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Crítica: Peixonauta – O Filme

E mais um filme foi salvo!

Por Fabricio Duque


“Peixonauta – O Filme”, animação cem por cento nacional criado pela produtora TV PinGuim, é dirigido pelo trio Célia Catunda, Kiko Mistrorigo e Rodrigo Eba! Diferentemente de outras produções de gênero, este, destinado assumidamente ao público infantil, constrói sua narrativa (que lembra a do seriado televisivo “DPA – Detetives do Prédio Azul”, que virou filme nas mãos de André Pellenz) pelo tom espirituoso.

Com sacadas e referências perspicazes que vão de inserções da música “Jura” (samba composto por Sinhô e gravada em 1928 pelo seu aluno de violão, Mário Reis, também gravada por Aracy Cortes e Noel Rosa) à cena de “Homem de Ferro” em “Os Vingadores” (passando pelos acordes do filme “A Pantera Cor-de-Rosa” e da brasilidade de Luiz Gonzaga), nós espectadores continuamos a acreditar que apesar de todas as dificuldades de se fazer cinema no Brasil, especialmente no gênero animação, “Peixonauta – O Filme”, primeiro longa-metragem em 3D, já desenha um caminho de sucesso, principalmente pela atmosfera inteligente não didática. Diverte as crianças e encanta os adultos.

Peixonauta é um super-herói “agente secreto” do dia-dia, uma mistura de peixe com astronauta. Ele voa, usa roupa tecnológica (quase a do “Robocop” mais humanizado), ora com traje de água (referência à amiga de Bob Esponja) e conserta antenas no espaço para ajudar os amigos a assistir um jogo de futebol com seres do mar (lembrando o desenho “Bob Esponja” e “Procurando Nemo”). “Santa Tabarana!”, diz-se com vocativo (Tabarana é um peixe ósseo de escamas, semelhante ao parente dourado).

“Peixonauta – O Filme”, ambientado em São Paulo (e o Masp – o amor está no ar), absorve a referência, a adaptando e assim cria um universo próprio, engraçado, de acordo com valores morais, sem didática padronizada. É um filme que ensina com espontaneidade e aventura a vida normal (como a excursão escolar a fim de conhecer mais sobre astronomia) e seus tipos característicos e aceitos em suas diferenças, manias, idiossincrasias, meditações, flertes, limitações, sonhos, preguiças e quereres imediatos. Uma das mensagem é a de que se deve deixar cada um ser o que quer e consegue ser, como o funcionário público e o macaquinho que pensa de forma mais óbvia (e usa gel no cabelo).

O filme imerge o público no universo a física quântica. Detecta-se problemas (principalmente os ambientais do lixo espacial), buscando os solucionar com fórmulas matemáticas. É orgânico, humanista e possível, apesar da ficção científica empregada, que mescla magia, amizade, a bola Pop que fornece pistas-dicas (“Vem a POP indicar / Pra entender o mistério / Todo mundo vai dançar” – que ajuda como um jogo interativo) e a curiosidade inocente, apressada e inerente de toda e qualquer criança (que causa a imprudência sem querer “querendo” de brincar com coisa séria).

Na história, Peixonauta vai até a cidade junto com seus amigos Marina e Zico, para tentar resgatar o Doutor Jardim, avô de Marina. Mas chegando lá, descobrem que todos da cidade sumiram. Para solucionar o problema, precisarão da ajuda dos mais renomados peixes cientistas da O.S.T.R.A. (Organização Secreta para Total Recuperação Ambiental).

Peixonauta aceita “mais uma aventura, mais uma missão”. Algo misterioso acontece na cidade e pessoas começam a diminuir. “A ilha dos macacos é mais agitada. Será que desligaram a cidade?”, diz o amigo macaco com poesia popular coloquial. O filme não se faz de rogado e pontua críticas sociais. Os humanos quando expostos ao desespero, tornam-se ogros-animais à sobrevivência do mais forte, potencializando a máxima “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. Mas a televisão aqui tem a responsabilidade de salvar e informar as pessoas (os “pelespectadores”) com os procedimentos ao antídoto. Não sei se é viajar na batatinha, mas o casal de idosos lembra o do filme “Titanic”, de James Cameron, só que não são tão fofos. A senhora diz a seu marido “Pelo menos não é futebol no canal”.

Há respeito e entendimento mútuo. Cada um sabe até qual nível ir para não ofender a individualidade do outro. Mas há zoações, como o GPS “achador de foguetes” que fala com sotaque português de Portugal. Todos têm química em seus relacionamentos com seus próximos. “A amizade é matéria-prima”, diz-se os “alquimistas”, “peixes-cientistas”, que com tentativas, erros , rotas e cálculos buscam acertar a fórmula da cura. Peixonauta é super-herói na essência, incondicionalmente altruísta. Os outros são mais importantes. E contam com ele para sobreviverem. E assim, ele busca, igual ao desenho das “Meninas Super-poderosas”, salvar mais um dia.

