Por Fabricio Duque
“NN”, do diretor peruano Hector Gálvez, aborda o tema das pessoas desaparecidas, no período de 1980 a 2000, de seu país (a Comissão da Verdade contabiliza sessenta e nove mil no Peru, número muito mais alto que na argentina, trinta mil) por um grupo de antropólogos forenses que “investigam” ossos e histórias, motivado pela narrativa de uma natural curiosidade solidária (socialmente) e pela morbidez do realismo visual (comum e técnicos aos profissionais, mas chocante para as famílias). O filme, cujo título significa as letras de não identificação dos mortos) busca caminhar entre o “humano e a ética” em planos longos e objetos encontrados. De fornecer a paz a fim de tranquilizar as famílias (uma especificamente que precisa desfrutar do simbolismo respeitoso do enterro) burlando o descaso das autoridades e da própria burocracia que se reverbera por regras e interesses políticos. O longa-metragem traz o imaginário popular do povo peruano, que tem uma forte relação com os sonhos e com a roupa, que por si só, já traz toda uma história, criando o paralelo da imaginação da aparição (do vestido da menina) e da naturalidade da realidade (o jogo de futebol local). É a vida que precisa seguir em frente. O diretor disse que a atriz que vivencia, a esposa, é uma atriz de teatro. Hector, de tudo que ouviu, construiu a trama, que não se preocupa em aprofundar se as causas foram pela ditadura ou não. No Peru (o povo andino) já é comum ter o esquecimento e na argentina não. “NN” é sombrio, de direção firme e tem a música que participa como fio condutor (um misto de melodia clássica japonesa com irlandesa).”É nossa obrigação avisar”, diz e “ensina”. Vai do porão à cobertura; da escuridão ao claridade; do conhecimento ao depósito. Assim, a solução de “consertar” as vidas alheias, devido às impossibilidades do próprio trabalho, geram a “limpeza” não moral dos dois lados envolvidos. Um filme interessante, de crítica na própria trama e que “levanta” um sutil questionamento para o não “esquecimento”. Recomendado.