Quando até a auto-paródia cai no lugar-comum
Por Pedro Guedes
Os super-heróis invadiram as telas dos cinemas e, pelo jeito, não sairão delas tão cedo. A cada ano, pelo menos cinco ou seis filmes baseados nas propriedades intelectuais da Marvel ou da DC vêm à tona, fazem rios de dinheiro e mantêm os fãs teorizando a respeito do que acontecerá nos próximos longas. Agora, o subgênero vem entrando numa fase curiosa: a de reconhecer os clichês que compõem as fórmulas responsáveis pelo sucesso destes filmes e ridicularizá-los até o fim, numa espécie de auto-paródia que alcançou bons resultados com “Deadpool”, “LEGO Batman” e “Thor: Ragnarok”. Em “Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas”, no entanto, a impressão que fica é a de que até mesmo essa auto-paródia tornou-se uma fórmula – e, como qualquer outra, mais cedo ou mais tarde pode dar sinais de desgaste.
Tão metalinguística quanto “Deadpool” ou “O Último Grande Herói”, esta animação (obviamente inspirado na série animada produzida e exibida pelo Cartoon Network desde 2013) traz como vilão um sujeito que, prestes a conquistar um artefato poderoso, faz questão de dizer “Ah, o MacGuffin perfeito!”.
Na trama, a equipe composta por Robin, Cyborg, Ravena, Estelar e Mutano deseja que Hollywood produza a qualquer custo um filme sobre suas aventuras, como faz há tantos anos com os personagens mais icônicos da DC. O problema, porém, é que os Jovens Titãs estão bem longe do reconhecimento que Batman, Superman e Mulher-Maravilha conquistaram após tantas décadas, o que leva os garotos a uma jornada onde terão que provar que são super-heróis de verdade.
Assim, o maior prazer oferecido por “Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas” está em reconhecer as muitas referências que vão aparecendo ao longo dos 84 minutos da projeção: ainda em seus primeiros segundos, o filme apresenta uma versão animada da tradicional vinheta que surge antes de cada produção da DC. Além disso, é surpreendente que alguns personagens da Marvel – como os Guardiões da Galáxia e o próprio Deadpool – sejam citados abertamente aqui, alcançando o ápice numa inesperada e divertida “ponta” de Stan Lee. De todo modo, mesmo que as menções a Shia LeBouff e “O Rei Leão” sejam engraçadas, as melhores risadas proporcionadas pelo longa pertencem mesmo às duas cenas envolvendo o assassinato dos pais de Bruce Wayne.
Infelizmente, “Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas” parece acreditar que a metalinguagem é o suficiente para que seu senso de humor seja bem-sucedido – o que está longe de ser verdade: apelando constantemente para piadinhas que podem ser encontradas a qualquer momento em memes ou tweets “engraçadinhos”, o roteiro de Michael Jelenic e Aaron Horvath (este segundo co-dirigiu o filme ao lado de Peter Rida Michail) não percebe que ironizar o fracasso de “Lanterna Verde” ou empregar o tema de “De Volta para o Futuro” numa sequência que envolve viagem no tempo já virou lugar-comum, o que só não é mais irritante do que as gags que giram entorno de peidos e closes nos glúteos de Cyborg. Para piorar, o longa investe em uma série de números musicais que, além de pouco inspirados, começam a irritar depois de surgirem pela terceira ou quarta vez.
Mas nada é tão frustrante quanto a direção de Aaron Horvath e Peter Rida Michail, que fracassam miseravelmente ao transportarem a linguagem da série animada para o Cinema: preservando a estética televisiva, os planos fechados, a animação bidimensional e a montagem episódica, os cineastas basicamente concebem o filme como um episódio de uma hora e meia da animação original e entregam um trabalho que parece pensado não para as telonas, mas para as telinhas (repetindo, com isso, o pecado também cometido por “Bob Esponja – O Filme” e “Os Simpsons – O Filme”, que ao menos contavam com a vantagem de ainda serem excelentes diversões). O que gera a dúvida inevitável: por que assistir a “Os Jovens Titãs em Ação!” no cinema, já que o resultado tem mais a ver com a linguagem da TV?
Protagonizado por super-heróis bidimensionais que vivem em um universo reconhecidamente absurdo, esta é uma animação que aposta numa estética bem mais acessível ao público infantil: os super-heróis contam com dilemas pessoais que nunca soam graves ou urgentes demais e são sempre desenhados como criaturinhas fofas e inofensivas. Para completar, o design de produção acerta ao investir em uma variedade notável de cores lúdicas e saturadas, transformando os cenários em paisagens rosadas e doces a ponto de quase se tornarem comestíveis – e os esforços para incluir uma quantidade inacreditável de referências em cada canto da tela são dignos de nota.
Mas no fim, “Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas” é isso: um monte de referências e imagens bonitinhas, sendo então uma pena que, para cada piada particularmente inspirada, existam outras duas ou três que falham em atingir a graça almejada. Não chega a ser uma decepção, mas isso também não muda o fato de que a melhor cena do filme é aquela que surge durante os créditos finais. E isso nunca é um bom sinal.