Por João Pereira Lima
Os mercados são importantes eventos na indústria audiovisual. Todos os players se encontram para começar, consolidar ou concluir negócios, além de se atualizarem e discutirem com seus pares e complementares os rumos atuais deste fenômeno em expansão. Na América Latina se destacam o Ventana Sur em Buenos Aires, o BAM em Bogotá e o Rio Content Market e na Europa o Marché du Film em Cannes e o European Film Market em Berlim. Diferentemente dos latinos, estes últimos estão histórica e efetivamente ligados a festivais de cinema. Diversos outros mercados acontecem o ano inteiro por todo o mundo, alguns são temáticos, com enfoque em documentários ou em animação.
No Brasil os mercados organizados pelos festivais de cinema também se expandem. O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro teve o seu primeiro ambiente de mercado enquanto os festivais internacionais de cinema Olhar de Cinema em Curitiba e o Festival do Rio no Rio de Janeiro têm seus mercados mais consolidados.
No Brasil, a emergente e ainda pequena indústria do audiovisual, capitaneada pela Ancine (vinculada ao Ministério da Cultura), foi um dos poucos setores da economia que cresceu continuamente apesar de todas as crises. Em sua fala de abertura no mercado audiovisual do Festival do Rio, o Rio Market, nesta segunda-feira feira 9 de Outubro de 2017, o atual ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão, sob o título “Desafios da política audiovisual no contexto da revolução digital”, nos elucidou com palavras que não faziam muita referência ao enunciado mas sim à atual situação da indústria e os últimos acontecimentos na política audiovisual brasileira.
Sá Leitão defendeu a desburocratização dos mecanismos de financiamento citando que a maior parte do montante disponibilizado pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) não é aplicado. Sendo esse excesso de burocracia e a visão de um Estado, que sabendo o que é melhor e como fazê-lo, irresponsavelmente freia o possível crescimento do setor.
O ministro concluiu sua fala de mais de uma hora defendendo a liberdade de expressão e se posicionando contra qualquer tipo de censura. Recentemente uma bancada cristã de 200 deputados pediu seu posicionamento em relação aos recentes acontecimentos de censura à arte nas cidades de Porto Alegre e São Paulo. Ele apóia a expansão da Classificação Indicativa para as outras áreas da cultura, como há muito já existe no cinema, televisão e espetáculos.
Independentemente da situação da indústria audiovisual ou dos problemas endêmicos da cidade do Rio de Janeiro, o Rio Market continua até sábado dia 14. O evento conta com uma programação que além de oferecer rodadas de negócios em suas mais diversas formas, também, promove seminários e palestras sobre realidade virtual, influenciadores digitais, VOD, You Tube, financiamento e distribuição assim como workshops de roteiro, fotografia, trilha sonora. A coprodução com outros países é uma prática em expansão adotada pela Ancine e neste mercado teremos rodada de negócios com os italianos e a assinatura do acordo com o Reino Unido. A influência da televisão no audiovisual brasileiro também pauta muitos destes encontros.
Nesta edição do Rio Market, infelizmente, não temos, como no ano passado. a presença de uma importante área da comunicação. A acessibilidade é responsável pela inclusão social através da legendagem descritiva, libras e audiodescrição obrigatórias para obras financiadas pela Ancine e outras instituições. O tema é muito mais complexo e o principal problema se dá no formato de exibição, a falta de vontade política em todas suas instâncias, e no desinteresse do parque exibidor, o calcanhar de Aquiles da diversificação de conteúdo e da expansão de salas de cinema para o interior do país. Outros temas lamentavelmente ausentes são a representação e a presença das mulheres, das negras, das índias, LGBTs, e muito mais, tanto na frente como detrás das câmeras.