de ser um diretor polêmico e se teve problemas com as produtoras (em especial “Enter The Void”), ele responde: “Não, a produtora é minha e eu me entendo bem”. Todos riem.

“É um filme catástrofe. Uma película de construção coletiva. É uma homenagem aos filmes de terror dos anos setenta, como “Inferno na Torre” (de John Guillermin, trilha-sonora de John Williams, e vencedor do Oscar de Melhor Fotografia); “O Destino do Poseidon” (de Ronald Neame, também com trilha de John Williams, e prêmio Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante para Shelley Winters; e “Shivers – Calafrios” (do canadense David Cronenberg)”. E, na última pergunta sobre a mensagem das drogas, Gaspar Noé faz todos gargalharem com “Deixe as crianças longe da sangria”.


Confira o vídeo exclusivo na íntegra no início desta matéria!

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