Por Fabricio Duque
“O Quarto de Jack – Room”, baseado no livro homônimo (mas não inspirada em nenhum caso específico da vida real) “Quarto”, da irlandesa Emma Donoghue, conduz-se por camadas psicológicas cognitivas, como se a narrativa fosse apresentada em capítulos de transformação pessoal-existencialista dos protagonistas. Basicamente, uma mãe e um filho (com cabelo grande – da “força de Sansão” – parecendo uma menina – e que não espera nada, porque não sabe que o real “mundo” existe) que vivem exclusivamente em um quarto. Inicialmente, podemos inferir que seja uma das metáforas da maternidade, cuja progenitora envolve seu “rebento” em um mundo único, depressivo, simbiótico, super-protetor, co-dependente, de retroalimentação da loucura vivida, e que impede o corte do “cordão umbilical”. No quarto é o mundo deles. É gigante. E sobre o “Conde de Monte Cristo”, história lida que também conta como o protagonista literário ficou preso em uma cela por diversos anos. A vivência plena e completa, lugar este que o pai (o “mágico Velho Nick” – outro nome dado para o ‘diabo’ no cristianismo, que remonta a meados do século 17 – “que consegue tudo”, que sustenta tudo e todos ali, e que “recebe” em troca a submissão incondicional da esposa) não pode adentrar. Durante cinco anos. Quando informações adicionais são reveladas ao espectador, nossa sensação é transmutada em claustrofóbica. Aquele mesmo ambiente nos oprime e nos limita. “Se você não liga, não importa!”, diz-se, entre histórias-fantasias narradas. Agora a metáfora é outra. Já que vivenciam anos sequestrados em cárcere privado, cujo filme austríaco “Michael”, de Markus Schleinzer, é inferido pela semelhança do tema e pela síndrome de Estocolmo (quando um refém se apaixona pelo sequestrador – carinho, cuidado, comodismo, praticidade, resignação). O filho, um indomável sonhador, que tinha a televisão como seu mundo – uma metáfora à alienação, que apenas vê a chuva, a claridade, o céu como “espaço sideral”, ganha da mãe o “acordar”, o entendimento, as “desmentiras” e o “mundo que é muito mais perto”. “Existe dois lados para tudo”, ensina. É aí que o “Mito da Caverna” se instala. E a libertação, uma vida sem “regras” e sem limites, a descoberta dos cheiros, cores, sabores, tudo é novo, fresco, um renascimento. Na terceira parte do filme, Jack precisa adaptar-se, assim como o protagonista Chuck (Tom Hanks), de “Náufrago”, de Robert Zemeckis, logicamente, diferente do filme em questão aqui. Porque em “O Quarto de Jack”, dirigido pelo irlandês Leonard (ou Lenny) Abrahamson (de “Frank”), nosso personagem precisa expandir os quereres e no outro, a necessidade era constituída da simplificação. Abrindo um parênteses, conversando com os botões cinematográficos, percebemos que a felicidade não está em ter demais e sim alguém presente e amoroso (tanto que se abre mão do “objeto” de força para ajudar o amor maior). Jack (Jacob Tremblay – incrivelmente entregue e espontâneo em seu papel – definitivamente merecedor do Oscar de Melhor Ator) e sua mãe (Brie Larson – que venceu o Globo de Ouro 2016 – para o papel, ela isolou-se por um mês e seguiu uma rigorosa dieta como parte de sua preparação) são absorvidos bruscamente na agitação do “mundo” e precisam aprender as aceleradas novidades. A mensagem que captamos é que mesmo com tantos quartos diversos (o do cárcere, o do hospital, o da casa dos avós), com tantas possibilidades e infinitas “pseudo” liberdades da existência, o menos é mais e o viver simples acalenta. É a metáfora da proteção. O primeiro quarto era o útero, em que se podia viver quente sem preocupações externas. Também é a metáfora do crescimento à moda de “Onde Vivem os Monstros”, de Spike Jonze, em que responsabilidades e maturidades são obrigatórias. Concluindo, “O Quarto de Jack” é excelente. Recomendado. O livro faz parte do Plano Nacional de Leitura português, sendo livro recomendado no programa de português do 8º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada na sala de aula.
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Nota do Crítico
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