Curta Paranagua 2024

Crítica: Ilha do Medo

Ficha Técnica

Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Laeta Kalogridis, baseado em obra de Dennis Lehane
Elenco: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Emily Mortimer, Michelle Williams, Max von Sydow, Jackie Earle Haley, Dennis Lynch
Fotografia: Robert Richardson
Direção de arte:Max Biscoe, Robert Guerra e Christian Ann Wilson
Figurino:Sandy Powell
Edição:Thelma Schoonmaker
Efeitos especiais:New Deal Studios / CafeFX / Gentle Giant Studios / Mark Rapaport Creature Effects
Distribuidora: Paramount Pictures Brasil
Estúdio: Phoenix Pictures/ Sikelia Productions/ Appian Way / Hollywood Gang Productions/ Paramount Pictures
Produção: Brad Fischer, Mike Medavoy, Arnold Messer, Martin Scorsese
Duração: 148 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2009
COTAÇÃO: MUITO BOM


A opinião

Um detetive, Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), passa mal no barco e diz “É apenas água”. O seu novo parceiro (Mark Ruffalo), de Seatle, diz que ele é uma lenda. Eles investigam o desaparecimento de uma assassina, que fugiu de um hospital psiquiátrico e está supostamente foragida na remota Ilha Shutter. Quanto mais perto da verdade ele chega, mais enganosa ela se torna.

O novo filme do diretor Martin Scorsese manipula o entendimento do espectador do início ao fim. Os elementos são acrescentados e surpreendidos por mudança de entendimentos. As lembranças do detetive são transmitidas em câmera lenta e sem muita percepção. O suspense começa com a música típica deste gênero de filme. O longa tenta fazer graça com gags (piadas sarcásticas). “Seus homens estão tensos”, diz-se ajudado por closes de câmera de interpretações exageradas.

Os detetives, chamados de Xerifes (Marshalls), entram no ilha, mais especificamente no hospital. Quem está do outro lado da tela, sentado na cadeira de cinema já percebe que tem algo de errado. A tensão é instaurada. Neste hospital estão os criminosos mais perigosos. Os detalhes estão presentes. O sinal de silêncio de uma detenta. Os papéis escritos e escondidos. A trama passa que o médico tenta curar os pacientes, com lobotomias cerebrais, choques elétricos, “muitos zumbis”, o tratamento hoje em dia é a guerra.

Não se sabe quem está mentindo, quem fala a verdade, qual cena é a real, qual é a imaginária, o que se deve prestar atenção. Enfim, o espectador é peça de um jogo psicológico extremamente bem feito. O roteiro ajuda muito o filme. Os elementos que são acrescentados funcionam perfeitamente no momento para logo depois modificar o sentido. As músicas Mahler dos soldados nazistas criam alternativas das técnicas apresentadas no filme. A fotografia, câmera lenta, experimenta estilos. “Você tem um mecanismo de defesa incrível. Deve ser ótimo em interrogatórios”, diz o médico enquanto tenta analisa-los.

Os sonhos apresentam-se recorrentes. Vive-se entre o liminar do real e do que não é real. O surrealismo com a estranheza dos comportamentos quando se vivem tais estágios de pesadelos denota não de forma expressa o insight da questão apresentada.

A loucura, como patologia física, proporciona uma introspecção em um mundo próprio escolhido. O ‘não suportar mais’ uma determinada situação transfere para um lado do cérebro o desapontamento e o desespero. A saída é uma outra opção de não sofrimento. Mas quando se deseja esquecer e substituir as lembranças do que já se viveu, a mente confunde-se com o real, o projetado e o desejo do ser. Este longa-metragem desperta o viés da falsa percepção. È como se fosse uma direção não linear, saindo do nível da normalidade e da aceitação pragmática.

Os detetives entrevistam pacientes. Outros elementos são introduzidos. Novos tempos de guerra, campos de concentração, novos sonhos. “As pessoas falam, mas ninguém escuta”, diz-se. As histórias começam a confundir-se com ações e reviravoltas desesperadas e exageradas.

As alucinações voltam a acontecer. E a cada dado novo, acha-se uma coisa, mas é outra. Como a imagem com fotografia saturada e com o detalhe do batom vermelho na boca de dois ‘supostos’ cadáveres. Ele encontra e confronta-se com os seus fantasmas. “Relógio corre, meu amigo, pode não haver mais tempo”, diz-se. As imagens metaforizam as explicações. “É um homem de violência, não violento”. O reflexo das trovoadas e o que vem a seguir impedem a distinção dos acontecimentos. Utiliza-se a própria loucura para resolver pendências da loucura. “Foi Kafka que fez a loucura”, divaga-se.

“Eu nunca abriria mão de minhas lembranças”, diz-se entre loucura ou o único momento sóbrio. O filme é uma viagem a uma alma doentia. “Gostou do seu último presente de Deus? A violência. Deus ama a violência”, diz-se. “Fazemos guerra, queimamos o próximo, ordem moral não há. Somos loucos. A minha violência pode ser mais que a sua?”, complementa dizendo “Estimulado pelo sociedade”, finaliza-se.

