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Editorial de Aniversário: 12 Anos do Vertentes do Cinema

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Editorial de Aniversário: 12 Anos do Vertentes do Cinema

Um balanço afetivo dos anos vividos

Por Vertentes do Cinema

Doze anos. O Vertentes do Cinema completa hoje doze anos. Uma longa jornada. Nasceu em 17 de setembro de 2009, às 14:45, horário da primeira postagem, mas que agora com as atualizações através dos anos, (re)datou para 17:45. O site surgiu de uma tangente, pululante, impulsiva, latente e decisória necessidade de se falar sobre cinema, com uma nova opinião da sétima arte. Durante o Festival do Rio, que nos acolheu com carinho e respeito. Um salve ao Estação, a Liliam Hargreaves e a Ilda Santiago. Um amigo e parceiro Bond, Felipe Bond, disse que agora começará a fase de rebeldia. De transgredir. Ou só comer Nutella mesmo e reclamar nas redes sociais. Não se sabe. Brinca-se aqui que são doze anos de escravidão, porque foi o melhor coisa e a pior decisão. No mesmo dia de sua fundação percebeu-se que nada mais seria como antes. Que bom! Buscamos mudanças diárias, não é mesmo? Dali para cá, lembro como se fosse hoje, ouvindo Sigur Rós e a música “Untitled #3 – Samskeyti”, o Vertentes do Cinema quis ser um “mochileiro” do audiovisual, consumindo material bruto e lapidando palavras.

Não foi fácil toda essa jornada. Nunca é. Parece que quanto mais se avança, mais dificuldades aparecem. Minha mãe sempre me disse que se ficar mais pesado, mais existe a certeza de que se está no caminho certo. Pois é. Minha mãe, Dona Linda (quer melhor nome?) é um importante capítulo à parte. Tudo que coletei e absorvi devo muito a ela. Nunca me proibiu e/ou me limitou de nada. De qualquer filme. Lembro de ter alugado aos 12 anos “120 Dias de Salò” e “Calígula”. Lembro de ter lido Sartre, Nietzsche, George Orwell e Agatha Christie no mesmo ano. Lembro de ter ouvido The Beatles, Janis Joplin, Xuxa e Wando. Sim, as “muralhas do seu quarto são bem altas, mas eu posso te alcançar”. Sim, é impossível escrever este texto sem ser pessoal, por isso incluirei essas interferências-parênteses. Voltando. Assim, toda essa bagagem foi incorporada e ao longos dos anos analisada, melhorada e testada, errada ou acertada para assim chegar a este momento atual. Sabe-se que ainda há muito a fazer. E estamos preparados. Cansados sim, muito até, mas confiantes de que estamos no caminho certo.

Quando se diz que não “está sendo fácil” é porque o Vertentes do Cinema é maluquinho de pedra. Não satisfeito em trabalhar com críticas (que antes eram opiniões – ainda acreditamos este ser a melhor definição a nossas análises) sobre os filmes (visto que talvez ninguém mais queira ler nada – quem sabe Tik Tok é a melhor opção – talvez ainda não, porque ainda nos resta energia de batalha), enfim, me desculpe pela quantidade de digressões, não satisfeito em fazer críticas, ainda escolhemos o nicho do cinema mais que independente, sabe aquele filme que ninguém quer ver?, pois é. Talvez sejamos extraterrestres perdidos na Terra, sem memória de nosso planeta intergaláctico. Só por isso, a terapia se faz obrigatória. Mas e se dissermos que optamos por tudo isso morando no Brasil, lugar que acredita mais no “excepcionalismo norteamericano” e de que lá na América a grama é mais verde. Vamos por partes! Jack ficaria feliz. O que explica então a decisão de produtoras e assessorias de imprensa de escolher trechos de crítica gringo nos trailers de filmes brasileiros e não as nossas brazucas? Não se explica. Talvez nem Freud, que “pediria para sair”. Será que até mesmo aos brasileiros nós brasileiros somos inferiores? Retórica invertida à vista. Da terra firme ao mar. Depois dessa, o site só merece mesmo a internação. Mas nós somos brasileiros, não desistimos nunca e até Deus também é.

Não é só isso tudo que dificulta o processo de quebrar barreiras. Há uma internalização do Hype, ora barrista, ora afetiva, ora amigável. Nós sabemos que é intrínseco ao ser humano a busca da afinidade entre iguais. Pensar, se comportar e agir da mesma forma atrai semelhantes. É lógico. Mas isso cria novas barreias de segregação e não a união. Por mais que os americanos sejam individualistas em seus quereres e extremamente competentes, eles permitem que talentos cresçam. Uma contradição do aqui com o lá. Se não nos juntarmos, seremos sempre “concorrentes” por migalhas visando o “Eldorado” estrangeiro. Não, não desistirei. Já tomei mais café. Já troquei a carga da caneta. Bora mais adiante. Continue a nadar, continue a nadar… Entre trancos e barrancos, processando limitações e inaptidões, sem qualquer patrocínio e apoio financeiro, nós do Vertentes do Cinema estamos mais vivos que nunca. Vocês terão que nos aguentar. O Cineasta e produtor Cavi Borges lançou até o bordão “Vertentes sempre na frente”. E um último agravante é a obrigação de se estar conectado muitas horas por dia nas redes sociais. Um dia sem postar gera “punição” e “perda de likes”. A popularidade vai por água abaixo. Gente, mas como posso pensar e elucubrar uma crítica?

