Curta Paranagua 2024

Crítica: Medo Profundo

Um mergulho ao entretenimento independente

Por Fabricio Duque


Uma das coisas que o espectador precisa aceitar em filmes de gênero é a de que sua narrativa intrínseca conjuga padronizadas características que irão integrar toda a trama: sustos, ruídos potencializados, música de suspense, escolhas imprudentes de suas personagens, situações sempre no limite da sobrevivência, câmera próxima como se fosse uma solidária testemunha, gritos e histéricas reações dramáticas. O que se deve analisar não é a essência e sim os excessos de utilizações de “muletas” gatilhos comuns, estes que buscam embasar credibilidades com pistas e detalhes.

“Medo Profundo” (que era “In the Deep” e depois mudou para “47 Meters Down”) é um deles. Ainda que com um que de condução independente (querendo de toda forma ser exemplar Sundance de ser), o filme é um produto entretenimento, que foca em “mergulhar” o público no terror psicológico do medo real e imediato, neste caso duas turistas irmãs que embarcam em uma aventura para “observar” tubarões no “ambiente deles” em uma jaula protegida (porém desgastada com o tempo e pela maresia).

É imediato nossas conclusões de que não são boas escolhas e que, sim, tudo tende à inconveniente desgraça. Dirigido e roteirizado (junto com o espanhol Ernest Riera) pelo britânico Johannes Roberts (de “Do Outro Lado da Porta”); produzido pelo Dimension Films de The Weinstein Company (de Bob Weinstein e Harvey Weinstein), que foi comprada da Disney, e que lançou clássicos modernos de terror adolescente, como a saga “Pânico”, e “Grindhouse”, de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez; e estrelado por Mandy Moore (do seriado “This is Us”, e que iniciou sua carreira como cantora pop teen).

De férias no México, duas irmãs (de personalidades opostas – uma tímida, reservada, competitiva, vulnerável, submissa e frágil, a outra corajosa, aventureira e impulsiva) estão prestes a passar pelos momentos de maior tensão em sua vida: presas em uma gaiola de tubarões a 47 metros de profundidade no oceano, elas terão que lutar contra o tempo para permanecerem vivas. Mas com apenas uma hora de oxigênio, com a iminência da descompressão e com tubarões rondando o local, as chances se tornam cada vez menores.

É quase inevitável não referenciarmos aos filme americanos “Tubarão”, de Steven Spielberg; “Águas Rasas”, de Jaume Collet-Serra; “Mar Aberto”, de Chris Kentis; e ao francês “A Odisseia”, de Jérôme Salle, em breve nos cinemas. E também a qualquer lembrança de alguma obra de tubarão que coloque em perigo seus turistas desavisados. Não podemos esquecer de nosso querido Recife, em Pernambuco, e sua praia de Boa Viagem.

Mas “Medo Profundo” acredita na simples despretensão de contar a história, muito encenada embaixo d’água. Assim, consegue criar a ambiência do suspense, equilibrando os momentos de tensão, gerando precisos sustos e encerrando com um final que surpreende e que desnorteia a obviedade (fantasia versus alucinação versus realidade versus projeção versus cinema), mesmo que precise apelar à manipulação confortável dos requisitos padronizados (da liberdade poética da ajuda “amigável” e salvadora do acaso). O roteiro enaltece as típicas características geográficas-turísticas-comportamentais. Um lugar seguro, de incrível beleza natural, com suas festas e que abraçam os turistas que vão em busca de aventuras e para resolver suas questões existenciais.

Aqui, nós assistimos a duas irmãs que resolvem viver plenamente suas aventuras: beber, dançar, flertar, namorar e se divertir como se não houvesse amanhã, tudo com o objetivo de “fazer ciúme” no namorado que abandonou uma delas, experimentando a “imensidão” azul do fundo do mar em sua plenitude, beleza e tranquilidade. O longa-metragem custou US$ 5,5 milhões e faturou mais de US$ 50 milhões nos cinemas americanos. Informação esta que mostra que na verdade o público está mais inclinado ao entretenimento puro e simples do “desligar o cérebro”.

“Medo Profundo” também pode ser visto como um filme de superar os medos, lutando até o limite pela sobrevivência do não morrer. Como já foi dito, para uma análise mais técnica, o público precisa dosar os prós e os contras, o que funciona dentro do gênero e o que é apelação demais. Então, em seu contexto totalitário de sua duração, o longa-metragem funciona como entretenimento, porque nos segura em seus noventa minutos na maioria do tempo subaquáticos. E porque não busca nada além de ser um típico filme de gênero, e ensina ao público sobre particularidades da arte de mergulhar. As atrizes Mandy Moore e Claire Holt fizeram aulas de mergulho para encarnar seus papéis na trama.

3 Nota do Crítico 5 1

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