Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Kurt Fuller, Owen Wilson, Marion Cotillard, Michael Sheen, Tom Hiddleston, Kathy Bates, Rachel McAdams, Gad Elmaleh, Carla Bruni, Nina Arianda, Mimi Kennedy, Corey Stoll, Manu Payet
Fotografia: Darius Khondji
Direção de arte: Anne Seibel
Figurino: Sonia Grande
Edição: Alisa Lepselter
Produção: Letty Aronson, Raphaël Benoliel
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: Gravier Productions
Duração: 100 minutos
País: Estados Unidos / Reino Unido
Ano: 2011
COTAÇÃO: EXCELENTE
Este filme fez parte da crítica REAÇÃO DO PÚBLICO. O Vertentes do Cinema assiste junto com o público. A sessão escolhida foi Sábado, no Estação SESC Espaço 1, dia 18 de junho de 2011, às 15:30. Na plateia, cem pessoas, principalmente a terceira idade (que conversavam excitadas esperando o filme começar), solitários e poucos casais. Os trailers: Mostra Almódovar, Mostra Word Press, Estranhos Normais, Não se preocupe nada vai dar certo, Potiche e Cilada.com. Não havia quase nenhuma pipoca. Filme para cinéfilo. A sessão anterior vendeu 48 ingressos. Já as últimas, de 19:30 e 21:40 lotaram os 235 lugaram.
A opinião
Há consenso entre os apreciadores do cinema de Woody Allen em relação aos seus novos filmes. “Até o pior longa-metragem do diretor é bom”, repete-se a fim de fornecer embasamento as suas últimas realizações, que não se equilibravam em sua carreira. Faço parte desse pensamento. O diretor americano Woody Allen, apaixonado por Manhattan, obteve sucesso sendo ele mesmo. Imprimiu nas telas idiossincrasias, possibilidades existenciais, questionamentos religiosos, situações surreais. Tudo com exacerbada verborragia irônica. Ele permite a si mesmo a experiência. Tenta a vivência diferenciada, como fez com Londres, Barcelona e agora Paris. Seus filmes são aulas críticas sobre a sociedade, comportamento e a existência propriamente dita. O seu novo longa-metragem é corroborar a definição da própria vida. “Meia-noite em Paris” é apaixonante, porque resgata o lado mais passional do diretor e assina o seu atestado de não pertencer a este mundo. O roteiro insere a eterna briga entre futilidade e consistência. Esta, a cultura clássica do conteúdo, enquanto aquela, a alienação atual, ocasionando a preguiça do pensamento.
No filme em questão, Woody apresenta seus ídolos, suas referências, que o construíram. Ele os coloca palpáveis, reais, concretos e humanizados, podendo o espectador sentir seus medos, anseios e paixões. A trama acontece em Paris, mas é após os sinos da meia-noite que a vida fica mais interessante. O protagonista Gil, vivido por Owen Wilson, encarna o seu criador como um escritor não muito confiante com o que está escrevendo. Ele divide-se entre o seu livro e os preparativos ao seu casamento. Estar em Paris faz com que Gil volte a se questionar sobre os rumos de sua vida, desencadeando o velho sonho de se tornar um escritor reconhecido. O impulso à aventura surreal, que não é necessário tantas explicações (pode ser loucura, bebida, sonho, projeção metafísica, “tumor cerebral”, não importa), é a idolatria que ele tem pelos grandes escritores americanos e sempre quis ser como eles. Isso o faz retroceder no tempo aos anos 20 e conhecer pessoalmente suas influências. Desta vez, Woody Allen mudou. É claro que conserva quase tudo do seu estilo cinematográfico. Ele embrenha-se na experiência de uma paixão adolescente. Entrega-se totalmente, sem ressalvas e sem clichês. Logo na abertura percebemos as diferenças.
Antes, o diretor iniciava seus filmes apenas com créditos e jazz. Desta vez, ele continua a usar o gênero musical, mas realiza um preambulo retratando as variadas maneiras de se olhar a Paris. São instantes cotidianos que passam pelo sol, chuva, dia, noite, entardecer. É uma transição temporal quase de guia turístico. Assim, permite que o espectador se apaixone de imediato, abusando de geniais (e básicas) manipulações. Outro diferencial é usar diálogos em off, ainda nos créditos. “Não existe cidade mais bonita”, diz-se. “Você está apaixonado pela fantasia”, rebate-se. A fotografia alaranjada apresenta nostalgia, contrastada com o acidez do texto. “Paris é uma festa. Já dizia Hemingway”, ele diz. “Neste trânsito, perde-se a festa”, alfineta-se com agressividade. Ele convive com a superficialidade de sua noiva, Inez (Rachel McAdams), e dos pais dela, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy). Há crônico individualismo excêntrico. São tão egocêntricos que transmitem arrogância e prepotência. Gil não é desse universo. Ele prefere Paris com chuva. A trama acontece por causa de seus encontros casuais. Daí, essas reviravoltas naturais direcionam a história. “Não é um detalhe. É uma história pseudo-intelectual”, diz-se. O personagem principal trabalha como roteirista em Hollywood, o que por um lado fez com que fosse muito bem remunerado, por outro lhe rendeu uma boa dose de frustração.
