Curta Paranagua 2024

Crítica: Fala Sério, Mãe!

Graça, maturidade e nada de pastelonice

Bruno Mendes


Confesso ainda não ter lido nenhum dos livros dela, mas a autoridade da escritora Talita Rebouças é incontestável quando o assunto é adolescente. Responsável pela venda de milhares de exemplares de suas distintas obras, a autora é uma das raras estrelas literárias em um país que, infelizmente, tem pouco destaque quanto ao hábito da leitura da população. Desculpem-me o flerte com a caricatura, mas o universo teen é, em grande medida, colorido. E essa aquarela leve e divertida é ótima receita para um sucesso cinematográfico.

Adaptado do livro com o mesmo nome, o filme Fala Sério, Mãe! (dirigido por Pedro Vasconcelos, diretor de muitas novelas globais, e dos filmes “O Concurso”, e a nova versão de “Dona Flor e Seus Maridos”) aborda, nos seus minutos iniciais, a forma como Ângela Cristina (a atriz Ingrid Guimarães) lida com as desafiadoras e divertidas questões da maternidade, ao ver nascer duas filhas e um filho em curto espaço de tempo. Na segunda etapa, a trama confere ênfase na relação entre Ângela e a filha mais velha Maria de Lourdes(a atriz Larissa Manoela), já na adolescência. Acertando ao não desbancar para o humor físico/pastelonice e por investir nos diálogos como força motriz do humor, é impossível não se identificar com os “embates amorosos” entre ambas. Ponto para um conjunto de méritos.

Ainda que a apresentação de conflitos convencionais, dentro daquele contexto familiar, seja inevitável, a obra de Vasconcelos é honesta e eficaz ao manter o equilíbrio pelo trilho que se propôs a seguir do início ao fim. É fundamental pontuar o excelente trabalho da dupla de atrizes como uma das maiores qualidades da produção. A química estabelecida entre elas é incrível e mesmo em situações banais como naquelas preenchidas com diálogos sobre “medo de relâmpago” e “relato do primeiro beijo”, o espectador não deixa de captar a verossimilhança destes flagrantes tão comuns em relacionamentos entre mães e filhas.

Ao compor uma Maria de Lourdes inteligente, doce, inquieta e, fundamentalmente, verdadeira, a carismática Larissa Manoela mostra, ser mais que uma estrela do Instagram com milhares de seguidores. Entre os momentos cômicos e dramáticos, a atriz demonstra maturidade e equilíbrio na exposição dos sentimentos solicitados.
Seguindo os caminhos da boa performance, a experiente Ingrid Guimarães representa a figura materna que faz os filhos pagarem mico em quase todas as ocorrências do convívio. Capaz de falar pelos cotovelos até quando a situação pede sobriedade, Ângela é o retrato daquela mãe tão amorosa e preocupada com os filhos, que passa do riso, aos prantos e ao esporro em poucos segundos, por excesso de zelo, ansiedade? Vai saber….

O fato é que a atriz imprime essa gama de sentimentos à personagem sem torná-la caricata, utilizando a destreza de quem há anos também empresta o talento em contribuições artísticas no teatro e televisão. Graças ao roteiro assinado pela própria Ingrid, Dostoiewski Champagnatte, Paulo Cursino e com colaboração da autora Talita Rebouças, a obra mantém o foco na interação do núcleo principal, e os personagens secundários – amigas, paquera, outros irmãos e o pai – são aproveitados da maneira correta. Sem o excesso capaz de comprometer o ritmo, e tão pouco descartáveis. Resumindo: Há funções para todos em cena.

A maior parte dos caminhos percorridos por Fala Sério, Mãe! são cômicos, mas as curvas densas – inescapáveis no ‘mundo real’ – estão lá e descolorem parte daquela aura multicolor. Contudo, o bom humor e o otimismo prevalecem, afinal, as passagens chatas da vida servem a todos nós de aprendizado, confere? O filme é eficiente nestes aspectos mais sérios, mas as pinceladas melodramáticas são mais carregadas no último ato, algo que enfraquece o que vinha sendo bem dosado até então.

De todo modo Fala Sério, Mãe! é honesto (olha o reforço no adjetivo), despretensioso mas com certa profundidade e próximo do seu “público-alvo”, transmitindo mensagens edificantes (ok, isso pode ser meio piegas hora aqui, hora ali) em forma de boa comédia familiar. O ator Paulo Gustavo faz participação hilária e muito bem desenvolvida e existem momentos musicais que podem até emocionar alguns adolescentes, tão afeitos aos sons desta década.

Sim, é viável conceber um filme inteligente e ao mesmo tempo simples, família e “voltado ao grande público”. Ficar com medinho quando a mãe chega à casa e o namorado está lá, observar a mãe escolhendo roupas feias no supermercado, pedir para descer do carro a algumas quadras da escola por motivo de “prevenção de mico”. Algumas adolescentes devem estar pensando: quem nunca?

3 Nota do Crítico 5 1

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