“Trauma em grego significa ferida. E em alemão, sonhos. As feridas podem criar monstros”, diz-se quando chega ao final é tudo é explicado ou não. A dúvida ainda paira em saber o que é real e ou imaginário. É um grande jogo de quebra-cabeças com peças maiores e sem sentido, mas que consegue fazer todo sentido se sairmos da normalidade de nossos questionamentos.

Vale a pena ser visto. Mesmo com o clichê dos momentos de interpretação. O filme cria a tensão todo momento. Engana, manipula. Só por isso já deve ser visto. Baseado no livro “Paciente 67”, de Dennis Lehane. Exibido fora de competição no 60º Festival de Berlim em 2010.


O Diretor

Nasceu no Queens, Nova Iorque, 17 de Novembro de 1942, nos EUA. Em 1966, formou-se em Cinema na Universidade de Nova Iorque. Em 1968, dirigiu seu primeiro longa-metragem, Quem Bate à Minha Porta?. Entre seus filmes, destacam-se Taxi Driver, Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1976, Touro Indomável (1980) e Os Bons Companheiros (1990), indicados ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor. Após cinco indicações, recebeu em 2006 o prêmio de Melhor Diretor por Os Infiltrados.

Críticos e estudiosos do cinema chamam-lhe de “O maior diretor americano vivo”; vários dos seus filmes ocupam lugar de destaque nas listas dos melhores filmes do “American Film Institute” e na lista dos 250 melhores da Internet Movie Database. Embora seja alvo de grande admiração, e um dos nomes mais reconhecidos da indústria cinematográfica americana, por muitos anos foi considerado o grande “injustiçado” pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, por nunca ter ganho um Oscar. Em 2007, no entanto, Scorsese livrou-se desta sina ao ganhar o prêmio de Melhor Diretor por The Departed.

Filmografia

2010 – Ilha do Medo
2008 – The Rolling Stones Shine A Light
2006 – Os Infiltrados
2005 – No Direction Home (Bob Dylan)
2004 – O Aviador
2001 – Gangues de Nova York
1999 – Vivendo no Limite
1997 – Kundun
1995 – Cassino
1993 – A Época da Inocência
1991 – Cabo do Medo
1990 – Os Bons Companheiros
1990 – Made in Milan
1989 – Contos de Nova York
1988 – A Última Tentação de Cristo
1986 – A Cor do Dinheiro
1985 – Depois de Horas
1983 – O Rei da Comédia
1980 – Touro Indomável
1978 – American Boy: A Profile of Steven Prince
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1978 – O Último Concerto de Rock
1977 – New York, New York
1976 – Taxi Driver
1974 – Alice Não Mora Mais Aqui
1973 – Caminhos Perigosos
1972 – Sexy e Marginal
1970 – Street Scenes
1968 – Who’s Knocking at My Door?
1967 – The Big Shave
1964 – It’s Not Just You, Murray
1963 – What’s a Nice Girl Like You Doing in a Place Like This?
1959 – Vesuvius VI

O Ator

Leonardo Wilhelm DiCaprio (Los Angeles, 11 de novembro de 1974) é um ator norte-americano, famoso desde que protagonizou o papel de Jack com a atriz Kate Winslet em Titanic, filme vencedor de onze estatuetas do Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos da América.

Nos filmes em que participou já foi um viciado em heroína (Diário de um Adolescente), consumiu absinto (Eclipse de uma Paixão), tomou ecstasy (Romeu + Julieta) e fumou maconha (A Praia).

DiCaprio nunca foi muito bom aluno, principalmente em matemática, pois tinha bastante dificuldade de concentração, tendo maior interesse em divertir os seus colegas do que em propriamente estudar. Esta característica rendeu-lhe o apelido The Noodle (bobo, ingênuo). Ainda hoje, mantêm este comportamento, mesmo nos sets de filmagem. Namorou durante cinco anos a modelo brasileira Gisele Bündchen. Também namorou a modelo Bar Refaeli.

Filmografia

2011 – Atari (produtor)
2010 – A Origem
2010 – Ilha do Medo
2009 – A Órfã (produtor)
2009 – The Murderer
2008 – Foi Apenas um Sonho
2008 – Rede de Mentiras
2007 – A Última Hora (Narrador, produtor e roteirista)
2006 – Diamante de Sangue
2006 – Os Infiltrados
2004 – O Assassinato de Richard Nixon (produtor)
2004 – O Aviador
2002 – Gangues de Nova York
2002 – Prenda-me se For Capaz
2001 – Don’s Plum
2000 – A Praia
2000 – Total Eclipse (Narrador)
1998 – Celebridades
1998 – O Homem da Máscara de Ferro
1997 – Titanic
1996 – As Filhas de Marvin
1996 – Romeu e Julieta
1995 – Diário de um Adolescente
1995 – Eclipse de uma Paixão
1995 – Rápida e Mortal
1993 – Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador
1992 – Um Acampamento Só para Garotos

4 Nota do Crítico 5 1

Pix Vertentes do Cinema

  • Excelente filme! Suspense certo! Os enigmas e as surpresas ocorrem a todo momento, indico a todos!

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