Os Incontestáveis

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A jornada de Bel pelas estradas da escrotidão

Por Francisco Carbone


Se eu tivesse que usar uma palavra da moda para definir “Os Incontestáveis”, o longa-metragem de estreia na direção de Alexandre Serafini, e que foi o filme de encerramento do 23º Festival de Cinema de Vitória, essa palavra seria ‘machista’. Na coletiva de imprensa que acabou de acontecer na Mostra de Cinema de Tiradentes 2017, o diretor disse que “os homens precisam melhorar, para eu melhorar as imagens dos homens”. E é rebatido por Elisa Capai com um “Todas as mulheres são prostitutas e isso me incomodou muito”.

Uma pena porque a escrotice (qualidade de escroto, que no dicionário define como reles, ordinário, baixo, vil, ruim, mal feito, grosseiro, mau caráter, estúpido) que seu filme parece se debruçar a princípio é muito divertida e muito… bem, acho que só muito divertida. Mas é isso, o filme abre e talvez por quase 20 minutos ou mais ele seja uma sucessão de diálogos muito escrotos entre uma dupla de irmãos super disfuncionais: um mais tímido e deslocado, outro esporrento, boca suja e vendendo carisma, por conta do genial Fábio Mozine, um ator que nem se esforça pra ser excelente.

Mas na primeira personagem feminina que aparece, não demoram 30 segundos para ela e todas as outras que aparecerão  serem transformadas em objeto sistematicamente. O filme tem um belo plano feminino que infelizmente dura menos de 30 segundos também com o olhar de uma jovem que espera mais do personagem Bel de Mozine, mesmo sabendo que não terá nada dele assim como nunca teve nada de nenhum outro homem. Um vislumbre de um filme que poderia ter sido e que ao término deixa a impressão nunca ter sido a intenção de ser.

A sinopse nos conta que a bordo de um Opala 73, os irmãos Bel e Mau viajam pelas estradas do Espírito Santo em busca do carro, um Maverick 77, que pertenceu ao pai, o velho Elói, que os abandonou na infância, deixando para trás apenas ressentimentos. A jornada os leva até a distante e esquecida vila de Cotaxé, palco de históricos conflitos de terra, fronteira e poder e onde o destino dos irmãos e da região entrarão em rota de colisão. Agora, a sua viagem, movida a conhaque, rock pesado, humor negro e psicodelia, os levará ao seu passado e ao seu destino.

Só que essa grosseria generalizada buscada e alcançada, talvez até com o machismo no meio corrompendo as ideias do filme, vão por terra quando o filme vai longe demais na proposta e decide fumar um baseado forte demais até para as pretensões de Serafini e joga tudo e todos numa situação histórico-bíblico bem complicado de defender. Ficou claro o desagrado da plateia com o ritmo do longa (1:20 que parecem em determinado momento 3 horas!) e com os rumos suicidas que o filme toma. Testemunha a tudo, o Bel de Mozine parece ser o retrato do sentimento: “gente, chega, já deu, para com isso tudo”, e até nesse momento involuntário ele se sobressai mesmo quase mudo. Seu olhar e atitudes dizem.

É por conta de Mozine e do desfecho inspirado com sabor aromatizado de Monte Hellman que ‘Os Incontestáveis’ se livra de uma saraivada mais aguda, mas não deixa de ser triste ver o projeto sair do universo engraçadinho e mergulhar num discurso ofensivo e num samba indigesto.

O elenco do filme traz também os atores Tonico Pereira (o Mendonça, de “A Grande Família”) e Fernando Teixeira (“Baixio das Bestas”, “Aquarius”). O roteiro é fruto de uma parceria entre o diretor e o dramaturgo e escritor Saulo Ribeiro. A produção ficou a cargo da Horizonte Líquido e da Ladart Filmes. “Os Incontestáveis” foi contemplado pelo Edital de Produção de Longa-Metragem, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e conta ainda com apoio da Croma Produções e da Rede Marcela.


2 Nota do Crítico 5 1

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