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Crítica: Sem Deus

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Caros Espectadores, Guardem esse nome: Ralitza Petrova, o Cinema Búlgaro tem Futuro

Por Francisco Carbone

Durante a Mostra de Cinema de São Paulo 2016

Ser um estreante em longa metragem na Bulgária é igual a ser estreante em qualquer outro país do mundo? E se além de ser estreante, você for mulher e com apenas três curtas anteriormente no currículo? Ralitza Petrova é talvez o nome mais impressionante no cinema mundial nos últimos tempos. Ela é mulher, búlgara, estreante em longas, que foi selecionada para a competição oficial de um dos grandes festivais da atualidade (Locarno) e saiu dele com o Leopardo de Ouro 2016, nada menos que o prêmio máximo da competição de um certame que cresce a olhos vistos de importância no mundo. A única justificativa que faria Ralitza brilhar nesse grau era unicamente seu talento, e essa jovem não deixa nada a dever a veteranos; nada mais justo que tenha saído vitoriosa independente do que costumam colocar como menor no universo cinematográfico, mesmo que se digam libertários. Serão mesmo? Ralitza não inventa a roda, mas a filma da forma mais enigmática e precisa possível. Um universo marginalizado de idosos, ladrões de identidade e profissionais em sub-empregos envoltos em papel gelado e rasteiro unem um grupo de pessoas que de forma alguma tem a melhor realidade do mundo; a protagonista Gana é um retrato dessas pessoas, que no fundo tem um bocado de todo mundo, ou do lado menos angelical de todo mundo. Gana é uma cuidadora de idosos a domicílio que também tem um esquema de venda das identidades desses mesmos idosos, trabalhando com um grupo criminoso local. Quando uma atitude impensada de Gana e um parceiro termina de maneira fatal, um efeito dominó de situações gradativamente perigosas virá na direção de todos Ao contar com o misto de sensibilidade e dureza de Irena Ivanova (igualmente premiada em Locarno) para dar credibilidade a sua anti-heroina, Ralitza entrega a humanidade do filme nas mãos certas. A bordo de uma lenta locomotiva de estupor e pesadelo crescente, ambas as artistas explodem para o mundo com um libelo contra a apatia nos dias de hoje. Contra e estranhamente a favor também, num binômio de difícil digestão. Em uma remota cidade da Bulgária, Gana cuida de idosos com demência e vende os documentos de identidade deles no mercado negro. Sua mãe, com quem mal fala, está desempregada, e a relação com o namorado não é boa. Nada parece ter consequências para ela, nem mesmo o assassinato de um paciente que ameaça expor sua atividade ilegal. As coisas começam a mudar quando Gana escuta Yoan, um novo paciente, cantando. A crescente empatia por ele desperta a consciência dela, mas quando Yoan é preso por fraude, Gana aprende que fazer a coisa certa tem um alto preço.

4 Nota do Crítico 5 1

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