Por Fabricio Duque
Precisamos falar sobre o diretor Richard Linklater, que apresenta seu mais recente filme “Jovens, Loucos e Mais Rebeldes”, cujo título brasileiro foi traduzido de “Everybody Wants Some” (algo como “Todos querem um pouco”). Há muito, que conta com a trilogia do “Antes” (nesta ordem: “Antes do Amanhecer”, “Antes do Pôr-do-sol” e “Antes da Meia-Noite”) e com a obra-prima “Boyhood” (que levou doze anos para ser concluída), o cineasta americano corrobora sua maestria em uma precisa direção, transpassando um domínio absurdo do naturalismo espontâneo da narrativa, em que seus atores se entregam completamente, sendo extremamente complicado ao espectador perceber suas interpretações. Definitivamente, sem soar passional, tampouco exagerado, Linklater descobriu a forma como fazer cinema de qualidade, tudo devido ao equilíbrio ritmado de conjugar cenas, reviravoltas, anseios, idiossincrasias, particularidades, sem contudo mergulhar muito na antropologia didática do existencialismo. O longa-metragem é conduzido pela naturalidade das micro-ações, em situações que se desenvolvem com personagens que se zoam, criam picardias cúmplices, expõem pontos de vista filosóficos sobre a vida, tudo permeado por uma câmera “mosca” que se comporta como uma representação máxima documental de normais existências (respeitando a “esquisitice interior” de cada um a fim de aceitar a essência da própria individualidade). O longa-metragem pode ser catalogado como uma livre continuação de “Jovens, Loucos e Rebeldes”, dirigido por Richard em 1993. Se lá, a atmosfera era sobre o universo de jovens prestes a se formar no segundo grau em 1976, aqui, a época revisitada é os anos oitenta, e o diretor constrói uma impecável direção de arte de fazer com que o público “viaje no tempo” e rememore uma época pausada por um roteiro primoroso que envolve plenamente quem assiste e or uma edição nostálgica-saudosista. Durante a primeira semana de aula, o calouro Jake (Blake Jenner) chega à faculdade no Texas (cidade natal de seu diretor) e se muda para a casa reservada à equipe de beisebol. Durante o primeiro fim de semana no novo lar, ele e seus novos colegas de casa serão tomados por um turbilhão de álcool, drogas, festas e paqueras, entre novatos e veteranos, que o ajudam a se enturmar neste ambiente repleto de diversão, experiências e camaradagem. Em um primeiro momento, podemos inferir à cinematografia de “Porks”, mas não. “Jovens, Loucos e Mais Rebeldes” é muito mais que isso. E completamente diferente. É sobre a vida. Sobre descobertas, amadurecimentos, influências, características pessoais marcantes – que adjetivam “loucuras” como partes intrínsecas de um ser humano, passando pelo universo musical da Disco, Country, Punk Rock e festas de estudantes de Teatro). Concluindo, é um filme preciso, sem “barrigas”, de um equilíbrio absurdo, que arquiteta a trama pela despretensão, inteligência e competência de seu diretor. Logicamente, o filme será revisitado e opiniões complementadas pós Festival do Rio. É imperdível e recebe do nosso site cinco câmeras inquestionáveis. O público não pode perder o documentário “Richard Linklater – O Sonho é Destino”, de Louis Black e Karen Bernstein, uma celebração do trabalho singular de um diretor que acabou por promover uma verdadeira primavera cinematográfica no Texas. Sundance e SXSW, 2016.