Gaby Estrella
O sucesso de ser você mesmo
Por Fabricio Duque
“Gaby Estrella”, do diretor Claudio Boeckel, é a versão cinematográfica do seriado homônimo brasileiro, exibido de 2013 a 2015, em três temporadas de cento e vinte e quatro capítulos de vinte e dois minutos cada. Aqui, no filme em questão, o roteiro objetiva pincelar inovações visuais, como a câmera subjetiva da percepção dos olhos de uma bebê, que só se acalma com música, fascinada pela voz de sua avó. O longa-metragem conta que depois do grande sucesso no mundo da música, a adolescente Gaby Estrella (a atriz Maitê Padilha) começa a sofrer com a concorrência de um novo ídolo teen, Natasha (a atriz Luisa Prochet). Para voltar às paradas de sucesso, ela precisa voltar às suas origens, na cidade do interior Vale Mirim.
“Gaby Estrella” destina-se, propositalmente, ao público adolescente (segmento infanto-juvenil) acostumado (e estimulado) com produções internacionais do canal de televisão Disney (“Jessie”, “Hannah Montana”, “Zack e Cody: Gêmeos em Ação”, “Austin e Ally”, “Jonas Brothers”, “Não Fui Eu”, “Garota Conhece o Mundo”) e do Nickelodeon (“100 Coisas Para Fazer Antes do High School”, “Bella e os Bulldogs”, “Make It Pop”), estes os mais populares. A narrativa do filme é assemelhada a do seriado “Rebelde”, buscando apresentar uma referência condizente a seu público específico (com suas Selfies, histerias endeusadas aos artistas); um confronto da modernidade digital com a simplicidade bucólica do ambiente ruralista; um universo de artistas mirins à moda de “Nashville” (o estado “templo” americano da música country) com um que de “Chesapeake Shores”, seriado do Hallmark Channel; e uma quebra crítica bem-humorada (“Assessoria de Imprensa não funciona”).
A protagonista Gabriella, de nome artístico Gaby, pode ser visualizada como um produto criado desde cedo pela mídia, assim como a cantora Britney Spears (que foi “zoada” em um dos capítulos do seriado “South Park”). Sua ascensão e sucesso (incluindo uma parceria com Luan Santana) dependem da não concorrência. De não aparecer um “novo produto”. Esse pedestal a embala na pressa, na correria do dia-a-dia, na consequência mimada (“Ego Streaming”) e na falta de tempo de ser ela mesma (seu motorista usa uniforme monarca). Gaby vive Gaby todo o tempo. Nunca a Gabriella da fazenda com roupas interioranas.
Sua posição fica balançada quando despenca ao nono lugar. Gaby precisa rebolar para se reerguer e conquistar o lugar no Festival Roça Fest. “Não adianta lutar contra o número. Números são números”, diz-se. Sim, é um sistema cruel e hostil. De versões mirins de Anitta e Pablo Vittar. Ela precisa provar que é a melhor. Todo tempo. Tanto que na primeira temporada do seriado da Amazon “O Último Magnata”, se diz que “Não pode ter arte sem comércio”. É “ficar ou flopar”.
“Gaby Estrella” segue a estrutura padrão narrativa de uma novela transmutada ao cinema. Com seus diálogos simplificados ao anti-naturalismo e reações conduzidas ao humor desengonçado pastelão (à moda de “ICarly”), os dramas são inseridos por um encenado acaso ajudado (pelo roteirista). Gaby precisa desacelerar seu ritmo (não ler mais sobre “Como Reinar nas Redes Sociais” – livro que a faz dormir – talvez mais uma crítica imbuída à agitação e à falta de concentração dos jovens por causa de seus cérebros digitais), reconectar-se com suas raízes e encontrar seu amor romântico (par com Dô, o ator Rafael Gevú), seu caminho, e seu Cavalo Sucesso.
A descoberta do passado de sua avó Laura (que será premiada na cidade – a atriz Regina Sampaio), sua prima Rita “invejosa” (que a “odeia” – a atriz Bárbara Maia – uma “Vlog influente que relata os fatos”), a incompatibilidade da volta, tudo é unido nesta jornada aventura de auto-ajuda à simplicidade humanizada do recomeçar. “Gaby Estrella” tenta de tudo para subir seus números. Até mesmo um Reality Show dela no interior, “Vida na Fazenda”. Uma bagunça que dá certo (“Bagunçada não, estilo”). É um filme despretensioso, de diversão livre e simples. Com sapos, cabras, emoção dramatizada, músicas sentimentais e desventuras em série. A mensagem que se deseja passar é uma crítica à futilidade. É buscar a felicidade nas pequenas coisas a la “O Pequeno Príncipe”.
Então, com digressões, sequestro, resgates, redenções, reconstituições, lembranças, núcleos corais, o filme atende ao intrínseco propósito, que é divertir por típicas características de seu público. É um filme sobre a descoberta da vida em prol de “um milhão de curtidas-seguidores”. Em “O Rei do Show”, de Michael Gracey, uma das personagens diz que o mais importante é ter o sucesso de poucas pessoas: a família.