
Diário do Vertentes do Cinema
Fest Aruanda 2025: Entre cabelos nevados, cinema-sunga, geladeiras ambulantes e toca Raul!
Por Fabricio Duque
Talvez seja o “bafo quente” que recebemos ao sair do aeroporto de João Pessoa, na Paraíba, a alma do Fest Aruanda – Festival do Audiovisual Internacional da Paraíba, que neste 2025 completa vinte anos. Talvez seja também o tempo único de se estar sob o céu nordestino e ter a água do mar sempre quentinha. E/ou porque o sol nasce primeiro nesta terra pessoense, chamada carinhosamente de Jampa. Talvez seja mesmo só a despretensão de se viver. Aqui, a vida parece fluir, ainda que com todo o trânsito que cresce a cada dia e com supermercados que vendem produtos mais caros que o Rio de Janeiro (tenho como provar com nota fiscal). Isso tudo talvez venha de suas expressões idiomáticas (como a de “Oxe, nem me deu ousadia”, que se traduz “Poxa, nem me deu atenção”), de seu sotaque carregado e de seus improvisos, como por exemplo um vendedor de praia, Sr. Inácio, que criou uma “geladeira ambulante” em cima de rodas, com capacidade para 130 cocos a cinco reais cada um. E talvez o segredo esteja mesmo em deixar tudo para o talvez e apenas sentir.
As duas décadas do Fest Aruanda – Festival do Audiovisual Internacional da Paraíba estão sendo comemoradas com muitos filmes, debates e músicas. Na abertura, o longa-metragem foi “Ary”, de André Weller, um “documentário musical recheado de músicas”, frase cunhada por Maria do Rosário Caetano, jornalista e uma das homenageadas desta edição 2025. O filme do André, que traz um Ary Barroso livre de amarras entre suas memórias, sua paixão e seu humor afiado, pode ser considerado Cinema-sunga, não por causa de seu diretor ter estampado o poster com um Ary sentado de sunga em uma praia, tampouco por causa de cabelo nevado do cineasta, mas sim por representar uma forma totalmente descontraída de se fazer cinema, ainda que com técnica e estética precisas da imagem. A sessão foi conjunta com o curta “Index” de João Lobo.
Tudo Sobre Fest Aruanda do Audiovisual Internacional da Paraíba 2025
Mas sim, a grande expectativa do Fest Aruanda – Festival do Audiovisual Internacional da Paraíba 2025 era mesmo os shows na Praia de Tambaú, no Busto de Tamandaré. Ontem foi o dia de celebrar Raul Seixas, com tributo de dez artistas paraibanos (Val Donato, Nathalia Bellar, Arthur Pessoa (Cabruêra), Totonho, Elon, Sandra Belê, Luana Flores, Fuba, Mira Maya, Juzé – obrigado Lohana Brandão pela ajuda) e um show “Rock das Aranhas Live Show” da própria filha de Raul, Vivi Seixas. Em entrevista exclusiva ao Vertentes do Cinema (obrigado Flávia Miranda pela “ponte”), a artista DJ disse que costuma tocar-mixar as músicas do lado B de seu pai, mas que para este show especial optou pelas mais conhecidas.
Ainda sobre o tributo (obrigado Jãmarrí Nogueira pela ajuda na lista), as músicas escolhidas foram obviamente as mais icônicas. Cada artista não só cantou, mas buscou interpretar a energia de Raul Seixas: Luana Flores com “Sociedade Alternativa”; Sandra Bele com “Tente outra vez”; Myra Maya com “A Maçã”; Juzé com “Ouro de tolo”; Mestre Fuba com “Maluco Beleza”; Bellar com “Metamorfose Ambulante”; Elon com “Gita”; Arthur Pessoa com “Cowboy fora da lei”; Totonho com “Mosca na Sopa”; e Val Donato com “Al Capone”; e no final todos juntos em “Eu nasci há dez mil anos atrás”.
Mas antes o público local foi contemplado na praia com um telão de cinema que exibiu o documentado “Raul – O Início, o Fim e o Meio”, de Walter Carvalho, idealizado e produzido por Denis Feijão. Walter em seu discurso de apresentação disse que estava muito feliz em apresentar agora o filme.
“Toca Raul! No caso aqui, filma Raul! Passar o filme na praia é muito que emoção, para mim é uma epifania, porque eu brinquei nesta areia da praia e toda essa orla de Tambaú. Eu era pequeno, brincando, criança mesmo, pequenininho. E cresci jogando bola aqui. Eu não saí da Paraíba, eu fui ali, só que tem mais de 50 anos. Então eu não imaginava que tanto tempo depois que eu ia voltar aqui apresentando um filme que eu fiz. Isso é muito louco na minha cabeça. E isso é um aspecto da questão afetiva, porque voltar a Paraíba que nunca saiu de mim”, disse Walter Carvalho, e complementou que é “uma coisa extraordinária” a iniciativa do Fest Aruanda em exibir filme na praia, em um lugar público, “sentindo o cheiro do mar, entre transeuntes, vendedores, ambulantes, namorados”.
Fest Aruanda – Festival do Audiovisual Internacional da Paraíba 2025 também faria, ainda na noite de abertura, na praia, uma homenagem à parlamentar Jandira Feghali (do PCdoB-RJ) com o Troféu Aruanda pela contribuição à Cultura pelos 5 anos da Lei Aldir Blanc. A cerimônia teve que ser transferida para o dia seguinte por causa de uma pauta urgente e convocada pelo Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva. “Eu não poderia dizer não, não é?”, disse Jandira Feghali, que recebeu o prêmio das mãos da Dama Zezita Matos, ao lado de Lúcio Vilar e da jornalista Maria do Rosário Caetano, também homenageada com o Troféu Aruanda Missionária do Cinema Nacional.
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