Curta Paranagua 2024

Fogo no Mar

Entre travessias

Por Fabricio Duque

Durante o Festival de Berlim 2016

Fogo no Mar

De forma factual e comprovada, o diretor Gianfranco Rosi, em “Fogo no Mar”, que integra a competição oficial do Festival de Berlim 2016, está se adjetivando com o maniqueísmo radical e irrefutável do “ame ou odeie”, visto que no final da sessão, um italiano grita “pornográfico”, que quer dizer “vergonhoso”. O leitor-cinéfilo-espectador já deve conhecê-lo pelo filme “Sacro Gra” , vencedor do Festival (italiano) de Veneza. Aqui, o cineasta utiliza-se do hibridismo, um documentário com incursões ficcionais que mais contempla uma discussão questionadora que contesta o tema polêmico da imigração, em uma narrativa de filme-coral, que intercala personagens e micro-ações de um garoto (o futuro) que aprende a profissão da família; um radialista que conserva a cultura natal; perpassando pelo acontecimento de um navio apinhado de imigrantes nigerianos, da Etiópia, Líbia (“um lugar para não estar”) e todo o procedimento social, político, educado, respeitoso dos policiais e funcionários que cuidam desses vitimados geográficos.

Os detalhes (o rádio que informa; uma criança que brinca tendo a violência como referência; o olhar pelo vidro; a vida “bruta do mar”; a metáfora dos “embarcados”; o olho “preguiçoso”; os imigrantes que trazem enraizado suas culturas e religiões – músicas, sermões e preconceitos – observam o lugar, escolhido pela tragédia dos exilados expatriados por opção. Talvez, a opinião contra do diretor seja sobre a forma simpática de tratar os imigrantes, visto que quando se liga uma câmera, a naturalidade do ser dá lugar a encenação educada e projetada do “ter que ser”, por mais que se mantenha a essência; ou seja apenas implicância, porque no Festival de Cannes, um jornalista italiano disse que “italianos não gostam de filmes italianos”.

“Fogo no Mar” é uma radiografia nua, crua, realista, com momentos suavizados não manipuladores, tampouco clichês de um problema mundial. A imigração talvez precisa ser resolvida de dentro para fora, resolvendo o próprio país. Talvez seja utopia. Talvez até mesmo uma distopia.

4 Nota do Crítico 5 1

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