Por Fabricio Duque
“Joy – O Nome do Sucesso” busca ser uma fábula-realista à moda dos contos de fada dos Irmãos Grimm, em que o vilão é a própria vida, que “brinca” de mitigar “possibilidades”, colocando “doce” na boca para depois cruelmente retirar sem “piedade”. Confesso, que quando assisti ao trailer do filme pela primeira vez, acreditei realmente, que fosse uma continuação de “O Lado Bom da Vida”, do mesmo diretor David O. Russell, pela escalação de quase o mesmo time de atores “usados” no anterior. Não. Na verdade, foi só “preguiça” mesmo ou apenas a única “oportunidade”, visto que há uma característica conflituosa em suas obras, a de “caminhar” no limite tênue entre a ingenuidade e a pretensão. David acredita piamente que ganha a cumplicidade de seu público, e assim pode pulular sua trama com hibridismo narrativo com o intuito de construir um caos personificado em tela. Aqui, a protagonista Joy (alegria em inglês), assim como na animação “Divertidamente”, conserva incondicionalmente a esperança de dias melhores e que foi “feita para o sucesso”. Sua família, disfuncional, excêntrica a la Wes Anderson, corrobora idiossincrasias racistas, individualistas, mercenárias e politicamente incorretas, reverberando na história a atmosfera de xenofobia (quando se fala espanhol à funcionárias de uma fábrica montada), desilusão-desesperança no futuro, pressão profissional e da “longa jornada” ao sonho, que por sua vez apresenta-se com irreais consequências e surreais subterfúgios, que confundem fantasia com a própria realidade por meio do universo da televisão (e da transmutação da futilidade em concretude a “pessoas comuns” – este elemento não funciona, e o que se capta é somente um patético-amadorismo). A ideia é interessante, o argumento-biografia de contar a história de uma inventora (com tino-perspicácia perfeito à escolha dos produtos) desequilibra-se em seu próprio desenvolvimento, sem ritmo e harmonia. Talvez, o roteiro na verdade objetive absorver a confusão mental-familiar da personagem, mas no final, o filme soa como uma colcha de retalhos com a entrega absoluta de Jennifer Lawrence, que não se incomoda em interpretar gatilhos comuns palatáveis, clichês ambulantes e uma pseudo novidade que nada mais é que uma repetição já batida e óbvia da não novidade. “Na América, o comum encontra o extraordinário a cada dia”, diz-se, meio auto-ajuda, meio exemplar sentimental-decisório-feliz. Um dos destaques é a homenagem a apresentadora-vendedora Joan Rivers, que faleceu recentemente – uma figura icônica do meio televisivo). A sinopse nos conta que criativa desde a infância, Joy Mangano (Jennifer Lawrence, que venceu o prêmio de Melhor Atriz do Globo de Ouro e está indicada ao Oscar 2016) entrou na vida adulta conciliando a jornada de mãe solteira com a de inventora e tanto fez que tornou-se uma das empreendedoras de maior sucesso dos Estados Unidos. Concluindo, um filme que tenta muito, que segue a artificialidade social para tentar aprofundar, de forma suavizada, os dramas, desvios e insucessos da existência de um ser humano que “ganha” da vida “possibilidades” com conflitos fáceis demais para resolver. Um filme que divide opiniões de ame ou odeie. De idolatrar e de sair no meio da sessão. Nem um, nem outro. Nem oito, nem oitenta. Há fragilidades sim. Muitas. Mas o espectador consegue “aguentar” até o final, mesmo com todas as liberdades poéticas de “ajuda” do roteiro à personagem.