Curta Paranagua 2024

Crítica: Meu Namorado É Um Zumbi
A Metáfora Que Esquenta 
O Coração 
Por Fabricio Duque
O filme “Meu namorado é um Zumbi”, dirigido e roteirizado pelo nova-iorquino Jonathan Levine (de “50/50”, “Tudo Por Ela”, “The Wackness”) afasta-se da receita de bolo tradicional do gênero de filmes de zumbis, quando opta pela metáfora existencialista. O cineasta já mostrou em seus filmes anteriores a preferência por sair do óbvio narrativo e por não utilizar gatilhos comuns, conduzindo, competentemente, o tema, o desenvolvimento e a diversão, pelo viés da poesia concretista e cotidiana. Assim, traduz em palpável e aceitável o elemento surreal fantasioso, sem a pretensão e ou a amadora ingenuidade. 
É um longa-metragem que discute o futuro do mundo que vivemos. As matérias científicas reais provam que hoje em dia a demência social é uma característica futura extremamente possível, já que nos encontramos na fase do “autismo social”. Talvez pelo medo de se relacionar com os outros, as pessoas criam defesas virtuais, que as impedem de se comunicar verbalmente, de pensar e até mesmo de amar, assim ficam mais frias, mais individualistas e egoístas ao passar dos tempos, e só andam com outros seres (sempre com o celular entre a visão) pela imposição do meio o qual se encontram. Este preâmbulo pode ser exatamente atribuído ao filme em questão aqui. A narração inicial (e também a intercalada) do filme fornece o tom condutor do questionamento quanto à atualidade comportamental da sociedade. Com um elenco jovem (Teresa Palmer, Analeigh Tipton, Dave Franco), e “protegido” pelo ator John Malkovitch, a trama desenvolve-se, logicamente, com a necessidade de se utilizar os elementos característicos deste gênero. A história basicamente repete-se. Um grupo de humanos que fogem dos zumbis, os matando, mas o impossível acontece. O amor faz com que voltem à vida. O espectador é presenteado com um roteiro perspicaz, na medida certa, atingindo um resultado mais do que satisfatório. 
Há long-plays em vinil (“o som é melhor”); protegidos em um avião; zumbis comendo cérebros para “sentir menos morto”. Praticamente quase tudo que se vê e que se define (em palavras e ou adjetivos) são transpassados como identificações ao nosso redor. O “quase” tem a ver com as perseguições, sustos, tiros e afins. A trilha sonora é um caso à parte. Quando o zumbi R. (o ator Nicholas Hoult de “X-Men: Primeira Classe”; “O Direito de Amar”) quer se declarar, Bob Dylan é colocado na vitrola. E recebe um “O que você é?”. É inevitável a comparação. Talvez pareçamos zumbis por absorver demais a televisão, a música pop repetitiva e principalmente a opinião dos outros. Talvez nós precisássemos esquentar nossos corações frios para nos salvar. Ou talvez padeçamos da iminente demência social. 

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