As Ideias Libertárias De Um Iluminismo Romanceado
Por Fabricio Duque
“O Amante da Rainha”, indicado aos Oscar 2013 de Melhor Filme Estrangeiro, aborda os primórdios do movimento iluminista, que fornecia poder ao povo, desintegrando regras aristocráticas da realeza. O Iluminismo configurava-se como uma novidade radical até mesmo aos indivíduos sociais participantes da plebe. A pretendida “época da razão” tinha o objetivo de reformar a sociedade e o conhecimento prévio, promovendo o intercâmbio intelectual contra a intolerância e os abusos da Igreja e do Estado. As primeiras ideias revolucionárias apresentavam a “contracultura”, por anos alienada e censurada. A hipocrisia comportamental era permitida, fechando-se os olhos aos acontecimentos libertários do mesmo “juri” que tomava as decisões políticas. O diretor dinamarquês Nikolaj Arcel (que fez o roteiro da primeira versão do filme “Os Homens Que Não Amavam As Mulheres”) corroborou as intrínsecas características deste tipo de gênero, imprimindo na narrativa um olhar europeu com estrutura comercial hollywoodiana. Apresenta-se como um exemplar comum, já repetido e conhecido esteticamente, porém insere elementos sutis que “faz toda diferença”, como a máxima popular, principalmente por personificar detalhes e pensamentos, em uma fotografia esfumaçada (na maior parte do tempo, devido ao clima natural) que se completa com a impecável direção de arte. O diretor deseja também contar a história de forma linear, preenchendo silêncios (esperados) existencialistas, com planos ágeis e compatíveis com os usados na televisão (de uma novela). O Rei “insano” Cristiano VII (interpretado por Mikkel Boe Følsgaard), recebe este adjetivo por sua excentricidade confundida com a loucura – que se humaniza, aos poucos, quando a trama explica os conflitos internos de próprias crenças políticas, o “obrigando” a interpretar o papel de um ator, a fim de mascarar as reais ideias revolucionárias. Assume então a passividade, extremamente cômodo a todos os outros envolvidos no Conselho Real. Buscando estreitar relações inter-países, organiza-se uma parceria, gerando o casamento com a jovem rainha da Dinamarca, Carolina Matilde (Alicia Vikander, da nova versão de “Anna Karenina”, outro filme de época), dotada de “tendências” iluministas, fica insatisfeita com a simetria perfeccionista das regras desta aristocracia, não encontra o “amor” no “coração” do Rei. Quando o limite aceitável das reações deste soberano esgota, um médico não convencional, Struensee (Mads Mikkelsen, de “Coco Chanel & Igor Stravinsky”, “Depois do Casamento”, “007 – Cassino Royale”), é chamado para acompanhá-lo (e tentar curá-lo) e assim consegue atingir em cheio os “desejos” literários de seu “mestre”, ocasionando uma paixão (previsível) com a rainha. Daí, o filme fica extremamente interessante, referenciando-se a filmes como “Os Sonhadores” e “Maria Antonieta”, sem o lado pop e moderno. Os três conectam-se pelo querer de mudar um conceito ultrapassado e indigno. O espectador pode chegar a conclusão de que não é com pressa veloz, nem leis verborrágicas, que se faz uma revolução. Precisa-se de tempo para que um resultado positivo seja absorvido. Mas uma coisa é certa, necessita-se do começo, que com a luta direcionada é capaz de transformar uma nação para sempre, como documenta a História (não ficcional). Concluindo, um filme que anda na corda bamba, buscando o limite entre o novo cinema europeu e a veia do estilo comercial. O equilíbrio buscado acontece, traduzindo a quem está na sala de cinema (porque é um longa-metragem que deve ser assistido na tela grande) um competente exemplar de abordagem do tema histórico do nascimento do Iluminismo, que teve como seguidores famosos, Voltaire, Kant, Isacc Newton, Spinoza, John Locke, Benjamin Franklin, Rousseau, Adam Smith. Em 2012, venceu o Urso de Prata de Melhor Ator (Mikkel Boe Følsgaard) e Melhor Roteiro no Festival de Berlim.