Por Fabricio Duque
Precisamos esclarecer que acima de tudo, “Mais Forte Que o Mundo – A História de José Aldo” apresenta-se como um novelão (com ambiência de um seriado da Rede Globo) que foca exclusivamente no entretenimento narrativo, e corrobora a característica dominante de seu diretor Afonso Poyart (de “Dois Coelhos”), que é enaltecer a estrutura hollywoodiana e os gatilhos comuns gratuitos inerentes do gênero de ação (tiros, “porrada”, carros capotados, não esquecendo inclusive da câmera subcutânea de micro close-up, das cenas animadas que fazem a reconstituição da história, e das lembranças por epifanias “fantasmas”). O filme sobre a biografia do lutador de MMA (luta livre “gourmet”) busca seguir a “receita de bolo” (que nunca erra ou “sola”) de acompanhar o protagonista no início (a causa da “raiva” – o meio que influencia a violência; a família disfuncional: os exemplos ruins de pai bêbado e da mãe submissa), o desenvolvimento (a transmutação em técnica de luta – “brigar é diferente de lutar”), o fim (a redenção e o sucesso). É um longa-metragem “auto-ajuda”, porque se reverbera elementos como superação das dificuldades e dedicação exclusiva ao sonho, e entre câmeras lentas, expressões e frases de efeito (“Um dia sem trabalho é um dia sem comer”) e uma explícita referência do real motivo a “Clube da Luta”, de David Fincher, a obviedade-clichê dramática (como a “chuva libertadora”) dita toda condução do que se assiste, principalmente pela manipulação sentimental da música, também de efeito, que “rasga” a observação do momento. Há uma cumplicidade ingênua (talvez pelos ângulos subjetivos desengonçados) quase infantil (e caricato) quando o filho é obrigado a “perceber” a incompetência de seu pai e a “engolir” o choro histérico. Então, é aí que a preparadora de elenco, Fátima Toledo (de “Tropa de Elite”) entra para despertar a libertação do limite do protagonista, que potencializa catarse, ira, emoção, “fome” (de algo que ainda não se sabe lidar – como um super-herói com recém adquiridos super poderes) vingança, ódio. Nascido e criado em Manaus, José Aldo (interpretado com “raça” e com uma entrega absurda pelo ator José Loreto), comporta-se como um “animal”, um “ogro”, um “bossal” e um “troglodita”, por ser fisicamente forte e não mensurar consequências (como bater com pedaços de madeira em pessoas casuais na rua). Já a fase do desenvolvimento, pelo processo de treinamento, sim, é estruturado por elipses temporais, que inclui a trilha-sonora “fofa” e de feliz esperançosa de “Baby”, de Gal Costa, quando viaja ao Rio de Janeiro contrastando com o alojamento quase “prisão”. E eis que “Mais Forte Que o Mundo – A História de José Aldo” ganha uma engraçada e espirituosa perspicácia no núcleo da Academia de Treinamento, muito pelo texto do personagem Marcos Loro, interpretado, quem diria, pelo humorista, e agora ator, Rafinha Bastos, embalado pelo trecho da música “Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa” e pelas sacadas de “Muito Karatê Kid” quando começam a limpar o lugar; e ou a Mark Wahlberg em “No Pain, no gain – Sem Dor, Sem Ganho”. É quase um Rocky Balboa abrasileirado, com piadas politicamente incorretas, com “mongolóides” e ao filme “Scarface” (“sou feio, mas sempre tem como piorar”). Talvez seu diretor tenha que se adaptar ao “menos é mais” e não tentar inserir tudo em um curto período de tempo (há bullying, há traficantes tentando o “empregar”, há sangramento de tanto bater no treino). “Não seja um índio louco. Ache a hora certa de agir. Não desperdice força” e “A vida só acontece quando se está no limite da zona de conforto”, ensina-se em um típico livro “auto-ajuda”, com música de Lana Del Rey e clipe de “Beyoncé”, com “caras e bocas” à moda “carão”. De Manaus a Inglaterra, o filme foca nas vitórias e nas “sortes” de seu homenageado (talvez medo de “porrada” de José Aldo). Mesmo a pressão de fora não atrapalha a qualidade, porque “para ser um vencedor, primeiro você precisa aprender a vencer a si mesmo”. E assim, a cinebiografia do “menino mais forte do mundo” é realizada, com estilismo melodramático (sua mulher com o terço religioso na mão; o perdão ao pai) e com as imagens de arquivo, que dão verdade embasada à trama abordada. A sinopse nos conta que Nascido e criado em Manaus, José Aldo (José Loreto) precisa lidar com a truculência do pai, Seu José (Jackson Antunes), que além de se embebedar constantemente ainda por cima bate na esposa, Rocilene (Cláudia Ohana), com frequência. Enfrentando constantemente seus demônios internos, Aldo encontra na luta sua válvula de escape. Acreditando em seu futuro como lutador, ele aceita se mudar para o Rio de Janeiro e morar de favor no pequeno alojamento de uma academia. Lá ele recebe o apoio do amigo Marcos Loro (Rafinha Bastos) e conhece Vivi (Cleo Pires), uma jovem que vai constantemente à academia. Precisando ralar um bocado para se manter, Aldo enfim consegue um voto de confiança do treinador Dedé Pederneiras (Milhem Cortaz), iniciando assim sua carreira no mundo do MMA. Concluindo, um filme exclusivamente entretenimento, que busca o elemento ação ao conceito. Forma ao conteúdo. Um gênero escolhido que respeita o público a que se destina. Inicialmente, a estreia estava agendada para 14 de janeiro de 2016, mas devido à derrota de José Aldo para Conor McGregor em apenas 13 segundos, em luta realizada em 13 de dezembro de 2015, o lançamento foi adiado.
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Nota do Crítico
5
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