O Segundo Jogo
O texto interpretado
Por Fabricio Duque
Festival de Berlim 2014
“O Segundo Jogo”, filme mais recente do diretor romeno Corneliu Porumboiu (de “Quando Cai a Noite em Bucareste”, “Polícia, Adjetivo”, “A Leste de Bucareste”), teve sessão concorridíssima e lotada no último Festival de Berlim 2014. Aqui, segue-se a estrutura característica de seus longas-metragens anteriores, a da metalinguagem, ao utilizar uma conversa com narração de um jogo de futebol antigo entre o próprio diretor e seu pai, inserindo o elemento pessoal da contradição argumentativa. Ambienta-se a memória afetiva, por lembranças de técnicas futebolísticas.
A câmera estática na televisão mostra um estádio lotado durante uma nevasca e referências a posições diagonais e flexíveis, dando enfoque a um jogador e seu “debut”. Na verdade, o jogo é um pretexto a fim de questionar a política (e o comunismo) da época criando paralelos atuais de frases como “ninguém vai assistir isso”. Corneliu sempre tenta resgatar suas raízes barristas, poéticas, de bucolismo arcaico. “Futebol é igual ao cinema. Consome ali e acabou”, diz-se. “Tenho a visão melhor destes idiotas na neve”, rebate-se. O amadorismo proposital “quebra” a estética do cinema, buscando abrigo nas obras dos diretores Jean-Luc Godard (ficcional que quer ser documentário) e Eduardo Coutinho (documental que quer ser ficção). Nós ficando sabendo que a gravação era só uma bateria e não poderia pausar.
Nada acontece ali. Um jogo “gelado”. O “juiz”, o próprio pai. O roteiro busca “trazer” acontecimentos irrelevantes, um dos temas preferidos por Corneliu, vide “À Leste de Bucareste”. A grande maestria do filme, assim como a do próprio diretor, é o texto “interpretado”. As teorias “didáticas” naturalistas são inseridas entre risos e tédios do espectador. “O Segundo Jogo” é extremamente experimental, que bebe na mesma essência creditada do cineasta romeno em questão aqui. Recomendado.