Curta Paranagua 2024

Crítica: O Homem Ao Lado


Ficha Técnica
Direção: Mariano Cohn, Gastón Duprat
Roteiro: Andrés Duprat
Elenco: Rafael Spregelburd, Daniel Aráoz, Eugenia Alonso, Inés Budassi, Lorenza Acuña, Eugenio Scopel, Debora Zanolli, Bárbara Hang, Enrique Gagliesi
Fotografia: Mariano Cohn, Gastón Duprat
Música: Sergio Pangaro
Direção de arte: Lola Llaneza
Edição: Klaus Borges e Jerónimo Carranza
Produção: Fernando Sokolowicz
Distribuidora: Imovison
Estúdio: Aleph Media / Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA)
Duração: 110 minutos
País: Argentina
Ano: 2009
COTAÇÃO: MUITO BOM

A opinião

“O Homem ao lado” busca o simbolismo da sociedade. O indivíduo tornou-se extremamente individualizado, egocêntrico e idiossincrático. A máxima popular “Meu direito começa quando o do outro termina” vive com os dias contados. As ações banais do cotidiano são intensificadas pelo exagero. Um simples barulho, como ligar o liquidificador, fora do horário “politicamente correto”, gera protestos e desencadeia a gota que transborda o copo cheio. Os dois lados oponentes estão corretos. Um procura a tolerância, o outro o direito legal. O filósofo francês Jean Paul Sartre já dizia que “o inferno são os outros”. A complexidade do ser humano é infinita. Neste filme, a questão levantada transcende o entendimento social. O litígio aborda a subjetividade elitizada versus a necessidade popular – e básica.

“Necessito de um pouco de sol”, diz-se. O filme inicia com ruídos intermitentes. O protagonista, Leonardo (Rafael Spreguelburd) , designer industrial que vive com a esposa Anne, a filha Lola e a empregada Elba, “rico” – e de sucesso – depara-se com a obra do vizinho, que deseja colocar uma janela para que assim possa ter alguma luz solar. Levam uma vida tranqüila até que o vizinho Victor (Daniel Aráoz) resolveu fazer ilegalmente uma janela que dava para sua casa. Esse vizinho representa o povo, lutando por um “lugar ao sol”. A obra continua, mas o que se leva a sério é a estética que deformará a inovada e premiada arquitetura. Eles moram na única casa feita na América pelo famoso arquiteto Le Corbusier, localizada na cidade de La Plata.

Leonardo insere-se no lado cultural e endinheirado da sociedade. Ele é arrogante, prepotente, mimado e determinado em suas ideias e ações. Sente a fama o dominar e o prender dentro de um mundo “claustrofóbico” de manias projetadas e massificadas. Enquanto Victor, um emergente, conserva a característica popular, pensando no pequeno gasto. As diferenças são enaltecidas. Quando uma ganha pelo conhecimento em si de mundo, a outra rebate com valoração dos princípios intrínsecos. Há soluções nesta vida integrada. Uma delas é a resiliência, que define a capacidade do indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. Esse conceito é diferente de resignação, que é o aceitar calado. A solução permite que se resolva o problema, sem que o mesmo se torne destrutivo.

A maioria das pessoas quer continuar com a conseqüência do ataque. O gosto pela reclamação – e pelo estado ranzinza – apodera-se da alma, impedindo que um novo olhar seja conseguido. Os indivíduos prendem-se mais e mais em suas manias, estas que são impostas a outros. Esses outros despertam o estresse e a agressividade. E o que seria apenas um suco batido no liquidificador pela manhã transforma-se numa batalha diária de uma guerra social, que só percebe a unilateralidade. Leonardo é influenciado pelo meio o qual vive, mitigando a chance de crescimento antropológico e aumentando pré-conceitos de outra classe social menos favorecida. Há uma cena incrível.

Os “ricos” estão ouvindo música experimental e internacional, quando uma batida considerada genial por eles, nada mais é que uma batida real na obra ao lado. Essa crítica questiona a “sabedoria” dos que acham que só o que sabem importa. Em outro momento, Victor faz uma “obra de arte” com munições e armas. Recorre-se ao constrangimento. O que menos sabe é o que possui um maior querer a novas possibilidades. A guerra neste caso é social. O final demonstra bem o que o longa-metragem se propõe: quer a desconstrução do próprio ser humano. Alfineta a “raiz” de ser algo. O dinheiro elimina as boas maneiras e a cortesia real. O que fica é a regra aceitável. Usar o cinto a fim de não levar uma multa. Não incomodar os outros por causa da represália da lei.

O medo é o novo condutor das relações humanas. A fotografia complementa o universo apresentado. É simétrica, limpa, claro, com tons amadeirados. O plástico que tampa a janela serve para quebrar essa rotina de linearidade sistemática. Concluindo, um filme que merece ser visto principalmente pelo seu conteúdo. O tema desperta a discussão dos limites permitidos no relacionamento social aliado a excelente interpretação de seus atores, que se entregam no realismo do dia-a-dia. Recomendo. Vencedor do Prêmio de Melhor Fotografia no Festival de Sundance 2010.

Os Diretores

Gastón Duprat (nascido em 08 de dezembro de 1969) e Mariano Cohn (nascido em 01 de dezembro de 1975) são diretores e produtores da Argentina . Eles começaram sua carreira na TV em 1999, quando criaram um programa inovador e interativo. “Queríamos fazer um filme sobre temas gerais e com poucos elementos, mas que fosse simbólico e abordasse a verdade das pessoas. Nesse caso, falamos do medo do desconhecido, do que é diferente… São coisas que interessam a todos nós e, nesse sentido, é um filme universal. O tom de humor foi surgindo espontaneamente no filme, porque nos pareceu o mais adequado para ele. Não pensamos em fazer uma comédia. Os gêneros não vêm antes dos filmes e, na verdade, nem sempre atraem mais público, como se pensa. Em “O Homem ao Lado”, as risadas são mais de tensão e de nervoso, que por gags que pensamos em colocar. O espectador termina ocupando um papel bastante ativo no filme, que por sinal tem passagens bem incômodas em determinados momentos. Gêneros, para mim, não dizem muita coisa”, disse a dupla.

4 Nota do Crítico 5 1

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