Em doze anos, muito conteúdo exclusivo foi produzido. O Vertentes do Cinema realizou centenas de vídeos, entrevistas e inúmeras live. Muitas e muitas críticas. Foi uma porta de entrada a muitos críticos. Artigos, listas, cineclubes, propulsor-fomentador da importância dos curtas-metragens, podcasts, cursos… Colaborou com revistas, organizou mostras. Adentrou de cabeça no universo do cinema. Saltou no vazio e fez muitos amigos. Podemos dizer que ajudamos um pouco. Mas estamos aí para mais. Com Tudo Sobre, com a Revista da Semana do Vertentes do Cinema, com as exibições de curtas-metragens, com a cobertura de festivais e/ou mostras nacionais e internacionais. Sim, talvez o Vertentes seja mesmo abusado. Quem diria que no quarto ano de existência já estaria no Festival de Cannes, depois no de Berlim, de Toronto. Se não fosse toda ajuda do amigo Filippo Pitanga, que me obrigou a aceitar a aventura à terra-costa francesa, estaria eu aqui sonhando e não como já parte integrante. Com Berlim foi a mesma coisa. Uma visita de namoro fez com que me apaixonasse pelo festival. A relação acabou, mas Berlim ficou. Já com Toronto foi loucura mesmo. Detalhe: fiquei hospedado na mesma rua do “Che” Benicio Del Toro. Todo dia eu encontrava com ele no mesmo sinal da rua, até que começamos ir às sessões juntos. É tanta história. E eu devo toda essa experiência ao Vertentes, que minha mãe chama de neto. Sempre se despede de mim mandando um beijo para o site. Loucura? Não sei. Mas não quero mesmo que isso acabe. Em doze anos, praticamente o que eu vivi foi pelo Vertentes. É por isso que digo que (talvez seja uma relação abusiva – estou sendo sarcástico aos doutrinadores de plantão) foi a melhor e a pior coisa. Porque casamento é isso. Nos melhores e piores dias.

Sim, o Vertentes do Cinema é muito mais que um site. É um álbum de memórias. De análises, de contradições, de mudanças, de consciências redefinidas. Tudo isso está presente aqui. O humor livre, espirituoso, debochado, ingênuo, orgânico, arrogante, de quebra do politicamente incorreto, usando muito “South Park”, assumimos. Sim, nós não temos orgulhos de expor falhas, erros e vulnerabilidades. É talvez esse conjunto que consiga melhor explicar nossas críticas e nosso tom de enxergar o mundo. Mas o que nós queremos Mário Alberto? Apenas continuar. Melhorando, nadando, descobrindo e encontrando na sétima arte formas-exemplos de lidar com nossas próprias vidas. Semanas antes do Vertentes completar aninhos, uma nostalgia bate em mim. Talvez por um fim de ciclo anual, em que faz balanço para saber se a empresa deu lucro ou prejuízo. Não vejo assim, mas sinto uma urgência de completar tarefas atrasadas. Exatamente a mesma coisa acontece no fim de ano. Eu sei. Uma formalidade boba. Mas…

E então depois de tudo em seu segundo ano comemorando na quarentena contra o vírus inimigo número um do mundo, o Vertentes do Cinema chega aos doze anos. Muitos sonhos, muitas ideias e muitos projetos já engatilhados. Desistir, jamais! Queremos mais, ainda que seja mais pressão, mais trabalho, mais ansiedade. Faz parte, já dizia o filósofo popular Kleber Bambam. Desejamos arduamente, com todas a força de nossas vontades, preservar a cinefilia reinante que habita em nós. Com olhar crítico. Sim. Mas também com aquele tesão adolescente de vibrar e tremer todo o corpo quando o filme de um diretor que admiramos é lançado. Somos os Neo Jovens Turcos. Pretensão? Muita. Mas quem não é assim, não é? O site esta com atualizações diárias. Todo dia, dicas de streaming. E uma novidade, o Vertentes News, revista semanal em vídeo (pelo youtube) guiando todos pelas novidades e estreias do universo do audiovisual pelos vertenteiros, trabalhadores hardcore da sétima arte, Fabricio Duque, Vitor Velloso, João Lanari Bo e Ciro Araújo. Cola com a gente! Com álcool gel e distância (desculpe-nos, mas é até essa pandemia surreal acabar).

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