Diretor, Roteiro e Produção: Aluizio Abranches
Elenco: Rafael Cardoso, João Gabriel Vasconcellos, Fábio Assunção, Júlia Lemmertz, Gabriel Kaufmann, Jean Pierre Noher, Mausi Martínez, Louse Cardoso, Lucas Cotrim.
Fotografia: Ueli Steiger
Trilha Sonora: André Abujamra
Distribuidora: Downtown Filmes
Ano: 2009
País: Brasil
COTAÇÃO: FRACO
Apresentando a opinião
A médica Julieta (Julia Lemmertz) é mãe de Francisco (interpretado por Lucas Cotrim, quando criança, e por João Gabriel, quando adulto), fruto de seu relacionamento com o argentino Pedro (Jean-Pierre Noher). Depois da separação, ela conhece o arquiteto Alexandre (Fábio Assunção), com quem tem outro filho, Thomás (Gabriel Kaufman/Rafael Cardoso). Como cria os meninos juntos, Julieta é a primeira a perceber que no carinho dos irmãos se desenha uma sólida paixão.
O tema abordado no novo filme de Aluizio Abranches (o mesmo de “Um copo de cólera”) é polêmico e objetiva a quebra de tabus por tratar com naturalidade uma história incestuosa entre dois irmãos de pais diferentes. O filme não é sobre a homossexualidade dos personagens, e sim pelo amor incondicional de um pelo outro desde que nasceram. Os pais aceitam o comportamento não condizente com as regras da sociedade e resignam-se por não conseguirem mudar a intimidade ao avesso, como é vendida a idéia da trama. “Intimidade demais pode sexualizar a relação”, diz-se.
O longa de noventa minutos incomoda. Tanto na mensagem que passa, quanto na parte técnica. Em relação a primeira, esse incondicional apresenta-se sem barreiras e sem conflitos. É livre, assim como todo filme do Abranches, com nudez sem pudor, não tentando ser politicamento correto, já que não julga, mas faz com que o espectador reavalize a sua vida amorosa. Para os solitários de plantão, o efeito é devastador. A crueldade com que a felicidade da tela é imposta chega a ser insuportável. Tudo é muito perfeito e no lugar. Dando-se conta de que é para sempre, por sem sangue do mesmo sangue.
A parte técnica não supre a idéia do mesmo. O excesso de cameras lentas e de músicas sentimentalóides realiza o processo de afastamento de quem o assiste. Os diálogos são artificiais dentro da superficialidade do realista. Os enquadramentos são limpos e competentes, porém faltou ousadia. Em contrapartida, a visceralidade e a sensualidade explícita das ações devolvem o contexto do que se deseja transmitir. Alexandre Borges deve ter ficado com ciúmes das cenas de sua mulher, Julia Lemmertz e Fábio Assunção. A interpretação dela é incrível, com o seu olhar que externaliza a sensibilidade introspectiva quando diz “A vida tem dois lados: o lado bom e o outro. Prestar mais atenção a um, às vezes é difícil de identificar”.
“As pessoas felizes não precisam fazer história”, diz um dos personagens que dividem o tempo de duração do longa entre Rio de Janeiro e Buenos Aires, enquanto um tango embala a vida deles. “Eu te amo porque não podem nos culpar pelo nosso amor”, complementa-se com passagens de trechos do livro de Hilda Hirst.
O amor verdadeiro mútuo e integral deles ultrapassa as barreiras do que é certo e ou errado. Resumindo um filme com a ousadia da idéia, mas sem ousadia nas ações, manipulando os sentimentos a fim de que lágrimas pululem os olhos dos mais céticos. Não necessitava da apelação exacerbada. Até porque o filme tornou-se comentado antes mesmo de sua exibição normal. O comentário maior era pelo argumento, que poderia ter sido melhor trabalhado. O filme não é bom, mesmo despertando questionamentos pessoais, mesmo com a estética da tela e da beleza dos personagens. Portanto, não recomendo.
Aluisio Abranches é cineasta brasileiro. Acumulou experiências trabalhando como assistente de direção e produtor de vários filmes, estreando na direção de longas-metragens em 1999 com Um Copo de Cólera, inspirado na novela homônima de Raduan Nassar. Formou-se em economia.
Filmografia
1989 – A Porta Aberta (curta-metragem)
1999 – Um copo de cólera
2002 – As três Marias
João Gabriel Vasconcellos resolveu estudar teatro, ainda adolescente, para vencer a timidez. Anos de estudos e algumas montagens depois, parece ter superado a dificuldade muito bem. Aos 23 anos, é um dos protagonistas do longa “Do Começo ao Fim”, de Aluizio Abranches.
Na produção, João Gabriel interpreta Francisco, jovem que nutre um grande amor pelo meio-irmão Thomás, vivido por Rafael Cardoso, e quebra tabus e preconceitos para viver a paixão. Em entrevista exclusiva ao TE CONTEI, o ator fala sobre a carreira e o polêmico trabalho.
“O convite para fazer ‘Do Começo ao Fim’ aconteceu quando estudava na CAL (Casa de Artes de Laranjeiras) e o Aluisio chamou alguns atores para o teste. Duas semanas depois, já estava fazendo leituras com a Julia (Lemmertz). Tinha entrado no filme. Depois começaram a procurar o ator para fazer o Thomás, foi quando chegou o Rafael”, conta o ator.
Sobre o companheiro de cena, João é só elogios para Rafael Cardoso. “A gente se identificou de cara, mesmo sem muito contato. Ele é um grande ator e mesmo as cenas mais polêmicas não assustaram a gente. O objetivo de realizar um bom trabalho nos motivou todo o tempo”.