Curta Paranagua 2024

Crítica: Hotel Transilvânia 3: Férias Monstruosas

Vá ao cinema sem medo!

Por Fabricio Duque


No universo cinematográfico, quando um filme é bem recebido, seus produtores enxergam nas continuações uma forma de se auto-alimentar. As franquias são fórmulas de sucesso que despertam em seu público a possibilidade de ter desdobramentos, estimulados pela afeição a seus personagens. Se analisarmos a estrutura, nós temos no primeiro filme um preâmbulo, um pouco mais aprisionada à obrigação de apresentar a história. É logicamente mais corrida e técnica por estar lidando com o despertar da curiosidade. Nas próximas, a liberdade criativa é a que indica o caminho.

“Hotel Transilvânia” é um desses exemplos, que em sua terceira parte vem para bagunçar o coreto e se firmar como o mais divertido dos três. Que mais uma vez é dirigido pelo americano Genndy Tartakovsky (também roteirista e criador). Há quem diga que a verdadeira sapiência vem da naturalidade das crianças. Sim, mas o mundo mudou. A inocência transmutou-se em uma aguçada perspicácia. Aqui, busca-se dosar ingenuidade com sagacidade, elementos idiossincráticos da infância com o comportamento modelado e podado da fase adulta.

Entre pureza, incompatibilidade, timidez, vergonha e força de vontade, a intervenção-surpresa de papéis invertidos. É uma ressignificação do costume da obrigação trabalhista ao descanso pela ilimitada diversão. Neste caso, “férias monstruosas” no cruzeiro “Titanic” pelo Triângulo das Bermudas (“Uma das sete maravilhas do mundo para os monstros” e seus barcos afundados – humor ultra mega negro) em direção a cidade perdida de Atlântida (entretenimento turístico), que mais parece Las Vegas com seus letreiros chamativos em neon. “A oportunidade de criar novas lembranças”, diz-se. Precisa falar mais alguma coisa?

Em técnica de desenho fantasia com realidade, o longa-metragem animado, que acerta na dublagem, reitera que nem toda animação tem que ser somente para crianças. Mas como podemos mensurar isso? Lembre-se que o mundo está completamente mudado, assim as referências irônicas, com suas constantes piadas debochadas e ininterruptos alívios cômicos, estão bem mais integradas ao campo-meio de vivência dos pequenos. Sim, sarcasmo é sinal de inteligência. E deixa o universo muito mais leve e menos sensível às afetações.

O filme, cuja campanha de marketing foi apresentada pelas ruas do Festival de Cannes 2017, é uma aventura despretensiosa, que embarca no humor pastelão-escrachado e fisiológico. Com um que de “Família Addams”, o Drácula “eterno” sobrevive à extinção pelo caçador de vampiros Van Helsing, o “mala sem alça” que não morre, nunca desiste e persegue seu arqui-inimigo “por toda a eternidade”. Com ou sem se livrar do “ódio no coração”.

Artefatos de destruição; o ódio alimentado e hereditário; o geleia que ajuda na dança para “arrasar estiloso”, tudo faz humanizar o existir, aceitando cada particularidade como se fosse única. A trama versa sobre o estado solitário, nervoso, infeliz e “enferrujado” (que não “que tem cem anos que não pega ninguém”), buscando um novo amor na internet, Drácula (dublado por Alexandre Moreno) é surpreendido com um presente da querida filha: férias em um cruzeiro. Inicialmente resistente à ideia, ele acaba engajado no passeio ao se encantar pela comandante, que, no entanto, esconde um segredo nada amigável.

“Hotel Transilvânia 3: Férias Monstruosas” é acima de tudo sobre a paixão. Mais que apenas pegação. Sobre encontrar o amor à primeira vista. “O Tchan só rola uma vez na vida, não pode deixar passar. O Tchan nunca mente”, convence à noiva que está em dúvida em seu casamento do casal espinho. “Tempos modernos agora: pode rolar um tchan até pelo celular”, diz em referência ao aplicativo Tinder, que aqui vira “Tchander”. E com a Siri que não entende o que ele procura. Com música da Enya. Do Simonal. Com “protetor lunar”. Com “Chupa Cabra” à moda de “Zé Bonitinho”. Com “molho de alho”. É para “honrar o passar, olhando para o futuro”, mas não “arruinar o legado”.

Sim, chega um ponto que não há mais alívio cômico, porque só há comicidade. Pode soar repetitivo na necessidade de se fazer piada todo o tempo, como a camisa da seleção do Brasil (que agora que foi desclassificado na Copa do Mundo pode causar um certo desconforto em torcedores mais fanáticos). Brinca-se com a ideia noir de ser. A femme fatale acha que “sotaque deixa o homem mais atraente”. E ou as bruxas azarando e flertando o velhinho mais novo (o “gatão”). Tudo é graça. E faz rir. Com insultos, “Indiana Jones”, “Sr. e Sra. Smith”, “A Bela e a Fera” e o tango “roleta russa”. “Humanos, monstros, qual a diferença?”, pergunta. Com embates -batalhas maniqueístas de DJs: música eletrônica versus clássicos dançantes. O bem versus o mal. À moda da animação “Trolls”. Busca-se o “alto astral”, um “novo legado”. Mais igualitário, tolerante e respeitoso. “Don’t Worry, Be Happy”, é “um recado bacaninha”. Mas para vencer tem que ser mais “chicletante”. Concluindo, um filme que se permite “viajar na batatinha” e assim encontra a perfeita, “impactante” e salvadora trilha-sonora. Vá ao cinema sem medo!

4 Nota do Crítico 5 1

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