“Peixonauta – O Filme” também aborda a possibilidade da morte. Da perda. De que todo e qualquer super-herói pode deixar de existir. “Juntos, nós somos demais”, finaliza-se com a realização de um filme ficcional que conta com Playmobil, infere estrutura ao cineasta Michel Gondry e brinca com “Ser ator é tão difícil”. Concluindo, um filme que acontece despretensiosamente, sendo a própria essência. Por isso, transcende o normal ao necessário, quase obrigatório.

O peixe-detetive chega à tela grande após ser exibido na televisão por assinatura no Brasil e rodar em mais de 90 países, em mais de 10 idiomas. A trilha sonora foi realizada por Zezinho Mutarelli, com canções originais suas e também de Paulo Tatit, que já assinava anteriormente a trilha da série de TV. O filme tem ainda a canção “Uma coisa de cada vez”, de autoria dos Titãs.

“Tivemos desde o início a preocupação de não fazer um filme que fosse apenas um episódio longo. Na adaptação para o cinema, o agente secreto Peixonauta está mais super herói do que nunca! Com o seu escafandro cheio de novos recursos, ele vai sair do Parque das Árvores Felizes para viver uma aventura na cidade grande pela primeira vez. A trama tem muita ação e mistério sobre um perigo que ameaça toda a população”, conta a diretora do filme e criadora dos personagens Celia Catunda.

“O filme mostra pela primeira vez as instalações da O.S.T.R.A., com seus incríveis e inusitados equipamentos altamente tecnológicos. A sala de comando é uma divertida referência aos filmes de espionagem.”, explica Kiko Mistrorigo, que assina a direção do filme e criação dos personagens junto com a Celia. Outro atrativo do longa-metragem são os cenários que mostram os ícones da cidade de São Paulo como o MASP (Museu de Arte de São Paulo), o Planetário do Parque do Ibirapuera, a Estação da Luz, o bairro da Liberdade etc…”

O peixe agente secreto super especial apareceu pela primeira vez em 2000 no site do Estadinho, suplemento infantil do jornal O Estado de São Paulo. Desde o início, os criadores Celia Catunda e Kiko Mistrorigo tinham a vontade de transformá-lo numa série de TV e, após a associação com o canal Discovery Kids, o desenho começou a ser produzido em 2007.

Na Discovery Kids, Peixonauta foi o programa mais visto na TV a cabo brasileira em 2009 e 2010, mantendo-se entre os mais vistos durante cinco anos. Foram produzidas 2 temporadas, totalizando 104 episódios de 11 minutos. Peixonauta recebeu o Prix Jeunesse Latino Americano, o prêmio APCA, prêmio APEX e atualmente é veiculada em 90 países. Em breve, Peixonauta ganhará uma nova temporada que já começou a ser criada pela TV PinGuim.

O produtor executivo Ricardo Rozzino conta como esta animação foi pioneira em vários sentidos. “Quando a primeira temporada da série Peixonauta começou a ser produzida não havia suporte de leis de incentivo para obra seriada de TV e o canal Discovery nunca havia apostado numa produção infantil brasileira. Não havia histórico de produção de animação em larga escala no país. Foram produzidos 52 episódios, totalizando 572 minutos em 18 meses. Para financiar o empreendimento, a produtora assinou um dos primeiros contratos de financiamento do BNDES, da linha destinada à economia criativa – Procult. O resultado positivo obtido pela série abriu portas para mudanças em todo o setor audiovisual. A TV PinGuim trabalha com foco em produtos de alta qualidade, sustentáveis e destinados ao mercado global. Estamos presentes em canais de TV, nas mais importantes plataformas digitais, peças teatrais, licenciamento de produtos, aplicativos e agora no cinema. É um desafio permanente criar as histórias, gerenciar recursos financeiros, treinar e manter profissionais e estar presente no mercado com obras que sejam queridas por crianças do mundo todo”.

No mês em que o filme chega aos cinemas de todo país, também estão programadas várias atividades culturais em torno do agente secreto. O musical “Cante com Peixonauta” estará em cartaz no Teatro Folha, em São Paulo, todas as quintas às 16h, como parte da programação do Festival de férias. E alguns shoppings das cidades de Aracaju, Blumenau, Campinas e Goiânia terão atrações especiais com o peixe-detetive e seus amigos.

4 Nota do Crítico 5 1

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