O diretor conduz com explicações técnicas sobre os atrativos turísticos. “Nostalgia é negação do presente”, diz Paul – que discute com a guia de turismo, expert em vinho e vivencia a prepotência. “Um instruído”, para a noiva, “pedante” para ele. O roteiro não limita possibilidades. Interesses pelo outro são despertados, sem ser considerados tabus. Alguém pode ir para a cama com outro sem que isso seja considerado traição. É um novo olhar sobre o amor, que se resume às convenções sociais. Quando Gil parece estar perdido, a vida fornece-lhe a opção radical da mudança. Descobre uma passagem de tempo ao passado. Gil está estupefato e assustado, porque se encontra na presença de Jean Cocteau; Scott Fitzgerald e sua esposa Zelda (Sayre) Fitzgerald (que refletiam o estado de espírito da época); Ernest Hemingway (conhecido como geração perdida); Gertrude Stein; Cole Porter; Paulo Picasso; Salvador Dalí; Luis Buñuel; Man Ray; Thomas Stearns Eliot; entre outros. E essas pessoas conhecem a estilista Coco Chanel e o artista plástico Amedeo Clemente Modigliani.
“Escritores são competitivos. É só escrever sendo honesto”, diz Hemingway, que ajuda o nosso protagonista a não ter medo de escrever. Em determinado momento, ele anda por uma direção e quando volta descobre que o bar dos anos 20 é na verdade uma lavanderia no presente. Fica atordoado. “O Passado tem um charme especial. Eu nasci muito tarde. Havia sensibilidade”, diz-se como nostálgicos. “Roubo você de um gênio, mas que não é um Joan Miró (fauvismo e do cubismo)”, trocam-se picardias na época. “Artistas são como crianças”, diz-se gerando momentos engraçados como a inclusão do medicamento Valium no passado. O senso de humor é aguçado, ácido e direto. O diretor permite ao espectador mergulhar na Era de Ouro (que segundo a mitologia foi um período em que a humanidade vivia num estado puro e imortal).
“Eu sou de outro tempo”, “Você habita em dois mundos. Qual o problema”, “Para você tudo bem, você é surrealista”, diálogo extremamente inteligente e perspicaz. “Amar duas pessoas é tão francês”, divaga-se.´O filme é ingênuo e despretensioso. “Preço baixo, baixa qualidade”, grita-se a futilidade. Em certo momento, conhecemos a Belle Époque, que foi considerada uma era de beleza, inovação e paz entre os países europeus. Novas invenções tornavam a vida mais fácil em todos os níveis sociais, e a cena cultural estava em efervescência: cabarés, o cancan, e o cinema haviam nascido, e a arte tomava novas formas com o Impressionismo e a Art Nouveau. Ali, Gil dá-se conta que ninguém, nem mesmo os seus ídolos, sente adequação com a era a qual vivem. Desejam regressar ao passado. “O passado é mais interessante”, diz-se. Fugindo do Presente? Ilusões? “O Passado não está morto”, finaliza-se. É um filme de simples escolhes simples. Concluindo, o longa-metragem é um excelente e apaixonante filme. Vale muito a pena. Recomendo.
Woody Allen (nome artístico de Allan Stewart Königsberg; Nova Iorque, 1 de dezembro de 1935) é um cineasta, roteirista, escritor, ator e músico americano. Nascido no dia 1º de dezembro de 1935, Allan Stewart Konigsberg desde pequeno já se envolvia no mundo do entretenimento. Aos 15 anos, já como Woody Allen, o jovem começou a escrever para colunas de jornais e programas de rádio. Ao mesmo tempo, freqüentava a Universidade de Nova York, mas nunca chegou a se formar. Seu pai, Martin Konigsberg (n. 25 de dezembro de 1900 – m. 13 de janeiro de 2001), foi livreiro e restaurador; sua longevidade premitiu-lhe viver em três séculos. Em 1964, Woody já era um respeitável comediante, tanto que um disco chamado Woody Allen, com as gravações de seus shows, foi indicado ao Prêmio Grammy. Sua primeira experiência cinematográfica aconteceu no ano seguinte, quando em uma dessas apresentações conquistou um produtor de cinema que o chamou para escrever e estrelar O que é que há, gatinha? (em Portugal: O Que Há de Novo, Gatinha?). Como diretor estreou em 1969, com “Um assaltante bem trapalhão”, e de lá para cá foram mais de 30 filmes, mantendo uma média de um filme por ano. O primeiro filme premiado de Woody Allen foi Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (título original e em Portugal: Annie Hall), que recebeu quatro Oscars (três para Allen, de melhor filme, roteiro e direção, e um para Diane Keaton, de melhor atriz). Apesar de não ter comparecido em nenhuma das cerimônias em que estava concorrendo, Woody conquistou outro prêmio de melhor roteiro