Frances Ha
A Construção Monocromática de Uma Limitação Espacial
Por Fabricio Duque
É quase obrigatório quando se analisa o filme “Frances Ha”, traçar opiniões começando-se pelo fim, porque é neste momento, que concluímos a experiência como um todo, e também compreendemos que o título representa a metáfora do existencialismo-pop moderno. O indivíduo que precisa se adequar ao espaço geográfico, limitando a expansão das vivências possíveis que a vida fornece. O longa-metragem é fotografado em preto-e-branco e busca a naturalidade realista como fio condutor, podendo-se referenciar à estrutura dos filmes de Woody Allen (principalmente “Manhattan”); “O Balconista”, de Kevin Smith; “Acossado”, de Jean-Luc Godard, e “Beijos Proibidos”, de François Truffaut (por causa do segmento Paris); dos filmes dos Irmãos Coen (principalmente o último “Inside Llewyn Davis”); de “Nebraska”, novo filme de Alexander Payne (exibido no Festival de Cannes 2013); “(500) Dias Com Ela”, de Marc Webb, entre outros abordados nos diálogos.
A narrativa-verborragia não apresenta clichês, afetações, gatilhos comuns, apenas um retrato crível das idiossincrasias aceitáveis de uma amizade que sobrevive a altos e baixos. O filme é a transposição do processo da maturidade. De alguém que com vinte e sete anos “está velha”, ideia que traduz fielmente o senso comum de hoje em dia. Assim, a atmosfera caminha na linha tênue entre inúmeras camadas de estados temporais. Não se data o instante, nem a época, mas se insere uma nostalgia contemporânea que gera uma melancolia otimista de que é possível se chegar a algum lugar. O espectador sinestesia a cumplicidade dos personagens, embarcando nas picardias, surtos, manias e defesas pessoais (que se utiliza da proteção de crença no próprio ser para se comportar “dignamente” no estar de um convívio social perdido e desalinhado). É um pequeno grande filme com tempo certo e com a acertada escalação do elenco.
A personagem personifica a “alma” de jovens comuns que procuram o equilíbrio profissional, familiar, amoroso (tanto namorados quanto amigos). Ela batalha pelo seu lugar ao sol e tenta arduamente viver do dom passional, impulsivo e libertador que acha que tem. Então, experiências obrigatórias e necessárias são geradas para que se possa corroborar a tranquilidade da própria mente (como a viagem a Paris; o alojamento; a constante troca de “casas”). A protagonista apenas deseja mudar o estágio “inacessível” em que se encontra.
Ela quer estabilizar, enquadrar o futuro, talvez pela massificação social (principalmente dos amigos) de que é preciso assentar a vida, crescer, deixar a brincadeira “para depois” e instaurar a seriedade (por conta do “aluguel” de um apartamento que não cabe seu nome todo). É a sua trajetória. É o futuro ofertado. É a “adequação”. Então, não há mais espaço para comportamentos infantis de melodramas, tampouco estágios vitimados. São tentativas de acertos e erros, dialogando com o acaso, tentando ganhar vitórias pela positividade otimista e, por incrível que pareça, pelo foco exato de conhecimento do que se quer realmente e do que precisa ser feito.
Esta lógica crescente é transposta pela montagem de “Frances Ha”, que não permite que se perceba o início e o final da ação. Os cortes são bruscos, com ou sem indicações musicadas, e expressam que não há tempo a perder (sofrendo e ou se lamentando). O diretor americano Noah Baumbach (de “A Lula e a Baleia”, “Margot e o Casamento”, “O Solteirão – Greenberg” – este com Ben Stiller), e que também roteirizou “O Fantástico Sr. Raposo” e “A Vida Marinha com Steve Zissou”, de Wes Anderson, chama Greta Gerwig (de “Para Roma Com Amor”, “Sexo Sem Compromisso”, “Arthur, o Milionário Irresistível”) para atuar como protagonista e para ajuda-lo no roteiro. Ela buscou inspiração na sua própria experiência e na vida dos seus amigos artistas que vivem em Nova York.
Além desta cidade, “Frances Ha” foi rodado em Sacramento, lugar que Greta cresceu. Inclusive, sua família participa desta “comédia dramática”. Concluindo, uma pequena obra de arte despretensiosa, autoral, natural, realista, cotidiana, não afetada, e que tem um único contra: possui a duração curta demais. São apenas oitenta e seis minutos. O espectador sai do cinema com o “gostinho” de quero mais. Outro ponto positivo. Portanto, um longa-metragem de cotação máxima. Competente por excelência. Frances (Greta Gerwig) mora em Nova York, mas na verdade ela não tem um apartamento. Frances é aluna numa companhia de dança, mas não é de fato uma bailarina. Frances tem uma melhor amiga chamada Sophie, mas na verdade elas não estão se falando mais. Frances se joga de cabeça em seus sonhos, mesmo que a possibilidade de realização seja pequena.