Por Fabricio Duque
“A Floresta Que Se Move” representa o mais recente filme de Vinicius Coimbra (de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”), e que concorre ao Troféu Redentor no Festival do Rio 2015. O longa-metragem busca “abrigo” na paixão “obsessiva” que o diretor tem por William Shakespeare e no desejo de realizar projetos mais “autorais, que fogem das comédias que são feitas no Brasil”, disse Vinicius na apresentação de gala. Contudo, não há como desvincular seu filme da estrutura comercial padronizada-cinematográfica, visto a necessidade de adequação às regras impositivas deste mercado. Assim, essa “autoralidade” é limitada, e clichês e gatilhos comuns são inquestionáveis e reverberados. A estrutura novelesca de facilidade palatável (baseada livremente em “Macbeth”); a trilha sonora melodramática que manipula a emoção; e os diálogos anti-naturalistas (forçados, de efeito, excessivamente explicativos em todos os detalhes e incompatíveis entre rebuscamento versus tentativas “desastrosas” de naturalidade – com exceção é claro aos policiais, que literalmente “roubam” as cenas) “ganham” a atenção propriamente dita, que se “desvirtua” pela competência da câmera de aura misteriosa que flui com uma sóbria leveza (e causa tensão), porém cujo elemento técnico não sustenta o contexto. E ou a frase “Ser natural é um privilégio dos macacos e dos javalis”. “O belo é feio e o feio é belo”; e ou “Uma pessoa que não se emociona com musica é capaz de fazer qualquer coisa”; e ou a bordadeira “profetiza” (“Destino? Tudo escrito?”); e ou as liberdades poéticas das reviravoltas; e ou a metáfora com as “gavetas”; e ou “fantasmas com o pescoço degolado”; e ou a bala da arma a La “Matrix”; e ou a artificialidade empregada (na qual “vemos” a interpretação); e ou a “coroa” em jóia; e ou “sangue pede sangue”; e ou “o rei do cangaço”, enfim, tudo é buscado a fim de construir a ambiência existencial do universo shakespeariano (que tem como características o anti-naturalismo de poesia dramática e a tradução dos sentimentos da alma humana – como a ambição, coragem, culpa, cobiça, orgulho, inveja – que levam a loucura catártica e sem volta). Talvez, “A Floresta Que Se Move” queira buscar paralelos com o próprio discurso do filme que diz que “amadores não cumprem protocolos de um crime”. Talvez, alguns cineastas também não em relação a seus filmes, exagerando na simplicidade e esquecendo da máxima de que “o menos é mais”. A sinopse nos conta que Elias (o ator Gabriel Braga Nunes), um bem-sucedido executivo de um grande banco privado no Brasil, encontra uma misteriosa bordadeira, que se diz capaz de prever seu futuro e afirma que ele se tornará vice-presidente do banco naquele mesmo dia e, em breve, presidente. Elias conta à sua esposa, Clara (a atriz Ana Paula Arosio), que instigada pelas previsões, sugere a ele que convide o presidente do banco para um jantar na casa deles. A roda da fortuna é ativada e uma sequência de assassinatos é perpetrada pelo casal, deixando um rastro de sangue em seu caminho para o poder, tornando-os algozes e vítimas de seus próprios destinos. O curioso é que no Festival de Cannes 2015, “Macbeth”, de Justin Kurzel com Michael Fassbender e Marion Cotillard também obteve um resultado aquém do esperado. Será que este livro não favorece a cinematografia? Não podemos prevenir em futuros que virão, só que até agora, a resposta é não.