original, por Hannah e suas Irmãs (em Portugal: Ana e as Suas Irmãs), e recebeu outras 18 indicações em diversas categorias. Em 2002, no Oscar seguinte aos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, Allen finalmente compareceu à cerimônia para fazer uma homenagem à cidade de Nova York, que é o cenário de praticamente todos os seus filmes e lá é rodado outro clássico do cineasta, Manhattan, que recebeu diversos prêmios e conta com as presenças de Meryl Streep e, novamente, Diane Keaton, com quem teve um relacionamento. A vida amorosa de Allen sempre deu o que falar à imprensa. Antes da fama, Woody Allen já havia tido dois casamentos e, por conseqüência, dois divórcios, com Harlene Rosen e Louise Lasser. Depois da fama, namorou várias importantes atrizes, que sempre ficavam com os papéis principais de seus filmes, até se firmar com Mia Farrow. Com a atriz ficou casado até 1997, quando começou um polêmico relacionamento com Soon Yi, filha adotiva de Mia, com quem está casado até o momento. Fã de Ingmar Bergman, Groucho Marx, Federico Fellini, Cole Porter e Anton Chekhov, já trabalhou com Carrie Fisher, Michael Caine, Max Von Sydow, Madonna, Martin Landau, Gene Wilder, Angelica Huston, Meryl Streep, Sydney Pollack, Judy Davis, Liam Neeson, Juliette Lewis, Alan Alda, Goldie Hawn, Leonardo di Caprio, Edward Norton, Drew Barrymore, Julia Roberts, Tim Roth, Natalie Portman, Helen Hunt, Charlize Theron, Dan Aykroyd, Danny DeVito, entre outros. Allen também é conhecido por lançar atrizes. Seu último lançamento de destaque foi Mira Sorvino, que conquistou o Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel dado a ela por Allen em Poderosa Afrodite Dirigindo, escrevendo e atuando a maioria de seus filmes, Woody Allen encarna, na maioria das vezes, um judeu nova-iorquino neurótico e fracassado. Com alguns filmes otimistas e outros nem tanto, o cineasta consegue repetir os temas sem parecer repetitivo. Nesta linha, dirigiu filmes como: Sonhos Eróticos Numa Noite de Verão (em Portugal: Uma Comédia Sexual numa Noite de Verão), Crimes e Pecados (Crimes e Escapadelas), Um Misterioso Assassinato em Manhattan (O Misterioso Assassínio em Manhattan), Todos Dizem Eu te Amo (Toda a Gente Diz que te Amo), Desconstruindo Harry (As Faces de Harry”), “Tiros na Broadway (Balas sobre a Broadway), A Rosa Púrpura do Cairo, além dos já supracitados. Em 2000, iniciou um contrato com a DreamWorks que correspondeu com o que a crítica julgou ser sua pior fase. Apesar de realizar os divertidos Trapaceiros (em Portugal: Vigaristas de Bairro), O Escorpião de Jade (A Maldição do Escorpião de Jade), Dirigindo no Escuro (título original e em Portugal: Hollywood Ending) e Igual a Tudo na Vida (A Vida e Tudo o Mais”) nessa fase, Allen nunca chegou a ser brilhante. Depois do fim de seu contrato com a empresa de Steven Spielberg, Allen decidiu reatar o namoro com o drama. Primeiro veio a aproximação com o gênero, com o Melinda e Melinda, seguido de Match Point, que foi o primeiro drama do cineasta em 16 anos, que arrebatou muitos elogios da crítica. O longa recebeu quatro indicações ao Globo de Ouro, inclusive para Melhor Filme – Drama, e uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original. Match Point marca ainda por ser o primeiro filme de Allen passado em Londres e também o primeiro com a atriz Scarlett Johansson. O diretor retornou à comédia em seu projeto seguinte, Scoop, também com Scarlett. Em 2008 lançou o filme Cassandra’s Dream (O Sonho de Cassandra), um filme sobre dois irmãos com problemas de dinheiro que são contratados pelo seu tio milionário para assassinarem um inimigo dele. Foi um filme muito mal recebido pela crítica e considerado dos piores de Woody Allen. O realizador não atua neste filme. Em 2008 realizou o filme Vicky Cristina Barcelona, também com Scarlett Johansson. Além de comediante, diretor, roteirista e ator de cinema, Woody Allen toca clarinete semanalmente num bar de Nova York. Sua ligação com a música, principalmente com o Jazz, pode ser conferida em todos os seus filmes, dos quais é responsável também pela escolha da trilha sonora. Em 2002 participou, pela primeira vez, do Festival de Cannes, onde ganhou uma Palma de Ouro pelo conjunto de sua obra. Woody Allen se descreve da seguinte maneira “As pessoas sempre se enganam em duas coisas sobre mim: pensam que sou um intelectual (porque uso óculos) e que sou um artista (porque meus filmes sempre perdem dinheiro)”. (Fonte: Wikipedia)