Direção: Alain Resnais
Roteiro: Alex Réval, Laurent Herbiet
Fotografia:Éric Gautier
Montagem:Hervé de Luze
Música:Mark Snow
Elenco:Sabine Azéma, André Dussollier, Anne Consigny, Emmanuelle Devos, Mathieu Amalric
Produtor:Jean-Louis Livi
Produtora:F Comme Film, 16
Duração:104 minutos
color, digital
País: França
Ano:2009
COTAÇÃO: MUITO BOM
A opinião
Já é caractéristico, no cinema do diretor Alain Resnais, a descrição precisa e humanizada de pessoas, coisas e afins. Os detalhes, sobre o cotidiano banal ou algum outro consistente elemento, apresentam-se como personagens reais e necessários.
A inferência e a dúvida de achar, mas tendo como única a certeza da dúvida, conduz a trama, manipulando o espectador a aceitar a estranheza e os impulsos dos indivíduos. “O mau gosto não é perdoado”, diz-se.
“Morremos sem gritar” exemplica o tom usado nos diálogos ou falta de, já que os monólogos verborrágicos são recorrentes, com divagações da mente com imagens simétricas, projetadas ou não, muito bem captadas, convencionais ou não. A fotografia clara, mas com um brilho nostálgico em contraste entre o vivo e o pálido, fazendo lembrar uma película antiga colorida. A camera realiza um ‘balé’, explorando ângulos (interativos) e cores em uma narrativa lenta e internalizada.
A metáfora do acaso aborda Marguerite que não podia prever que roubariam sua bolsa na saída da loja. Menos ainda que o ladrão jogaria as coisas que estavam dentro dela em um estacionamento. Quanto a Georges, se ele tivesse pensado duas vezes, não teria se abaixado para pegá-las.
O roteiro, extremamente competente e inteligente, aprofunda, aos poucos, os seus personagens, com jazz e com uma digressão existencial, ingênua, cruel, instintiva, carente, questionadora e ativa. A erva daninha existente dentro de qualquer um, depende dos desvios que a vida, e ou os acontecimentos, causará. A retratação das idiossincrasias, vulnerabilidades e a obscuridade adormecida acontece sem julgamentos e sem utilizar a política do que é correto para mudá-las.
A solidão gera uma defesa de relacionar-se com os outros em um mundo atual e individualizado. “Quando saímos do cinema, nada nos surpreende”, diz-se utilizando o fácil e o não comum para resolver o conflito e as pendências dos seus personagens. O surrealismo, as referências incutidas e o desejo irrequieto (mudando a todo momento) são experimentadas fornecendo uma interessante exercício perceptivo em quem está assistindo.
A conclusão é de um filme que busca o acaso todo o tempo, incluindo o do espectador. Quando segue este viés afasta-se do clichê óbvio. A superficialidade e a artificialidade do ambiente apresentado é fiel até o final. Vale a pena ser visto. Recomendo.
Nasceu em 1922 em Vannes, França. A partir de 1948, dirige curtas-metragens elogiados como Van Gogh (1948), Guernica (1950) e o documentário média-metragem Noite e Neblina (1955), vencedor do Prêmio Jean Vigo, definindo uma linha autoral em que privilegia a montagem e os temas ligados à memória pessoal e histórica. Estreia em longa-metragem com o aclamado Hiroshima Mon Amour (1959), consagrando-se como um dos grandes nomes da Nouvelle Vague. Dirige em seguida filmes como O Ano Passado em Marienbad (1961), Muriel (1963), Meu Tio da América (1980) e A Vida é um Romance (1983). Em seus últimos trabalhos, adaptou para o cinema romances (Amores Parisienses, 1997) e peças de teatro (Medos Privados em Lugares Públicos, 2006).
Inspirado no romance L’Incident, de Christian Gailly, Ervas Daninhas concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2009, onde Resnais ganhou um Prêmio Especial pela carreira e contribuição excepcional à história do cinema.
Em 2007 vivia isolado, praticamente cego, assessorado por um grupo de amigos fiéis entre os quais o mesmo grupo de atores e sua musa há alguns anos, a atriz Sabine Azéma, com quem parece ter uma relação amorosa. Todos seus últimos filmes por causa de sua saúde precária foram feitos em estúdios, em condições controladas (Pas Sous la Bouche é uma homenagem as antigas operetas bem curiosa mas pouco popular).
Filmografia
1959 – Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima Mon Amour) Com Emanuelle Riva, Eiji Okada
1961 – Ano Passado em Marienbad (L’Année Dernière a Marienbad) Com Delphine Seyrig, Giorgio Albertazzi
1963 – Muriel ou Temps d’Un Retour (Delphine Seyrig, Jean-Pierre Kerien)
1966 – A Guerra Acabou (La Guerre Est Finie. Yves Montand, Ingrid Thulin)
1968 – Eu Te Amo, Eu Te Amo (Je t’Aime, Je t’Aime. Claude Rich, Olga Georges-Picot)
1974 – Stavisky (Idem. Jean-Paul Belmondo, Charles Boyer)
1976 – Providence (Idem. Dirk Bogarde, John Gielgud)
1980 – Meu Tio da América (Mon Oncle d’Amérique, Gérard Depardieu, Nicole Garcia)
1983 – A Vida é um Romance (La Vie Est Un Roman. Vittorio Gassman, Fanny Ardant).
1984 – L’Amour à Mort (Fanny Ardant, André Dussolier). 1986 – Mélo (Sabine Azéma, Pierre Arditi)
1989 – Quero Ir para Casa (Je Veux Rentrer à la Maison. Catherine Arditi, Gérard Depardieu)
1993 – Smoking/ No Smoking (Idem. Sabine Azéma, Pierre Arditi). 1997 – Aquela Velha Canção/ Amores Parisienses (On Connaît la Chanson. Sabine Azéma, Pierre Arditi)
2003 – Na Boca, não (Pas sur la bouche. Sabine Azéma, Audrey Tautou)
2006 – Medos Privados em Lugares Públicos (Coeurs. Sabine Azéma, Lambert Wilson)