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Crítica: Real – O Plano Por Trás da História

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Pelo Viés de um Economista Salvador

Por Fabricio Duque


Por lógica, nós, espectadores, podemos observar que quando uma obra cinematográfica é pautada pela urgência da realização, seu resultado fica indiscutivelmente aquém da qualidade. “Real – O Plano Por Trás da História”, de Rodrigo Bittencourt (que também assumiu a função musical na guitarra), do diretor quase debutante neste seara (de “Totalmente Inocentes”, uma comédia, e da minissérie “A Solteirona”), padece deste mal ao conduzir sua narrativa como se fosse um capítulo fechado de novela televisiva, intercalando com imagens de arquivos, permeado por uma narração explicada que reitera com palavras o que se irá assistir à percepção do público.

O filme foi o escolhido para abrir o Cine-PE, mas por causa da polêmica de boicote ao festival por parte de seus cineastas mais radicalmente esquerdistas, teve seu lançamento antecipado. Entre gatilhos comuns de expressões utilizadas e já enraizadas no imaginário popular, como “Complexo de Vira-Lata”, que foi cunhada pelo dramaturgo Nelson Rodrigues para explicar “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”, trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pelo Uruguai na final da Copa do Mundo no estádio do Maracanã, o filme pauta-se pela superficialidade por interpretações, ações e reações antinaturalistas, encenadas demais, dramáticas demais, adjetivadas pelo efeito clichê (ora para rebuscar, ora para chocar com baixo calão – “conivente” com “babaca brasileiro”), como se a preocupação maior fosse retratar um teatro mitigado completamente de realidade. “Se eu assistir a uma partida de futebol, eu sou um derrotado”, diz-se referenciando “Guerra Fria”, “Muro de Berlim”, “Collor”.

“Real – O Plano Por Trás da História” é mais uma biografia sobre o economista Gustavo Franco que necessariamente sobre o plano “que salvou o Brasil da recessão financeira” com o “plano mais eficaz da História”. O filme busca humanizar hipocrisias, quando um estudante “vira casaca”, que deveria estar na “Havana University”, mas está na Universidade americana de Harvard, “vota no Lula”, e no jantar pede “caviar e champanhe”. “Todo mundo tem direito a mudar de opinião”, defende-se, tentando um discurso inflamado sobre o Partido dos Trabalhadores, Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco.

O que incomoda mais no longa-metragem é sua estética simétrica, ensaiada e teatralizada, como por exemplo, as conversas na Embaixada de Nova York e “punições com ano sabático” para “escrever textos” de “esquerda esotérica” (e “não corrigir provas de aluno comunista”). “Como você está pensando em salvar o País?”, pergunta-se, soando tão ingênuo e inocente que beira o patético, soando inclusive como um programa humorístico televisivo, quase um “Casseta e Planeta”, cuja cena da contrapartida é um Gustavo Franco (um inflexível profissional que pensa no dinheiro, mas que o bem-estar social é mais importante), de uma rebelde jaqueta de couro à La James Dean, “a Margaret Thatcher dos trópicos” que, “por suas idéias”, “cria” o plano “revolucionário”.

1993. Arrogante e inflexível, Gustavo Franco (Emílio Orciollo Neto) é um crítico feroz da política econômica adotada pelo governo brasileiro nos últimos anos, que resultou em um cenário de hiperinflação. Opositor de políticas de cunho social, ele é adepto de um choque fiscal de forma que seja criada uma moeda forte, que devolva a dignidade aos cidadãos. Quando o presidente Itamar Franco (Bemvindo Siqueira) nomeia Fernando Henrique Cardoso (Norival Rizzo) como o novo Ministro da Fazenda, Gustavo é convidado a integrar uma verdadeira força-tarefa, cujo objetivo é criar um novo plano econômico.

“Real – O Plano Por Trás da História” é baseado no livro “3.000 Dias no Bunker – Um Plano na Cabeça e um País na Mão”, de Guilherme Fuiza. Aqui, pretere-se a agilidade da edição (e suas cenas de câmera lenta com a equipe caminhando – inferindo a super-heróis modernos de um filme da Marvel) que o detalhamento factual da versão literária.

A ideia do plano também nasceu pela pressa. Fácil. Rápido. Certeiro. Superficial. Uma crítica ao Brasil por nunca aprofundar seus estudos e colocar em prática ideias ainda não finalizadas totalmente pelo viés sócio-psicológico? “Precisamos de um que o Governo e o povo aceitem já”. Inevitável não referenciarmos à utopia cinematográfica fantasiosa de “Dave – Presidente por um dia”, de Ivan Reitman.

A “tropa inteira” entra na “guerra”. Novas ofensas comparativas são inseridas. “Ideias nazistas”, “Hitler do Brasil”, “Ilha da fantasia”, o mágico Harry Houdini e “sem erros do passado”, “acabar com a mamata”. “Um momento que o vira-lata ganha pedigree. Este é o Plano Real”, explica-se em miúdos. O roteiro transforma seus governantes em “cuidadores dos indivíduos sociais”. Pensa-se “sempre no povo. Na “estabilidade”. Na “democracia”. E depois nas “possibilidades”. Sim, é um filme pró-governista.

O elemento temporal do filme passa pelas reuniões com Serra, pelo exílio de FHC no Chile, pelo “milagre econômico”, pelos “símbolos nacionalistas como o Futebol, o “ópio do povo”, FHC que fez “campanha ao PT” (e nem cogita uma eleição), “remédios amargos”, “crise pedagógica no México”, a figura de Luis Inácio Lula da Silva (falando errado e sendo contra a tudo do Governo), “comparação do Real com um saco de batatas” (“batatas velhas por novas” – ele fala na língua do “povo”). E sua derrota é iniciada quando assiste ao Brasil jogando. Clichês envoltos em clichês. “Câmbio é uma espécie de mágica”, diz-se. “Real, a moeda do povo”, “Preço alto a pagar”.

Como já foi dito, é um filme sobre Gustavo, de “narcisista egocêntrico” ao sentimento de redenção. A mensagem que fica: Gustavo “salvou” o país e fez tudo que pode (os fins que justiçaram os meios) para a “paz financeira” do povo brasileiro, e até mesmo passando pelas “garras”, em 2003, do juiz Sergio Moro. Um filme ingênuo que repete o entendimento que o “povo” não precisa de qualidade e que pode sim ser nivelado por baixo.

2 Nota do Crítico 5 1

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