Curta Paranagua 2024

Crítica: Goosebumps 2 – Halloween Assombrado

Um passatempo razoável, mas esquecível

Por Pedro Guedes


Criada por R.L. Stine no começo dos anos 1990, “Goosebumps” é uma série de livros de terror voltados para o público infanto-juvenil que certamente marcou uma geração e se tornou uma marca muito presente naquela época; o que se deve não apenas à presença de vários destes livros nas livrarias, mas também ao fato da franquia ter sido adaptada para outras mídias, transformando-se em games e num seriado de TV (que, no Brasil, era exibido na saudosa Fox Kids). É curioso, portanto, que “Goosebumps” tenha demorado mais de 20 anos para chegar aos cinemas – e o filme em questão, lançado em 2015, representava um passatempo divertidinho, porém esquecível e sobrecarregado de clichês, sustentando-se graças basicamente ao carisma habitual de Jack Black.

Pois três anos se passaram e chegou a hora dos monstros de R.L. Stine invadirem as telonas mais uma vez. Embora ambientado no mesmo universo diegético do longa anterior, “Goosebumps 2: O Halloween Assombrado” praticamente ignora os três adolescentes que protagonizaram a produção de 2015 e os substitui por um novo núcleo. Na trama, o pré-adolescente Sonny Quinn e seu amigo Sam Carter invadem uma casa abandonada e, ao encontrarem um livro mágico, acabam trazendo o ventríloquo Slappy de volta à vida. Mas é claro que o boneco não é nada confiável e, depois que ele conjura um monte de espíritos e monstros ameaçadores, os dois garotos e Sarah, a irmã de Sonny, terão que correr para pôr um ponto final nestas… travessuras de Dia das Bruxas.

Se o primeiro filme era dirigido por Rob Letterman (do fraco “O Espanta-Tubarões”), esta continuação é comandada Ari Sandel (responsável pelo recente “Quando nos Conhecemos”, lançado na Netflix). No entanto, a verdade é que a troca de diretores entre um longa e outro não passa de um detalhe irrelevante, já que tanto Letterman quanto Sandel são cineastas sem imaginação alguma que parecem fazer exatamente aquilo que seus produtores exigem – como se fossem uma versão ainda menos ambiciosa de Chris Collumbus. Assim, “Goosebumps 2” é, como seu antecessor, uma obra que segue a cartilha das aventuras infantis exibidas exaustivamente na “Sessão da Tarde”, mas que sequer tenta apresentar uma identidade própria (como Richard Donner fazia em “Os Goonies”). É possível dizer, inclusive, que se trata de uma produção anacrônica, já que a abordagem estética adotada por Sandel parece mais condizente com um filme dos anos 1990 do que com um lançado em 2018.

Prejudicado ainda por um primeiro ato lento e frouxo que introduz os personagens de maneira excessivamente artificial e sobrecarregada de clichês (um erro também cometido no filme anterior), “Goosebumps 2” exagera no número de diálogos expositivos e em frases de efeito que, além de pouco inspiradas, soam deslocadas dentro da lógica geral do roteiro. Para piorar, se o personagem de Jack Black praticamente salvava o longa passado, aqui ele é relegado a uma breve participação no terceiro ato e, quando enfim podemos vê-lo em cena, sua presença se resume a meia dúzia de piadinhas autorreferenciais que falham em atingir a graça esperada (a exceção fica por conta da boa brincadeira envolvendo o balão vermelho de “It: A Coisa”, de Stephen King).

Em compensação, há um aspecto no qual “Goosebumps 2” se sai consideravelmente melhor que seu antecessor: o trio de protagonistas. Se antes acompanhávamos os inexpressivos Dylan Minette, Odeya Rush e Ryan Lee, desta vez os três são substituídos por Jeremy Ray Taylor (que encarna Sonny como um garoto que não deixa suas frustrações diminuírem seu bom humor), Caleel Harris (que funciona como um alívio cômico relativamente equilibrado) e Madison Iseman (que exibe uma convicção que faz Sarah soar como uma irmã mais velha convincente). Para completar, Wendi McLendon-Covey confere leveza à mãe de Sonny e Sarah sem jamais subtrair seu senso de responsabilidade, ao passo que Ken Jeong se sai surpreendentemente bem ao viver um divertido fanboy que se empolga sempre que ouve falar nos livros de R.L. Stine.

Já o universo apresentado no primeiro “Goosebumps” (a partir, é claro, dos mais de 60 livros que compõem a série original) segue interessante nesta continuação: investindo numa paleta de cores lúdica e colorida que permite que o roxo, o vermelho e o verde-esmeralda se encontrem com elegância, o designer de produção Rusty Smith é bem-sucedido ao criar, através da lógica visual que impera neste mundo fictício, um clima de “terror para crianças” que revela-se razoavelmente eficaz. Por outro lado, os efeitos visuais continuam tão ruins quanto os que existiam no filme anterior – e o Abominável Homem das Neves, em particular, só não é mais artificial do que o Lobisomem (este, sim, pode ser descrito como ridículo).

Enfraquecido também pela trilha musical de Dominic Lewis, que soa tão exagerada e intrusiva quanto a que Danny Elfman compôs para o longa passado, “Goosebumps 2: Halloween Assombrado” é um passatempo divertidinho e simpático, porém inofensivo e genérico demais para permanecer na memória do espectador por muito tempo.

3 Nota do Crítico 5 1

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