Zzzzzzzzzzzz…
Por Pedro Guedes
“Uma Nova Chance” é mais um filme de Peter Segal. Isto, para muitos cinéfilos, pode servir como um sinal amarelo, pois trata-se de um diretor que limita seu estilo ao básico das comédias ruins que são exibidas na “Sessão da Tarde” de hoje em dia – e não é exagero dizer que, para cada longa decente dirigido por Segal (“Como Se Fosse a Primeira Vez”), existem outros três que são, no máximo, medíocres (“Tratamento de Choque”, “Ajuste de Contas”, “O Professor Aloprado 2”, etc). E este, infelizmente, é o caso de “Uma Nova Chance”, uma obra que sequer tenta sair do lugar-comum e ainda leva o espectador a questionar a razão que motivou sua existência.
Escrito pela estreante Elaine Goldsmith-Thomas e pelo mesmo Justin Zackham de “O Casamento do Ano”, o roteiro acompanha Maya Vargas (a atriz-cantora Jennifer Lopez), que trabalha como caixa de supermercado e está insatisfeita com sua vida (tanto pessoal quanto profissionalmente). Depois de ser demitida, a vida de Maya parece ter entrado em um beco sem saída de uma vez por todas – o que muda, porém, quando seu nome vai parar nas redes sociais e chama a atenção de uma empresa de cosméticos que, ao fazer uma entrevista com ela, resolve contratá-la como consultora/empresária.
A premissa lhe pareceu interessante? Pois acredite: no parágrafo anterior, as situações retratadas no filme foram descritas de maneira mais emocionante do que nele próprio. Contando uma história particularmente chata e aborrecida, “Uma Nova Chance” passa boa parte do tempo mostrando Maya citando estatísticas, metas empresariais, quais frutas devem ser utilizadas para que um produto se torne mais lucrativo e tantas outras coisas que, honestamente, provocam mais tédio do que satisfação. Mas o pior, no entanto, é perceber como o longa é incapaz de desenvolver este conteúdo de maneira minimamente envolvente – e não importa se a premissa é desinteressante por natureza; o filme poderia (e deveria) transformá-la em algo aproveitável.
O que resta, portanto, é uma narrativa longa, monótona e que carece de imaginação. E isto se torna ainda pior quando nos deparamos com a quantidade de clichês que estão presentes no roteiro, desde a clássica historinha de superação (que, neste caso, envolve uma mulher de classe média que ascende para o alto escalão de uma empresa conceituada) até o reencontro entre a protagonista e uma filha que há muito se perdeu saltando de orfanato em orfanato (aliás, esta é uma subtrama que é enfiada à força no filme, soando não apenas cafona, mas descolada do resto da obra). Para piorar, as tentativas de humor se revelam preguiçosas e previsíveis: quando Maya entra em uma loja exibindo uma pose elegante, com direito a uma música charmosa e a planos rodados em câmera lenta, ela imediatamente tropeça e cai no chão. Simples assim.
Desta forma, não há muito que o elenco possa fazer, já que os personagens são definidos por traços unidimensionais: Dan Bucatinsky é um nerd (ou seria geek, já que a área dele é científica/tecnológica?); Charlyne Yi é uma jovem enérgica, mas que morre de medo de altura (e é claro que ela eventualmente surge sofrendo ao pegar um elevador panorâmico, como se isso fosse engraçadíssimo); Vanessa Hudgens se emociona ao finalmente reencontrar sua mãe biológica; e Leah Remini dá vida a um alívio cômico simplesmente insuportável e que quer chamar a atenção para si. Para completar, Jennifer Lopez se vê presa a uma protagonista aborrecida e desinteressante, não sendo uma surpresa que a atriz pareça sempre estar no piloto automático.
Dirigido com a mediocridade habitual de Peter Segal, “Uma Nova Chance” conta com momentos que se esforçam demais para fazer o espectador rir, chegando ao ponto de incluir uma sequência forçada e constrangedora onde as amigas de Maya surgem cantarolando na cozinha e o filho da protagonista aparece subitamente para completar a ação com uma dancinha boba. Aliás, é preciso dizer que Segal também falha nos aspectos formais e estéticos da obra, se limitando a um plano/contraplano básico e jamais exibindo um pingo de criatividade na elaboração dos planos ou na forma como a trilha musical se insere? Hum… não, isso já é de se esperar.
O que resta, no fim das contas, é um longa que dura pouco mais de uma hora e meia, mas que ainda assim parece caminhar no ritmo de uma tartaruga sob efeito de entorpecentes. Para que não me acusem de ter sido totalmente maldoso com o filme, digo somente que a mensagem presente no roteiro (“Acredite sempre em uma segunda chance e aproveite-a assim que ela aparecer!”) é bem intencionada.
Só é uma pena que o resto da obra seja frágil demais para permanecer na memória do espectador por mais do que cinco minutos, resultando em uma experiência que começa a ser esquecida assim que os créditos sobem e as luzes do cinema se acendem.