Em Busca da Terra Sem Males
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Por Chris Raphael
Mostra Cavídeo em Berlim
Simplicidade. Uma pureza inocente, ingênua, beirando a inconsequência. A película em tela é um diário de campo , um documentário realista sobre a vida cotidiana de índios sem terra que tentam recriar a aldeia nos arredores do Rio de Janeiro, pacificamente, reservadamente. Mas podem ser despejados. E a crueza do cotidiano é retratada com austeridade.
Este é o enredo de “Em Busca da Terra Sem Males” de Anna Azevedo, que também assina o roteiro. A produção é uma parceria entre Cavi Borges e a própria Anna Azevedo e foi realizada em 2014. Em cenas lentas e relativamente pouco trabalhadas, vamos adentrando no dia-a-dia desta tribo, descobrindo sua realidade opaca, participando de suas crenças e lendas, contados pelos mais antigos. Podemos observar com concernente interesse as reinações infantis, as folias sem pretensões, as músicas de gênero estrangeiros com rap invadindo o universo guarani.
“Em Busca da Terra Sem Males” é moroso, tal como parece ser a vida dos indígenas retratados. Ainda que, provavelmente, tenha sido proposital, esta escolha interfere diretamente na percepção do espectador. O tédio não é um bom companheiro quando se trata do universo cinematográfico. Mesmo que a causa indígena nos seja cara, mesmo que exista empatia entre o público e objeto deste filme, é temerário que a plateia se distraia no meio da projeção, se perca em seus próprios pensamentos, deixe a mente percorrer outros caminhos e vá buscar outros interesses.
Não desmerecendo a causa indígena, que faz jus ao nosso respeito e consideração, a escolha corajosa do tema tão polêmico é digna de aplausos. Mas a fotografia simplista de não mente: embora honesta, faltou poesia onde mais se esperava: a vida pé no chão dos índios brasileiros é corriqueira demais, aventureira de menos.